Título: Produção de vagões será 72% menor em 2007
Autor: Manechini , Guilherme
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2007, Empresas, p. B7

Nelson Branco, da Siemens, vê boas perspectivas no transporte de passageiros

A indústria ferroviária brasileira, que há anos convive com momentos de altos e baixos nos investimentos, encerrará o ano com uma queda de 72% na produção de vagões utilizados no transporte de cargas. No segmento de passageiros, no entanto, o cenário é mais favorável, mas extremamente dependente de grandes projetos.

O setor de cargas conta com os reflexos da forte produção ocorrida em 2005. Foi quando as vendas de vagões ultrapassaram as sete mil unidades, mais que o dobro da média considerada ideal pelos agentes do setor - de três mil por ano. Na época, a produção foi impactada por encomendas da Vale do Rio Doce e da MRS. Tratou-se de uma antecipação às safras e vendas recordes de grãos e minérios verificadas no período.

Já no ano passado, a indústria brasileira viu a produção cair pela metade, totalizando 3,6 mil unidades. Para 2008, a expectativa é de retornar ao patamar tido como "padrão", entre três e quatro mil vagões. Na opinião do presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Luis Cesário Amaro da Silveira, as perspectivas em torno das produções agrícola e de minério permitem vislumbrar um cenário mais favorável do que o verificado este ano, que deve encerrar com pouco mais de mil unidades. "Até 1996, fabricávamos menos de cem vagões por ano. As privatizações reascenderam o setor, mas ainda precisamos de muitos investimentos na malha ferroviária", diz.

O executivo cita o ingresso da Randon no setor ferroviário e a vinda de estrangeiros que realizam leasing de vagões como uma amostra do potencial do país. "Temos capacidade para fabricar 12 mil vagões." O leasing foi uma das bases de expansão da malha ferroviária americana. Ao repassar o gerenciamento das frotas, as concessionárias podem realizar maiores investimentos em locomotivas, terminais e linhas.

Apostando nisto, é que os grupos Global Railroad Leasing LLC e a ATT Centro-Oeste uniram-se para criar no país a Ferrolease, em 2002. Para o presidente da empresa, Estafano Vaine, é possível que o Brasil siga o mesmo caminho dos Estados Unidos na expansão das ferrovias. Em 2007, a empresa investiu R$ 10 milhões na compra de 35 vagões tanques para combustíveis.

No caso da Randon, a empresa enxergou um potencial de negócios, mas isto só foi possível porquê ela não depende da produção de vagões para sobreviver. "Nossa concorrência sofreu muito neste ano. Optamos por direcionar nossa produção para a parte rodoviária", diz o diretor industrial e de tecnologia da companhia, Cesar Santa Catarina. Segundo ele, a produção não ficará no zero em 2007, já que fechou recentemente a venda de vagões para a ALL.

A sensação de ausência de investimentos na malha ferroviária é constatada por grande parte do setor. E nem mesmo a divulgação do Plano Nacional de Logística & Transportes (PNLT), pelo Ministério dos Transportes, anima a indústria. Conforme o plano recomenda, nos próximos três anos os investimentos em ferrovias devem ser superiores a R$ 16,9 bilhões.

"Pequenos investimentos já dariam um imenso retorno", diz Vaine, ao relacionar os resultados do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) ao PNLT. Silveira, da Abifer, ressalta que, além dos vagões, o Brasil é um pólo produtor de rodas, eixos, molas, truques, engates e componentes, que são exportados para todo o continente.

Contudo, o aceno de grandes investimentos é bem visto pelas empresas que atendem o transporte de passageiros. Nelson Branco Marchetti, diretor da área de transportes da Siemens, acredita no aquecimento do setor, principalmente, por causa dos planos de investimentos dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. "O projeto paulista engloba todas as áreas do setor metro-ferroviário. Reformas, sinalização, aquisição de infra-estrutura elétrica e carros novos estão contemplados", diz. O plano de transportes de São Paulo prevê investimentos de R$ 16 bilhões.