Título: Empresário está impaciente, diz Lafer
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2005, Brasil, p. A4

O ex-ministro Celso Lafer e as outras sete personalidades que formam um "comitê de sábios" vão debater hoje sua proposta de reforma da Organização Mundial de Comércio (OMC) com os 148 países membros. Lafer salientará a importância de reforço do sistema multilateral para os interesses comerciais do Brasil. Sobre a política comercial do governo Lula, ele deixa claro que os empresários estão perdendo a paciência com perdas de oportunidades por causa de bloqueios em negociações com os EUA e a União Européia. Valor: Esse relatório sobre o futuro da OMC não é uma distração neste momento, em que estão no centro da agenda a escolha de um novo diretor-geral e o avanço da Rodada de Doha? Celso Lafer: O relatório é sobre o futuro da OMC, vai além da agenda do dia-a-dia. Não é para ser posto em prática imediatamente. O documento é um pouco o legado que o atual diretor, Supachai Panitchpakdi, quer deixar. Tratamos por exemplo da crítica à globalização. Constatamos que a abertura do comércio favorece o crescimento. Valor: O estado atual da OMC ameaça interesses do Brasil? Lafer: O perigo é o não funcionamento, uma crise do sistema multilateral de comércio. Como pequeno global player, com comércio diversificado, o Brasil tem todo interesse que o sistema de regras funcione bem. O relatório, ao defender isso, é compatível com o interesse brasileiro. Valor: Qual é a sua avaliação sobre a atuação do governo brasileiro na OMC? Lafer: Tenho sido bastante crítico do governo e da condução de sua política externa. Mas não tenho divergências com o que estão fazendo na OMC. O G-20 foi uma iniciativa importante. Valor: A atual política comercial brasileira está aproveitando ou perdendo oportunidades? Lafer: Está perdendo. Quando fui ministro das Relações Exteriores, procurei ter entrosamento grande com o setor empresarial. Esse entrosamento diminuiu sensivelmente. Tem-se dado menos importância ao relacionamento com os Estados Unidos e a União Européia. As motivações são mais ideológicas que efetivas. Valor: O empresariado está impaciente? Lafer: Sim. A política externa em geral tem sido bastante criticada e essa crítica exprime essa avaliação de muita conversa e pouco resultado efetivo. (AM)