Título: Público masculino jovem precisa de ajuda no mercado de trabalho, diz Ipea
Autor: Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2007, Brasil, p. A2

José Cruz/ABr Márcio Pochmann: "A lei não é um condicionante para o emprego" Uma análise preliminar feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), relativa a 2006, mostrou a necessidade de serem desenvolvidas políticas públicas com o objetivo de melhorar o desempenho dos jovens do sexo masculino no mercado de trabalho. Esta é uma das conclusões a que chegou Márcio Pochmann, presidente do Ipea, a partir do trabalho Primeiras Análises da PNAD 2006, divulgado ontem.

Pochmann argumentou que a participação das mulheres no mercado de trabalho era de aproximadamente um terço em 1980, mas saltou para 52,6% no ano passado. Essa tendência de ocupação feminina vai continuar, segundo o Ipea.

Além disso, a tecnologia reduziu a ênfase da força física no trabalho e as mulheres têm, tradicionalmente, melhor desempenho na escola que os homens. Daí a necessidade de políticas públicas voltadas para o grupo que mais vem perdendo espaço: jovens do sexo masculino.

Analisando a renda dos brasileiros a partir dos dados da PNAD 2006, o presidente do Ipea afirmou que diminuiu a desigualdade na renda do trabalho. O estudo do Ipea citou a variação do Índice de Gini, que estabelece relação entre o que seria uma perfeita distribuição de renda e o que há na realidade. Quanto menor a desigualdade, menor o índice. No Brasil, ele passou de 0,593 (2001) para 0,559 (2006).

O presidente do Ipea também afirmou que o aumento do emprego com carteira assinada vem derrubando a tese de que a legislação trabalhista é um forte obstáculo à formalização. "A lei não é um condicionante para o emprego", disse.

Os dados da PNAD 2006 revelaram que o grau de informalidade reduziu-se de 56,4% do total de trabalhadores ocupados, em 2005, para 55,1%. Nesse cenário, o setor privado vem contratando mais pessoas com carteira assinada. Em 2001, o emprego formal tinha participação de 29,4% dos ocupados. No ano passado, essa parcela subiu para 31,7%, o que significa inclusão de aproximadamente 6 milhões de pessoas.

O Ipea também criticou o conceito de informalidade adotado pelo IBGE para a apuração da PNAD. Pochmann afirmou que não ter carteira assinada não é um bom conceito porque exclui os que são associados a cooperativas, os autônomos, os que trabalham por conta própria e os profissionais que atuam como pessoas jurídicas.

Outro ponto comentado por Pochmann foi a relação entre escolaridade e qualidade do trabalho. Na sua avaliação, os ocupados têm mais escolaridade, mas o fato é que o emprego que tem sido criado no país é de baixa qualidade. "Temos muita gente disponível para as vagas, o que acaba elevando a exigência dos empregadores. A qualidade do trabalho tem relação com o tipo de emprego que é criado."

Segundo o estudo de Pochmann, o Brasil pode ter, em 2010, metade do desemprego que existe atualmente. Ele relacionou diretamente o aumento da produção e o crescimento do trabalho. "Se o Produto Interno Bruto crescer a uma taxa de 5% nesse período, o desemprego pode cair a 4,2%", comentou.