Título: Lula e Chávez tentam reativar negociações bilaterais
Autor: Leo , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2007, Brasil, p. A3

O objetivo, explícito, é normalizar as relações entre os dois mandatários, que andaram estremecidas. No encontro com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, hoje, em Manaus, porém, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer obter do venezuelano o compromisso em tirar do limbo negociações bilaterais importantes, especialmente na área de energia, etanol e nas negociações para a entrada da Venezuela no Mercosul. Lula quer reativar o compromisso da estatal venezuelana PDVSA em comprar etanol da Petrobras. Quer, também, que a Venezuela informe o tamanho de suas reservas de gás, para que a Petrobras possa decidir sobre a parceria com a PDVSA no futuro Gasoduto do Sul.

Os dois presidentes deverão divulgar comunicado conjunto, cuja versão preliminar estava sendo discutida pelas diplomacias dos dois países, ontem à noite. Se dependesse apenas das expectativas no Planalto, o comunicado teria referências a futuro compromisso firme da PDVSA com compras de etanol da Petrobras, exortações dos presidentes para concretização dos investimentos conjuntos na refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e no campo de Carabobo 1, na região do Orinoco.

Os venezuelanos já deram indicações de que consideram passado o episódio que provocou o esfriamento nas relações entre os dois governos - a divulgação de nota do Senado brasileiro pedindo a Chávez para reconsiderar a decisão de não renovar a concessão de uma rede de TV oposicionista, e a reação do presidente venezuelano, que acusou os senadores de agirem como "papagaio de Washington". Chávez não vem disposto a tocar no tema, nem a pedir desculpas, embora deva cobrar a aprovação, pelo Senado, do ingresso da Venezuela no Mercosul.

Lula gostaria de obter de Chávez um sinal mais firme em relação a um compromisso assumido verbalmente pelo venezuelano, o apoio a uma cadeira permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU. O presidente brasileiro deve elogiar e apoiar o oferecimento de Chávez para mediar as negociações entre a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano. O porta-voz do Planalto, Marcelo Baumbach, ao responder sobre possível oferecimento de ajuda do Brasil, confirmou que o governo está disposto a receber Chávez e os negociadores em território nacional, se necessário.

A pauta do encontro é "aberta", o que deve fazer com que seja ampla a agenda da conversa entre Chávez e Lula, mas as negociações entre Petrobras e PDVSA devem tomar um bom tempo da reunião.

Chávez já se queixou do "esfriamento" das negociações para o Gasoduto do Sul, com o qual ele gostaria de vender gás venezuelano aos países do Cone Sul. A Petrobras alega que não tem como aderir ao projeto sem uma informação clara sobre o tamanho das reservas venezuelanas, negada até agora pelo governo vizinho. A Petrobras iniciou, há poucos dias, as obras para a refinaria Abreu e Lima, planejada para refinar óleo venezuelano, com a PDVSA, mas a participação da estatal venezuelana depende de definição sobre outro projeto conjunto, a exploração de Carabobo.

Petrobras e PDVSA divergem também sobre o destino do projeto de exploração de gás de Mariscal Sucre - os venezuelanos querem destinar o produto ao mercado interno, a empresa brasileira quer vender ao exterior.

Lula quer ainda extrair de Chávez um compromisso público em apoiar a criação do Banco do Sul no modelo defendido pelos brasileiros, com regras severas de governança e projetos aprovados por critérios técnicos.