Título: Fora do ministério, Silas é mantido nos conselhos da Petrobras e de Itaipu
Autor: Santos , Chico ; Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2007, Política, p. A8

Apesar de ter deixado o ministério de Minas e Energia (MME) em maio e sob suspeita de aceitar suborno, o ex-ministro Silas Rondeau segue como membro dos conselhos de administração das estatais Petrobras e Itaipu Binacional, mesmo o ex-secretário do MME Nelson Hubner sendo o atual ministro interino. Na soma dos dois conselhos o ex-ministro ganha perto de R$ 17 mil por mês, 58% a mais do que seria hoje seu salário de ministro, R$ 10.748.

O salário bruto de conselheiro da Itaipu Binacional, segundo o Valor apurou, era de R$ 13.172 e foi recentemente reajustado em 3%, passando a ser de R$ 13.567. Na Petrobras, o Valor apurou que a remuneração mensal de conselheiro corresponde a um décimo do salário de um diretor da empresa, que seria hoje de aproximadamente R$ 34 mil, ou seja cerca de R$ 3.400. O conselho da Petrobras é presidido pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e tem nove membros.

Além de continuar até hoje como conselheiro das duas estatais do setor elétrico, Rondeau só deixou formalmente o conselho da Eletrobrás, empresa que ele presidiu e que também é ligada ao MME, em assembléia realizada no dia 16 de julho, 55 dias após sua saída do ministério, no dia 22 de maio deste ano. Procurada, Itaipu não se pronunciou. A Petrobras enviou a seguinte resposta: "Silas Rondeau é membro do Conselho de Administração da Petrobras eleito pela Assembléia Geral de Acionistas. A Assembléia é a única instância que pode destituir um membro do Conselho. Como integrante do Conselho Silas Rondeau continua cumprindo com os deveres e usufruindo dos direitos inerentes ao cargo."

Mesmo continuando conselheiro da Petrobras, o ex-ministro não compareceu a reuniões importantes, como a dos dias 2 e 3 de agosto, quando foi aprovada a compra da Suzano Petroquímica, um negócio de R$ 4,2 bilhões. A estatal não confirma nem desmente essa informação. Já em Itaipu, o ex-ministro tem comparecido normalmente às reuniões. A última foi no dia 28 de agosto, segundo o Valor apurou. No setor, o que se comenta é que a decisão de manter Rondeau no conselho das estatais reflete a intenção do governo de reconduzi-lo ao cargo.

O cargo que continua sendo ocupado por Rondeau na Petrobras e em Itaipu é reservado ao ministro de Minas e Energia. Questionado sobre as razões pelas quais o atual ministro não o substituiu nas duas empresas, como ocorreu, ainda que tardiamente, na Eletrobrás, o MME respondeu por intermédio da assessoria de imprensa: "A decisão de sair do governo foi dele. E como o ministro pediu para sair, e não havia nada provado contra ele, o governo decidiu mantê-lo pelos seus conhecimentos na área".

A informação é formalmente correta, mas não corresponde inteiramente aos fatos. Na realidade, Rondeau foi pressionado pelo governo a sair, como revelou o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva no programa "Café com o Presidente" do dia 28 de maio, segundo íntegra do programa transcrita pela Agência Brasil: "Veja, eu discuti com o Silas Rondeau, o afastamento dele era uma necessidade para que ele não ficasse sangrando a vida inteira, porque ninguém suporta ficar nas primeiras páginas de jornais o tempo inteiro. Até agora, não tem nada contra o Silas, a não ser suposições. Como eu acredito no processo de investigação, vamos investigar. Se tiver alguma coisa contra o ministro Silas, ele pagará pelo erro que cometeu. O que não dá, na verdade, é para a gente condenar as pessoas por insinuações ou ilações, seja de quem quer que seja".

O ex-ministro, afilhado político do senador José Sarney (PMDB-AP), renunciou em meio a acusações de que teria recebido propina de R$ 100 mil da empreiteira baiana Gautama. A acusação foi feita pela Polícia Federal na seqüência da "Operação Navalha" que prendeu várias pessoas, inclusive um ex-assessor de Rondeau, sob acusação de integrarem uma quadrilha que desviava recursos públicos. A acusação não está juridicamente comprovada.