Título: Fed cortou o juro para evitar efeitos adversos dos problemas no crédito
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Fonte: Valor Econômico, 10/10/2007, financeiro, p. C2

Todos os membros do comitê do Federal Reserve (Fed, banco central americano) que define o juro dos Estados Unidos concordaram que um corte de 0,50 ponto percentual era necessário para proteger a economia dos problemas de crédito e de uma intensificação da crise imobiliária, mostrou a ata da reunião de 18 de setembro. "Para ajudar a evitar alguns dos efeitos adversos na economia que de outra forma poderiam aparecer, todos os membros concordaram que um corte de 0,50 ponto era a medida mais prudente", mostrou a ata, divulgada ontem.

Os participantes do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) membros do Fed consideraram que a redução do juro básico poderia ajudar a contrabalançar os efeitos sobre a economia do aperto nas condições financeiras. Na reunião do mês passado, o Fed cortou o juro básico de 5,25% para 4,75% ao ano, surpreendendo boa parte do mercado que esperava uma redução mais modesta.

A ata mostrou que, à ocasião, o Fed viu a situação econômica repleta de incerteza. Os formuladores de política monetária acreditaram que os riscos estavam pendentes para uma desaceleração da atividade, mas também notaram que em outros momentos a economia enfrentou problemas financeiros com efeitos adversos apenas limitados. Ao mesmo tempo, o Fed avaliou que o crédito mais apertado poderia restringir o crescimento e mostrou preocupação de que qualquer problema adicional pudesse intensificar os riscos.

Alguns participantes do Fed apontaram preocupação de que o menor crescimento da economia poderia resultar em situação mais estreita de crédito, o que por sua vez reforçaria a perda de dinamismo econômico. "Mas os participantes também notaram que a força e flexibilidade da economia americana em outros períodos de instabilidade nos mercados deixam em aberto a possibilidade de que os efeitos macroeconômicos de turbulências financeiras podem se mostrar limitados."

Apesar de seguir indicando crescimento moderado para o Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, o Fed reduziu sua previsão de crescimento para os últimos três meses de 2007, assumindo que a turbulência financeira imporia restrições à atividade econômica nos próximos meses. A estimativa de crescimento para 2008 também foi reduzida e há perspectiva de maior desemprego. "Além disso, menor renda advinda do segmento imobiliário, menor crescimento do emprego e renda e reduzida confiança devem conter os gastos do consumidor em 2008."

Nas considerações sobre a inflação, antigo foco do BC americano, fica evidente menor preocupação com o comportamento dos preços. "Com o crescimento econômico ficando abaixo do potencial por algum tempo e com os dados inflacionários positivos, o afrouxamento da política monetária não deve afetar adversamente as perspectivas de inflação", indica a ata.

O documento indica que as últimas leituras referentes à inflação ao consumidor, que vieram apontando para baixo, aliadas uma menor utilização da capacidade das empresas, resultaram em revisão na previsão de preços, mais especificamente para o índice de preços relacionado ao gasto do consumidor (PCE, na sigla em inglês). "A inflação medida pelo PCE, que foi impulsionada para cima pela alta nos preços dos alimentos e da energia no início desde ano, deve perder força em 2008 e 2009."

A ata aponta que o Fed estava atento aos problemas. Em encontros antes da reunião oficial, os membros do comitê discutiram as condições do mercado e possíveis ferramentas de política monetária para conter a restrição de liquidez.