Título: Cresce pressão pelo corte de juro na Europa
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Fonte: Valor Econômico, 24/09/2007, Finanças, p. C1

A forte desvalorização do dólar contra o euro - que atingiu um novo recorde na sexta-feira, a US$ 1,4119 - trouxe a expectativa de que o Banco Central da Europa (BCE) também tenha de reduzir seus juros de referência. Há quem não descarte uma redução de taxas também na Inglaterra. Na semana passada, por causa do corte de 0,5 ponto percentual, para 4,75% ao ano nas taxas básicas dos "fed funds", e de 0,5 ponto percentual, para 5,25%, nas taxas de redesconto, as duas nos Estados Unidos, o dólar perdeu nada menos do que 1,5% de seu valor contra o euro.

O presidente da França, Nicolas Sarkozy, chegou a pedir explicitamente que o corte de juros seja feito na Europa. Segundo o "Financial Times", Sarkozy afirmou que o BCE está permitindo que a economia "afunde", ao deixar a moeda européia se valorizar, tornando as exportações européias pouco competitivas.

Os temores de inflação maior nos Estados Unidos ainda não foram dissipados. Um dos riscos é que os estrangeiros detentores de mais de US$ 12 trilhões em dívidas do governo americano vendam seus papéis com medo de perdas reais. Uma redução nos fluxos de curto prazo já está se verificando.

O corte nos juros promovido pelo Fed, banco central dos Estados Unidos, trouxe euforia aos mercados, com uma semana forte de forte recuperação para as bolsas no mundo todo e de tombo nos prêmios de risco de crédito. O risco de comprar dívida corporativa nos EUA caiu no menor nível em dois meses, segundo a "Bloomberg", diante das especulações de que há demanda para os mais de US$ 320 bilhões em empréstimos pendentes para financiar aquisições alavancadas. Os contratos do índice LCDX, que contém o risco de crédito de 100 empresas de maior risco e retorno, subiu 0,2 ponto, para 97,4 ponto, seu maior nível desde 8 de julho, informa a Credit Derivatives Research, na Califórnia.

No Brasil, os mercados também reagiram com euforia. O Grupo Rede conseguiu colocar US$ 175 milhões em papéis perpétuos e a Satipel conseguiu captar R$ 398 milhões na Bolsa de Valores de São Paulo. Apesar das dificuldades - o Grupo Rede queria emitir até US$ 200 milhões e a Satipel lançou suas ações pelo preço mínimo sugerido -, esses podem ser os primeiros sinais de uma retomada nos negócios de captação por meio do mercado de capitais para as empresas brasileiras. O tombo no risco-Brasil na semana aponta na mesma direção.

No balanço de pagamentos brasileiro, os efeitos da crise já se fazem notar, segundo analisa o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. O investimento direto estrangeiro caiu dos US$ 10,3 bilhões em junho para US$ 3,6 bilhões em julho e para US$ 2 bilhões em agosto, diante de toda a incerteza, segundo os dados do Banco Central. Os investimentos em carteira - renda fixa e bolsa - foram obviamente os mais afetados, com uma queda dos US$ 6,5 bilhões de ingresso de recursos em julho para uma saída líquida de US$ 50 milhões em agosto. Com isso, o total de saldo positivo na conta de capitais caiu de US$ 11 bilhões em junho para US$ 7 bilhões em julho e US$ 1,2 bilhão em agosto.