Título: Injeção de liquidez soma US$ 3,2 tri
Autor: Lucchesi , Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 24/09/2007, Finanças, p. C1

Os bancos centrais dos Estados Unidos e Europa já injetaram um total de mais de US$ 3,2 trilhões nos mercados monetários entre os dias 27 de julho até o dia 12 de setembro, como uma forma de aliviar os sintomas da aguda crise de crédito nos mercados financeiros internacionais. As estimativas são de Luciano Ribeiro Sobral e Andre Loes, economistas do Banco Santander.

Loes, economista-chefe do Santander, explica que os valores não são líquidos, ou seja, não necessariamente permaneceram nos mercados. Muitos dos empréstimos feitos pelo Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fed, banco central americano, foram feitos no "overnight" - são operações de um dia que muitas vezes só estão rolando dívidas anteriores. Foram considerados os leilões normais, já previstos, e os leilões extraordinários. "Não dá para calcular o que efetivamente ficou no mercado em termos líquidos", explica Loes. Como garantia dos empréstimos dos BCs, são usados títulos públicos, mas cada vez mais têm sido aceito créditos de maior risco, como os créditos hipotecários.

Pelos números do Santander, o BCE injetou US$ 2,9 trilhões e o Fed, outros US$ 365 bilhões. Os leilões do Fed de US$ 65,25 bilhões na semana passada, que elevam o total a US$ 430,25 bilhões, não foram incluídos. Também não foram incluídas as atuações do Banco da Inglaterra, que já anunciou leilões de 10 bilhões de libras esterlinas, ou o equivalente a US$ 20,2 bilhões, por 90 dias para esta semana. Mervy King, o presidente do Banco da Inglaterra, até tentou ser mais duro. Vinha discordando do BCE e dizendo que as operações de 90 dias com hipotecas como garantia eram o equivalente a resgatar bancos que se arriscaram demais e a plantar "as sementes de uma futura crise financeira". Mas, voltou atrás, depois da quebra da financeira Northern Rock, com direito à corrida bancária, a primeira desde 1866 na Inglaterra, no final da semana retrasada.

Até mesmo o Banco do Japão teve de atuar durante a crise, com leilões de US$ 3,3 bilhões no dia 16 de agosto e de US$ 6,95 bilhões no dia 21 de agosto, ambos não incluídos nos números do Santander. O BC australiano fez leilões de US$ 4,4 bilhões.

"Os bancos centrais agiram rapidamente e trouxeram alívio ao mercado", disse ao Valor Raoul Weil, membro do conselho executivo do UBS e chairman e CEO das áreas de gerenciamento de fortunas global e de business banking. A redução nos juros básicos americanos pelo Fed, de 0,5 ponto percentual na semana passada, que surpreendeu o mercado, "estabilizou o sistema financeiro", segundo ele. Weil parabenizou também o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, que está considerando permitir que as empresas de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, que têm garantias do governo, comprem, empacotem e vendam empréstimos de valor elevado, que são conhecidos como "empréstimos-jumbo".

Segundo Weil, graças aos BCs e Tesouro dos países ricos, o mercado de papéis de crédito no curto prazo, os "commercial papers", "está melhorando". Só nas três semanas terminadas em 31 de agosto o recuo do estoque desses papéis foi de US$ 244 bilhões, ou de 11% do total, para US$ 1,98 trilhão. Parte dessa dívida não-rolada foi parar no balanço de bancos, que dão garantias para os papéis. Agora, segundo Weil, o mercado "está voltando à normalidade".

De acordo com ele, o sistema financeiro nos Estados Unidos e Europa está "robusto", pois os bancos têm bem mais diversificação de atividades do que há 20 anos. As perdas das instituições financeiras são gerenciáveis, segundo ele. "O patrimônio líquido de nenhuma instituição de maior porte foi afetado", disse, para completar "o problema é sério, pode ainda não ter acabado, mas os bancos podem perfeitamente lidar com ele".