Título: OHL vence leilão de rodovias federais e encosta na CCR
Autor: Nakamura , Patrícia
Fonte: Valor Econômico, 10/10/2007, Empresas, p. B10

A concessionária de rodovias OHL Brasil foi a grande vencedora do leilão de privatização de sete rodovias federais realizado ontem na Bolsa de Valores de São Paulo e se consolidou como a segunda maior administradora de estradas privadas no país, encostando na líder CCR. A companhia, subsidiária do grupo espanhol OHL, conquistou o direito de explorar por 25 anos mais de 2 mil quilômetros de rodovias federais nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais se comprometendo a cobrar pedágios até 65% mais baratos que o preço máximo definido pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Em contra partida, a companhia terá que fazer investimentos da ordem de R$ 16,7 bilhões ao longo das próximas duas décadas e meia, uma média de R$ 668 milhões ao ano, nos cinco lotes que arrematou no leilão de ontem.

O resultado surpreendeu o mercado e quase todos os 29 grupos que participaram da disputa. Dos sete lotes licitados, apenas dois não ficaram com o grupo espanhol. A BR Vias (consórcio formado pela empresa de telecomunicações Splice, a Áurea - dos controladores da Gol Linhas Aéreas - e construtora WTorre), uma das apostas do mercado para abocanhar vários trechos, saiu apenas com o lote, que cruza o interior paulista. Outra espanhola, a Acciona (que abandonou o consórcio BR Vias) ficou com a BR-393, que liga a divisa do Rio de janeiro a Minas Gerais. Empresas que eram cotadas como forte candidatas, como a CCR, a Odebrecht e a Bertin, saíram sem nada do leilão.

Entre os derrotados, as manifestações de incredulidade em relação às propostas e o deságio oferecidos pela espanhola cresciam a cada nova vitória. "Duvidosa, praticamente inexeqüível", brandiu um executivo financeiro de uma das companhias que participavam do processo. A CCR divulgou nota afirmando que suas propostas estavam no limite de sua capacidade para garantir os investimentos necessários e a rentabilidade dos seus acionistas.

A dúvida é em relação à capacidade da OHL em fazer investimento total de R$ 16,7 bilhões durante os 25 anos de concessões. Chamou a atenção da concorrência a ousadia do grupo: deságio de 65,42% sobre a tarifa máxima de pedágio, de R$ 2,884, para a BR -381, que liga São Paulo a Minas Gerais. Os demais lances também eram muito inferiores em comparação aos dos demais competidores.

José Carlos Ferreira de Oliveira, presidente da OHL Brasil, rebateu às críticas com uma frieza nada ibérica. "Fizemos estudos econômicos factíveis, pensando na remuneração dos acionistas e levando em consideração as estimativas do aumento do fluxo nos próximos anos." Nos primeiros seis meses, período da realização das obras iniciais, cada trecho deverá receber injeções de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões.

Os recursos serão provenientes do próprio caixa da empresa no Brasil e de uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que poderá cobrir até 70% dos investimentos. De acordo com o vice-presidente da OHL Brasil, Felipe Ezequerra, não haverá injeção de recursos da matriz espanhola. Segundo ele, a posição financeira da companhia é confortável e a capacidade de endividamento pode chegar até uma ordem de três a quatro vezes a geração operacional de caixa, que no primeiro semestre foi de R$ 176 milhões. "Não há nada previsto, mas se necessário também poderemos captar recursos no mercado acionário."

Dos 2,6 mil quilômetros em disputa no leilão, a empresa abocanhou 2078 quilômetros, incluindo trechos importantes, como o que liga Belo Horizonte a Florianópolis (Fernão Dias, Régis Bittencourt e a Rodovia do Mercosul) que equivalem a 1,3 mil quilômetros e que deve contar com 19 praças de pedágio.

Com os preços propostos pela companhia espanhola, o motorista terá que desembolsar valores muito inferiores aos praticados hoje na maior parte das rodovias pedagiadas no Brasil. Para ir de São Paulo à capital mineira, por exemplo, o motorista vai gastar R$ 8,00. Entre São Paulo e Curitiba, o valor a ser pago nos pedágios será inferior a R$ 7,00.

Ao sagrar-se vencedora do leilão, a extensão de vias controladas pela OHL salta de 1147 quilômetros (concentradas em São Paulo) para 3225 quilômetros, encostando na CCR, maior empresa do setor. De acordo com Oliveira, a OHL não descarta participar de outros leilões.

O resultado do leilão do lote 4 (no Rio de janeiro) vencido pelo Acciona, ainda está sub judice. A empresa garantiu o direito de participar do leilão por conta de um mandado de segurança. Ela fez proposta para cinco lotes. A companhia não teria enviado todos documentos de garantias que asseguravam sua participação no processo. Até o dia 19, a documentação será analisada pela CBLC.