Título: Mas ninguém dura no cargo?
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 19/01/2011, Brasil, p. 10

Após mais uma sucessão de falhas envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio, presidente do Inep é exonerado. Ficou apenas um ano A responsabilidade por uma prova realizada por mais de 3 milhões de brasileiros ¿ o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ¿ ganhou um peso insuportável para Joaquim Soares Neto. Formado em física pela Universidade de Brasília (UnB) e com um currículo que inclui a direção geral do Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), Neto foi exonerado ontem do cargo de presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pelo exame.

À frente do Cespe, Neto organizou o Enem após o vazamento do exame, ocorrido em outubro de 2009. Logo depois, no mês de dezembro, deixou o centro de seleção para assumir a presidência do Inep, em razão do pedido de demissão do então presidente, Reynaldo Fernandes. Joaquim Soares Neto assumiu o cargo com a missão de recuperar a credibilidade do instituto, e pelo tempo que ficou à frente do Inep, parece não ter sido bem-sucedido: durou apenas um ano. Para completar, a saída ocorre após novas falhas no Enem e pelo desgaste nessa curta gestão ¿ já visível nas últimas aparições públicas do ex-presidente.

Sob seu comando, o Enem sofreu com erros básicos, como a inversão de cabeçalhos no caderno de respostas do exame, e a prova teve de ser reaplicada para 9.500 estudantes. Ontem, no dia da exoneração, o MEC teve ainda de explicar problemas na página de inscrição do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), utilizado por estudantes que fizeram o Enem para a inscrição em 83.125 vagas de instituições de ensino superior.

Para ocupar o lugar de Joaquim Soares Neto, foi nomeada Malvina Tânia Tuttman, ex-reitora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Há cerca de uma semana, Soares Neto conversou com o reitor da Universidade de Brasília (UnB), José Geraldo, e revelou o desejo de voltar à sala de aula: ¿Pelo que ele me disse, está voltando para exercer as funções docentes e de pesquisador. Ele deve se reapresentar à sua unidade de lotação, o Instituto de Física, e voltará a contribuir com a universidade.¿

A história bate com a justificativa oficial do MEC ¿ Neto teria pedido demissão em dezembro e em janeiro o pedido foi refeito ¿, mas não com o clima criado ainda no fim do ano passado quando, a amigos, o ex-presidente do Inep confidenciou que talvez fosse melhor reaplicar o exame que apresentou problemas e teve o tema da redação vazado. O ministro da Educação, Fernando Haddad, era contra, e prevaleceu a opinião do chefe.

Não à toa, Malvina Tuttman foi escolhida justamente pelo alinhamento com as políticas apresentadas por Haddad ainda no governo Lula. Em 2009, por exemplo, ela determinou que todas as vagas da UniRio fossem preenchidas pelos inscritos no Enem ¿ essa foi uma das primeiras adesões integrais ao modelo.

Ação civil A dificuldade em acessar a página do Sisu vem desde o último domingo, quando o site começou a apresentar demora para o carregamento da página e erro no reconhecimento de senhas. Dificuldades de acesso na noite da última segunda-feira e na manhã de ontem foram, inclusive, reconhecidas pelo MEC, que gerencia o sistema. A pasta informou que os erros ocorreram após a ¿manutenção extraordinária dos equipamentos da página de inscrição do Sisu¿. Ela foi realizada entre 19h30 e 20h do dia 17, quando estudantes acabaram redirecionados para páginas e dados aleatórios, conforme informou a própria assessoria do MEC. O problema voltou a ocorrer às 6h de ontem.

Apesar de o MEC afirmar que ¿em nenhum momento foi possível a troca de inscrição ou a manipulação dos dados dos estudantes¿, diversos alunos que acessaram a página reclamaram de ter tido inscrições canceladas ou até mesmo cursos alterados. O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União no Ceará entraram ontem com ações civis públicas contra o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificada.

Colaborou Débora Álvares

Caso afeta ProUni e Fies » Os problemas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que obrigaram o Ministério da Educação (MEC) a prorrogar as inscrições para a seleção até, pelo menos, amanhã, acabaram resultando em transtornos em outros programas do ministério. O ProUni, por exemplo, teve as inscrições adiadas para o período entre 21 e 25 de janeiro, assim como o Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), cujo cadastro deveria ter começado na segunda, mas só terá início dia 31 deste mês.