Título: Resultado do PIB no quarto trimestre de 2004 deve mostrar desaceleração
Autor: Sergio Lamucci e Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2005, Brasil, p. A2

A economia brasileira segue em crescimento, mas o ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) está em desaceleração. O resultado do PIB no quarto trimestre de 2004 deve confirmar o avanço mais lento da atividade econômica, segundo analistas. A Tendências Consultoria Integrada estima que entre outubro e dezembro o PIB cresceu 0,6%, na comparação com os três meses anteriores, na série livre de influências sazonais. Isso equivale a uma taxa anualizada de 2,4%, bem abaixo da dos quatro trimestres anteriores quando a economia chegou a avançar a uma velocidade anualizada próxima a 8%, como nos últimos três meses de 2003 (ver tabela). A consultoria projeta expansão de 5,2% para o PIB no ano passado. Para o economista Juan Jensen, da Tendências, o que ocorreu nos últimos meses de 2004 foi uma desaceleração natural da economia, e não um efeito do ciclo de alta dos juros iniciado em setembro. A taxa Selic passou a aumentar, aliás, quando a atividade já estava perdendo força. O impacto mais forte da elevação dos juros vai se sentir no primeiro e no segundo trimestres deste ano, pois a política monetária demora de três a seis meses para começar a fazer efeito, diz ele. Na verdade, os analistas têm revisado para cima as projeções para o PIB no quarto trimestre do ano passado. Um dos principais motivos é que, em dezembro, indicadores antecedentes importantes, como a produção de veículos, a expedição de papelão ondulado e o fluxo de caminhões nas rodovias, tiveram bom desempenho. A expedição de papelão, por exemplo, aumentou 10,7% em relação a novembro, em termos dessazonalizados. Jensen, que previa estabilidade para o PIB no quarto trimestre, revisou sua estimativa para uma alta de 0,6%, a mesma do economista Bráulio Borges, da LCA Consultores. De qualquer maneira, seria uma queda em relação ao registrado no trimestre anterior. O IBGE divulga o número oficial em 1.º de março.

Para os dois analistas, a expectativa de que o desempenho em dezembro tenha sido bom não significa que a economia voltou a se expandir com mais força. Segundo Jensen, é provável que tenha havido um movimento mais intenso de recomposição de estoques, mas que não deve se traduzir em nova aceleração do nível de atividade. Apesar dessa provável melhora da indústria em dezembro, o economista Estevão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também não nega que no quarto trimestre a economia vem reduzindo seu ritmo de expansão desde outubro, como mostram números da indústria em novembro, quando houve queda de 0,4% na atividade industrial ante outubro, além da redução do expansão do comércio e retração da construção civil. "O crescimento deve continuar, mas as taxas devem ser bem inferiores às registradas entre março e agosto de 2004", diz Borges. Para Jensen, depois do forte crescimento registrado a partir do quarto trimestre de 2003, era de se esperar que a atividade perdesse velocidade, à medida que aumentasse a ocupação da capacidade instalada da indústria. Além disso, a demanda na economia, que estava muito reprimida até meados de 2003, aos poucos vai sendo saciada. Uma incógnita é saber como a atividade econômica vai reagir ao aumento da Selic, que subiu de 16% para 18,25% ao ano em cinco meses. Jensen avalia que, como o PIB já estava em desaceleração, todo esse aperto monetário não seria necessário. "Os custos da elevação da Selic parecem maiores que os benefícios." Já o economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, diz que o ritmo de expansão da economia era incompatível com as metas inflacionárias, o que levou o BC a agir. Para ele, se o Brasil crescesse mais de 5% em 2005, o teto do intervalo de tolerância da meta deste ano, de 7%, tenderia a ser superado. O BC, vale lembrar, persegue um alvo de 5,1% em 2005. Jensen e Borges afirmam que o efeito mais significativo da política monetária mais apertada vai ocorrer a partir dos próximos meses. Kopschitz, por sua vez, avalia que os aumentos contínuos da Selic já vêm colaborando para uma "meia trava na economia". Para ele, o impacto da alta continuada dos juros sobre o nível de atividade já está acontecendo. O rigor na política monetária não impede os analistas de preverem um crescimento razoável em 2005. Jensen, por exemplo, acabou de revisar sua projeção de 3,5% para 4%, mas principalmente devido à expectativa de um bom desempenho da indústria extrativa mineral, em função da aposta numa produção maior pela Petrobras. Salomon estima um crescimento de 3,7%. Ele diz que, se os juros continuarem a subir nos próximos meses, há um risco de que as expectativas mais otimistas dos agentes econômicos sejam contaminadas e o consumo seja afetado. Mas esse não lhe parece o quadro mais provável. A questão é que tudo vai depender de até onde vai o aperto monetário.