Título: PSDB divide-se na defesa de Azeredo
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Fonte: Valor Econômico, 20/09/2007, Política, p. A11

Eduardo Azeredo: PSDB apenas concorda com estratégia de diferenciar mensalão tucano do petista O relatório da Polícia Federal que concluiu pela existência de um esquema de caixa 2 na campanha à reeleição do senador Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais, em 1998, dividiu o PSDB. Uma ala dos tucanos julga que o partido deve reconhecer a prática de ilícito eleitoral, mas outra ala prefere preservar Azeredo - que não se reelegeu - dos atos praticados por seu comitê financeiro de campanha. Só um discurso unifica os tucanos: o que ocorreu em Minas teria sido diferente do "mensalão do PT" , pois enquanto este seria um esquema de compra de votos, em Minas Gerais esteve restrito a uma eleição estadual.

Além do PSDB, o governo também está apreensivo com a expectativa de que o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, vá apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra os tucanos mineiros, nos próximos dias. O relatório da PF faz várias citações ao ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, e também não interessa ao Palácio do Planalto, no momento, acirrar ainda mais a disputa política no Congresso, particularmente no Senado, até a aprovação da CPMF, o imposto do cheque.

O próprio líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), procurou líderes do PSDB e do PT para dizer que não interessa, nesse momento, um clima de beligerância no Senado. Jucá conversou com a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e com Eduardo Azeredo. Jucá disse a seus interlocutores que não existe qualquer intenção do governo de usar as acusações da Polícia Federal. "Não interessa para o governo um cenário político turbulento nesse momento em que o Senado se prepara para votar a CPMF", adisse um aliado do Palácio do Planalto.

Desde que vazaram as primeiras informações, o esquema do valerioduto mineiro divide os tucanos. À época, o senador Eduardo Azeredo presidia o PSDB. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso opinou por seu afastamento imediato do cargo, mas vários outros caciques se opuseram, entre os quais o atual governador de São Paulo, José Serra. Na terça-feira passada o assunto voltou a ser discutido no PSDB. O deputado José Aníbal (SP) avaliou que o partido deveria reconhecer que houve ilícito eleitoral, restringindo o caso a Minas, mas seus argumentos não entusiasmaram outros presentes, entre eles Azeredo e o presidente do PSDB, Tasso Jereissati.

Em sua defesa na Polícia Federal, Azeredo alegou desconhecimento das atividades do comitê financeiro de sua campanha. O então candidato à reeleição declarou gastos de R$ 8 milhões, mas a PF rastreou pelo menos R$ 28,5 milhões captados pelas empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, que "foram justificados pelos investigados como sendo doações eleitorais não declaradas". No esquema do "mensalão", dirigentes petistas falaram em "recursos não contabilizados".

A PF também rastreou recursos de estatais mineiras, pagos a supostos serviços de publicidade, até contas de integrantes da campanha à reeleição de Eduardo Azeredo. Mas os tucanos demonstram tranqüilidade em relação a outro nome importante do PSDB de Minas, o atual governador Aécio Neves: a PF não conseguiu ir além da inclusão do nome de Aécio em uma lista, cuja autoria é atribuída ao coordenador financeiro da campanha, Cláudio Mourão, segundo a qual ele teria recebido R$ 110 mil do esquema para sua campanha a deputado.

De acordo com a "lista de Mourão", como é conhecida, a campanha de Azeredo poderia ter chegado, na realidade, a R$ 100 milhões. A própria PF, no entanto, reconhece que Cláudio Mourão possa ter inflacionado os valores que ajudou a ajudou arrecadar clandestinamente, para aumentar seu poder de persuasão junto aos que considerava seus devedores - encerrada a campanha, Mourão cobrou dívidas de Azeredo na Justiça. Em 2002, fechou um acordo para ser ressarcido em R$ 700 mil, dos quais R$ 507 foram pagos por Walfrido dos Mares Guia, por meio de sua empresa de participações, a Samos.

Jucá justifica sua movimentação como uma necessidade de reconstruir pontes com a oposição. "Temos que reconstruir essa relação, tijolinho a tijolinho". O líder governista nega, contudo, que a sua iniciativa tenha como pano de fundo pedir que a oposição não critique abertamente o ministro Walfrido. "Não é toma-lá-dá-cá". Na realidade, os senadores pouco podem fazer - a denúncia ou não ao STF depende apenas de uma decisão do procurador Antonio Fernando.

Azeredo voltou a repetir que a lista citada no relatório da Polícia Federal e que cita-o como um dos principais beneficiários do esquema é apócrifa e falsa. A perícia realizada pela Polícia Federal, no entanto, concluiu que ela foi efetivamente elaborada por Cláudio Mourão e que nome e valores citados batem com o que foi apurado na investigação.