Título: Empresários da UE e do Cone Sul pressionam para reativar negociação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2007, Brasil, p. A6

A frustração com o ritmo da negociação de um acordo de livre comércio entre a União Européia (UE) e Mercosul marcou a reunião anual do Fórum Empresarial dos dois blocos, encerrada ontem em Lisboa. Empresários presentes decidiram fazer mais pressão sobre os negociadores dos dois blocos, para que eles retomem a negociação. Além disso, os executivos vão monitorar o andamento de suas propostas, como facilitação de comércio, e se articular mais de uma vez por ano.

Mas o desinteresse europeu foi evidente desta vez. Ao contrário de anos anteriores, nenhum comissário participou do encontro organizado pelos empresários. O presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, estava na capital portuguesa, mas tampouco apareceu. O número de empresários europeus foi pequeno e com menor peso econômico e político.

A surpresa, por outro lado, foi a chegada em cima da hora de uma delegação da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), do Brasil, para mostrar que quer o acordo birregional o mais rápido possível.

"Há sensação de falta de interesse por parte da Europa pelo fato de os europeus estarem mais interessados em aprofundar relações com a Ásia", avalia Alfredo Valadão, professor da cátedra Mercosul no Instituto de Estudos Políticos de Paris e um dos debatedores em Lisboa. "'Tem a frustração com o estado da negociação birregional, o fato dela estar atrelada ao que acontecer na Rodada Doha e também a UE não tem número suficiente de negociadores para cuidar de todos os acordos comerciais ao mesmo tempo", acrescenta.

A cátedra Mercosul do Instituto de Estudos Políticos de Paris fez uma sugestão técnica que negociadores consideraram interessante: fazer um acordo de livre comércio com diferenças nos tempos de aplicação dos compromissos e nos produtos sensíveis para os quatro países do Mercosul. Isso é ainda mais importante porque participantes dizem ter constatado em Lisboa um "problema argentino". O secretário de Comércio Internacional, Alfredo Chiaradia, mostrou interesse em facilitação de comércio, mas em termos de acesso ao mercado só falou em "agricultura, agricultura, agricultura".

Além disso, segundo Valadão, pela sua abordagem, os argentinos deixaram clara a preocupação com a parceria estratégica UE-Brasil, temendo um acordo bilateral entre ambos. Os brasileiros negaram essa possibilidade. (AM)