Título: Conselho de Ética recebe a quarta representação contra Renan
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2007, Política, p. A9

A Mesa Diretora do Senado encaminhou ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa a quarta representação contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Dessa vez, a acusação é que Renan, presidente do Senado, teria montado um esquema de desvio de recursos de ministérios comandados pelo PMDB. A denúncia é do advogado Bruno Miranda Ribeiro Lins. Ele acusa Luiz Garcia Coelho -pai de sua ex-mulher, assessora de Renan - de participação do suposto esquema. "Venham com a quarta, com a quinta, com a sexta. Eu sou inocente. O que acaba preponderando é a verdade", disse Renan.

A abertura do quarto processo por quebra de decoro contra Renan agrava a situação do pemedebista. Além de levar a oposição a obstruir a pauta de votações, a permanência de Renan na Presidência do Senado agora ameaça provocar um racha na base, opondo PT a PMDB.

Na parte visível dessa crise, o partido de Renan acusa o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) de articular contra o presidente da Casa. O petista reage dizendo que a crise é resultado da permanência dele no cargo. "Não venham tergiversar e botar cortina de fumaça", disse Mercadante.

A queixa do PMDB deve-se a vários motivos, mas o ápice foi na quarta-feira, por uma sucessão de atritos. Um deles, pelo fato de o petista ter deixado o plenário antes da votação da indicação de Luiz Antonio Pagot para a diretoria-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT). A sessão caiu por falta de quórum, impedindo a votação. Eram necessários 41 votantes e o placar registrou apenas 37. Foi a segunda tentativa de votar Pagot, em dois dias seguidos.

Mercadante tentou articular inversão da pauta, para que a indicação de Paulo Lacerda para a Abin ficasse em primeiro lugar. Acreditava ser mais fácil conseguir votos na oposição, já que há resistência ao nome de Pagot. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e Renan não concordaram. O resultado foi a segunda derrota do governo.

Outro agravante do mal-estar foi a participação de Mercadante em acordo - naquela manhã -, com os integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Pelo acordo, a proposta de emenda constitucional (PEC) abolindo o voto secreto no Congresso seria incluída na pauta de votações daquele dia.

O relator da PEC, Tasso Jereissati (PSDB-CE), não queria abolir o voto secreto totalmente. Queria manter em algumas situações, como escolha de autoridades e apreciação de vetos presidenciais. Mercadante defendeu a proposta de Paulo Paim (PT-RS), que extingue o voto secreto em todas as decisões previstas na Constituição.

Tasso acabou concordando em acolher a proposta de Paim, desde que a PEC fosse incluída como primeiro item da pauta de votações do plenário no mesmo dia. Mercadante deu aval, alertando que a pauta teria que ser desobstruída antes. Anunciado por Tasso no plenário, o tal acordo provocou confusão. O PMDB não concordou. Renan foi contra e o líder do partido, Valdir Raupp (RO), fez veemente discurso derrubando qualquer chance de a PEC ser votada naquele dia.

Pemedebistas acusaram Mercadante de se aliar à oposição. "Jamais vou fazer obstrução. O que está obstruindo a pauta do Senado é a crise do Renan na presidência", disse Mercadante.

O PT não se manifestou publicamente, mas a posição majoritária na bancada petista, hoje, é favorável ao afastamento de Renan. Essa é a parte ainda submersa dessa crise. O PT ajudou a preservar o mandato de Renan, mas sua permanência no cargo é considerada fator de turbulência nas votações, prejudicando assuntos de interesse do governo. Nos bastidores, petistas mostram irritação com o fato de Renan não abrir mão de presidir a Ordem do Dia. Se os petistas concordam com Mercadante, por um lado, por outro avaliam que ele está exagerando nas posições. Estaria tentando se recuperar do desgaste sofrido desde que declarou ter se abstido no julgamento da primeira representação de Renan.