Título: Nova central sindical nasce na oposição ao governo Lula e à CUT
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2005, Política, p. A5

O governo Lula ganhará mais oposição este mês: fruto do Conlutas, um movimento capitaneado em todo o país pelo PSTU, uma nova central sindical, de extrema esquerda, será lançada no dia 30, num evento paralelo ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. A nova central pretende ocupar o espaço que o PT teria deixado vago na esquerda desde que assumiu o poder em Brasília e passou a contrariar o ideário que defendeu durante 20 anos. A nova entidade é uma dissidência da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que apóia o governo. A nova central, cujo nome ainda não foi escolhido, quer ter representação trabalhista, estudantil e de outros segmentos da sociedade civil, anteriormente ligados ao PT. Nascerá com um tamanho considerável, pois já recebeu a adesão 100 sindicatos. Outros cem estão em processo de filiação, bem como cerca de 60 entidades sociais. O número de sindicatos ainda é modesto, se comparado aos 3.275 filiados à CUT, mas a nova central está nascendo com sindicatos fortes. Estão nesse grupo, por exemplo, grandes categorias, como as dos metalúrgicos de São José dos Campos (SP) e do Estado de Minas Gerais, dos auditores fiscais de todo o país (Unafisco), dos professores universitários de Santa Catarina, dos funcionários do Judiciário do Rio Grande do Sul, dos empregados da construção civil em Belém e Fortaleza, dos comerciários de Nova Iguaçu (RJ) e dos servidores federais de São Paulo. A inovação pretendida pela nova central é aliar representação sindical com outros movimentos sociais. "A idéia é criar uma central menos institucional que as atuais e com maior abrangência na sociedade", afirmou Zé Maria de Almeida, principal líder do Conlutas e ex-candidato à Presidência pelo PSTU. A expectativa é que a nova entidade ganhe uma capilaridade dificilmente obtida por outros movimentos sociais. "Temos que lembrar que mais da metade dos trabalhadores estão no mercado informal. Eles não têm representatividade sindical", observou Zé Maria. Ele também elegeu a questão da moradia, que vem ganhando força nos grandes centros urbanos mas que ainda não possui uma coordenação nacional, como outro foco da nova central. Zé Maria acredita que o processo para implantar a nova central consumirá um ano. Até o momento, o Conlutas está com a coordenação estruturada em dez Estados. Em outros dez, esse processo está em curso. "Estamos praticamente em todo o país", disse Zé Maria. Ele acredita que entre 2 mil e 2,5 mil pessoas participarão da primeira reunião nacional do Conlutas. O líder da nova central acredita que ela tem força para sobreviver graças ao descontentamento dos trabalhadores com o governo Lula. Como a CUT sempre foi considerada o braço sindical do PT, diversos sindicatos estão migrando para a nova central. A CUT, contudo, minimiza o movimento. "Essas pessoas que estão saindo da CUT sempre foram contrárias às decisões tomadas pela central", afirmou o presidente nacional da central, Luiz Marinho. Para ele, não há o risco de a CUT, a maior central do país, perder representatividade. "Na verdade, acho muito bom termos concorrência para mostrar o nosso diferencial." Marinho afirmou que a saída de alguns sindicatos retira uma discussão camuflada que sempre existiu dentro da CUT. "Eles usam o discurso de que somos próximos ao governo para se distanciar, mas na verdade o grupo que está saindo sempre foi ligado ao PSTU", explicou. Embora a CUT seja vista como muito próxima ao governo, Marinho sustenta que essa visão é equivocada. A luta pela correção da tabela do Imposto de Renda e o aumento do salário mínimo, por exemplo, é apontada, por ele, como exemplos de independência. Marinho negou que a ida de grandes sindicatos para o Conlutas esteja comprometendo as finanças da CUT. "Pouquíssimos sindicatos saíram e sempre houve muitos sindicatos inadimplentes. Nosso orçamento sempre foi apertado, mas nunca atrasamos salários", assegurou. Atualmente, a CUT possui 3.275 sindicatos filiados, 7,395 milhões de trabalhadores associados e base representada de 21,889 milhões de pessoas. Desde julho passado, perdeu 40 sindicatos, 43 mil associados e 500 mil trabalhadores na base. João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical, a segunda maior central do país, também desdenhou da criação da nova central. "Precisamos ver se eles conseguirão representatividade. Isso é o que importa", ponderou. Ele acredita que o movimento que ocorreu no ano passado, quando diversos sindicatos trocaram de centrais, ficará em compasso de espera até a conclusão da reforma sindical, que deve ir ao Congresso em fevereiro. A reforma forçará a criação de uma nova estrutura para o setor, reduzindo o número de centrais para apenas três. Hoje, existem 12 entidades que proclamam o título de central sindical, mas apenas seis - CUT, Força Sindical, CGT, CGT-B, CAT e SDS - possuem relevância nacional.