Título: China contra-ataca e aponta defeitos de produtos dos EUA
Autor: Zamiska , Nicholas
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2007, Internacional, p. A13

O governo chinês, que luta contra uma série de críticas sobre a segurança dos produtos exportados pelo país, resolveu partir para o ataque e criticar certos produtos enviados para a China por algumas das maiores empresas americanas.

Em entrevista ao "Wall Street Journal", Li Changjiang - maior autoridade de controle de qualidade da China e chefe do serviço de inspeção do governo que tem com 30 mil funcionários - apresentou uma lista de defeitos e perigos que, segundo ele, apareceram em produtos enviados por empresas americanas.

Esses produtos incluem turbinas da General Electric, máquinas de ultra-som da unidade americana da holandesa Philips e máquinas agrícolas da Deere & Co. Entre os problemas apontados por Li estão aparelhos de marca-passo mal rotulados, problemas em motores, maçãs produzidas no Estado de Washington com excesso de pesticidas e até pombos-correios infestados com doenças.

Em alguns casos, as empresas envolvidas já haviam reconhecido e respondido às queixas da China quanto aos itens.

De janeiro a julho, por exemplo, os Estados Unidos exportaram 267.300 carregamentos com produtos no valor de US$ 18,7 bilhões para a China, diz Li, que dirige a Administração Geral de Qualidade, Supervisão, Inspeção e Quarentena. Desses carregamentos, os representantes de controle de qualidade chineses encontraram algum tipo de problema com 4.845 carregamentos, ou 1,8% do total, segundo Li.

Recentemente, a China marcou um golaço de relações públicas quando um executivo sênior da gigante de brinquedos americana Mattel pediu desculpas pessoalmente a Li pelo recall de milhões de brinquedos fabricados na China, dizendo que os erros de projeto da própria empresa foram responsáveis por seu maior recall, com 18 milhões de brinquedos contendo ímãs potencialmente perigosos.

O jornal estatal "China Daily" publicou um editorial no dia 24 intitulado "Até que enfim, um pedido de desculpas".

Na sede da agência, em Pequim, Li forneceu ao "Wall Street Journal" uma lista de cerca de uma dúzia de exportações americanas que foram confiscadas pelos representantes chineses por causa de problemas de qualidade nos últimos 12 meses. "Eu acho que, honestamente, tanto empresas de exportação chinesas quanto empresas de importação americanas carregam responsabilidades", disse ele.

No início do ano, por exemplo, inspetores chineses de controle de qualidade descobriram um virabrequim quebrado numa colheitadeira de algodão importada fabricada pela Deere, de acordo com Li. Uma inspeção feita por sua agência atribuiu o problema, no modelo número 9.970, a um defeito de projeto. No final das contas, a Deere concordou em trocar as peças em todas as 100 máquinas de colher algodão, no valor de US$ 17,9 milhões, que foram enviadas para a China.

Ken Golden, um porta-voz da Deere, disse que a empresa reconheceu um "problema de qualidade" num modelo específico de motor que foi usado nas 100 colheitadeiras de algodão entregues para a China. O problema tinha o potencial de afetar o virabrequim, embora a Deere tenha sido informada que somente uma máquina na verdade quebrou, disse ele. "Esse não foi um problema de segurança", disse, "e em nenhum momento o defeito colocou em risco os usuários do equipamento."

Em fevereiro de 2006, o governo chinês disse que fiscais encontraram um lote de equipamentos de ultra-som fabricados por uma subsidiária americana da Philips em que o interruptor tinha "o risco de choque elétrico". O carregamento foi impedido de entrar na China, de acordo com o governo. Em dezembro, um hospital na província de Fujian importou o mesmo produto e encontrou problemas no software. Ele retornou o equipamento de ultra-som para os EUA em maio passado.

Ian Race, um porta-voz da filial americana da Philips, disse que sua empresa não tinha nenhum registro do incidente de fevereiro de 2006 que envolveu os interruptores supostamente defeituosos. Race disse que houve uma unidade de ultra-som que foi substituída no Hospital Provincial de Fujian por causa de um cabo defeituoso que fazia uma tela de erro aparecer ocasionalmente no monitor da máquina. "Esse é um problema menor e de modo algum tem impacto sobre a segurança dos usuários ou pacientes", disse Race, acrescentando que a empresa substituiu a máquina.

Em março de 2006, um hospital de Xangai começou a ter "problemas freqüentes" com uma unidade de raio-X fabricada pela General Electric. "A somente um ano da instalação desse equipamento", diz o documento fornecido por Li, "houve 22 consertos pós-venda, entre eles 10 reparos emergenciais feitos no local".

O porta-voz da GE, Peter O'Toole, disse que há 459 máquinas de raio-X instaladas no mundo, 81 delas na China. O'Toole disse que a máquina vem "funcionando dentro do esperado" desde março e está sendo usada para tirar raio-X de até 200 pacientes por dia.

(Colaboraram Kathryn Kranhold, de Nova York, e Sue Feng, de Pequim)