Título: Seguradoras vão atrás de R$ 4 bilhões
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2007, Finanças, p. C1

Emissão de ações, retenção de lucros e recursos trazidos da matriz no exterior. As seguradoras brasileiras estão correndo contra o tempo para se adequarem às novas regras de solvência da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que começam a valer a partir de janeiro. Os especialistas estimam, como base em números de dezembro de 2006, que as seguradoras vão precisar de quase R$ 4 bilhões em capital extra para se adequarem.

As novas regras da Susep seguem o modelo implantado na Europa e vão exigir mais capital conforme o risco que a seguradora assume e a região onde atua - sistema que lembra o que vem sendo adotado nos bancos pelo Banco Central. O capital mínimo necessário para se operar em todo o Brasil dobrou, passando para R$ 15 milhões. Além disso, conforme o ramo de atuação da seguradora, mais capital será exigido. Pelas regras atuais, a seguradora precisava colocar nas reservas 20% dos prêmios retidos nos últimos 12 meses. Agora, esse percentual quase dobrou e subiu para 38,7%.

No mercado segurador, as empresas já começaram a se mexer. Umas seguradoras serão mais afetadas que outras, por causa dos ramos de operação e da atuação geográfica. A espanhola Mapfre foi uma das primeiras a se movimentar. Por meio de dois aportes da matriz em Madri - um de R$ 307 milhões e outro de R$ 214 milhões -, conseguiu se adequar. "Agora podemos nos concentrar no crescimento da companhia", afirma o presidente da seguradora, Antonio Cássio dos Santos.

A Chubb avalia que vai precisar de bem menos que a Mapfre. Pelos números de agora, precisaria de algo entre R$ 11 milhões e R$ 15 milhões para a adequação, informa seu presidente, Acacio Queiroz. O dinheiro provavelmente deve vir da matriz. No ano passado, a americana já mandou R$ 40 milhões por causa do forte crescimento dos negócios aqui. Em dois anos, os prêmios da Chubb cresceram 140%. "O novo modelo da Susep coloca o Brasil em pé de igualdade com os países desenvolvidos", afirma Queiroz.

A Coface, especializada no seguro d e crédito interno, também recorreu à matriz na França, que fez aporte de R$ 10 milhões. "Esse recurso vai fortalecer as nossas bases de atuação no país", afirma Fernando Blanco. A meta é crescer 25% ao ano nos próximos cinco anos. A idéia da Coface é ser cada vez mais conhecida como uma empresa de prestação de serviços financeiros.

Há ainda as seguradoras que recorreram a emissões de ações. A SulAmérica foi a primeira e estreou na bolsa no último dia 5. Captou R$ 775 milhões, incluindo a venda de ações extras. A próxima é a Marítima, que pode capar R$ 400 milhões. O conselho da Minas Brasil já aprovou um lançamento de ações, que pode levar o capital da empresa para R$ 800 milhões.

Juntas, as operações das três empresas vão ultrapassar os R$ 2 bilhões. Executivos de bancos de investimento afirmam que mais cinco seguradoras estão em fase adiantada para abertura de capital e devem vir a mercado já nas próximas semanas.

Outra estratégia das seguradoras para se capitalizarem é a utilização dos próprios resultados. A Caixa Seguros e a J. Malucelli estão neste grupo. "Os resultados foram investidos na própria companhia e estamos até com uma folga de capital", informa o executivo Sílvio Honda, da seguradora paranaense, que é a líder no mercado de seguro garantia (que garante o cumprimento de contratos).

Com atuação no mesmo ramo, a UBF Seguros também se diz enquadrada. "Mas em termos do mercado, é preciso avaliar se a necessidade de capital maior não vai inviabilizar a operação da seguradora", afirma seu presidente Luiz Roberto Paes Foz.

Na AGF, capital extra só virá se os planos de expansão da empresa alemã para o país se concretizarem. Pelos números atuais, está praticamente enquadrada. "Se houver necessidade de recursos, vai ser por crescimento da produção", afirma Arlindo Simões Filho, diretor de Produtos da AGF.