Título: Aliança velada entre PSDB e PT detém mensalão mineiro
Autor: Felício, César :Moreira, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2007, Política, p. A11

Davilym Dourado/Valor - 6/12/2006 Aécio: depois de contestar veracidade da lista, governador enfrenta inquérito A blindagem do governador mineiro Aécio Neves (PSDB) na mídia e no Legislativo do Estado foi eficiente esta semana para conter a repercussão local do inquérito da Polícia Federal que apura o caixa 2 na eleição estadual de 1998 , em exame no Ministério Público. O assunto foi ignorado pelos principais jornais de Belo Horizonte e pelos deputados que foram à tribuna da Assembléia Legislativa. De maneira reservada, aliados e adversários já contabilizam os efeitos políticos para ambos os lados.

Na avaliação mais conservadora de dirigentes do PT, o governador Aécio Neves (PSDB), o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e o coordenador político do governo, ministro Walfrido dos Mares Guia (PR) estão fora do jogo da eleição municipal da capital em 2008. É uma circunstância que fortalece o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, e o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. Consideram ainda que o episódio pode selar a retirada de Aécio da sucessão presidencial, dependendo de como for citado em uma eventual denúncia do procurador geral da República, Antonio Fernando de Souza.

O nome de Aécio consta em um documento presente nas folhas 13 e 14 do inquérito policial, onde o tesoureiro da campanha do então governador Eduardo Azeredo à reeleição, Claudio Mourão, relacionou candidatos a deputado que receberam recursos de modo irregular. Mares Guia figura no inquérito como o coordenador de fato da campanha. Elo entre Aécio e petistas em Minas, o ministro era citado como possível candidato a prefeito de BH desde o início do ano. A possibilidade agora é dada como descartada.

A cúpula do PT seria a grande beneficiária do episódio, se o inquérito da PF não levantasse indícios de que parte do partido divide com o PSDB as mesmas formas de financiamento. Nada menos que 34 petistas mineiros aparecem junto com o governador na lista de Mourão que está no inquérito da PF. A maioria são dirigentes do partido que articularam em 1998 a neutralidade da sigla entre o primeiro e o segundo turno da eleição mineira daquele ano, quando se defrontavam Eduardo Azeredo e Itamar Franco (PMDB). Sob reserva, tanto tucanos mineiros quanto petistas que se opuseram à neutralidade na época afirmam que os recursos foram decisivos na decisão do diretório, inócua já que Itamar terminaria eleito.

A manifestação discreta dos petistas não se deve apenas à provável divisão das mesmas fontes de financiamento por uma ala do partido. Ainda que os dirigentes da sigla afirmem que não há possibilidade de aliança , mesmo tácita, nas eleições de 2010, aposta-se entre deputados estaduais em interesses convergentes, caso Aécio dispute uma cadeira no Senado, já que o governador não tem sucessor natural no Palácio.

O governador Aécio Neves tem evitado a imprensa desde a divulgação de informações do relatório. Na quarta-feira à noite, cancelou a participação em dois eventos públicos. Um deles seria a inauguração de uma nova fábrica do grupo Orteng, do empresário Robson Andrade. Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais , Andrade é considerado um dos grandes aliados do governo mineiro e dava como certa a presença do tucano.

Em vez disso, embarcou para São Paulo. Sua agenda não foi revelada. Assessores do governador passaram toda a semana tentando explicar a jornalistas porque Aécio prefere não comentar o assunto.

Segundo eles, o governador já falou sobre a lista em 2005, quando o documento veio à tona pela primeira vez. Na ocasião, afirmou que a lista era falsa. Pressionada pela imprensa, a assessoria resolveu finalmente distribuir uma nota em que ressalta o fato de que o inquérito, não comprova veracidade da lista.

Na semana passada, na véspera da divulgação do conteúdo do relatório da PF pela imprensa, Aécio recebeu o procurador Antonio Fernando, em Belo Horizonte, para entregar-lhe uma comenda do Estado.

A oposição especula sobre pressões para que sejam relacionados apenas os políticos em relação aos quais há comprovação material de recebimento de recursos da SMP&B, a empresa de publicidade de Marcos Valério que teria triangulado recursos da verba publicitária da Cemig e de outras estatais que patrocinaram uma competição esportiva, o enduro da independência. Entre estes, não consta Aécio ou petistas.

Mas há comprovantes de pessoas próximas a ele, como Lidia Maria Alonso Lima, uma sócia de Andréia Neves, irmã do governador, em duas empresas. Lidia Lima alegou à polícia que trabalhava para um candidato, Eduardo Brandão, já falecido.

A SMP&B teve contratos rescindidos pelo governo mineiro durante a administração de Itamar Franco, mas recuperou contas nos três primeiros anos de governo Aécio. O vazamento do inquérito da PF seria uma reação a esta suposta sinalização favorável do Ministério Público ao governador mineiro.

Com a repercussão do relatório, porém, a expectativa dos adversários políticos é de que o procurador se sinta forçado a denunciar todos os citados, tanto os da lista de Mourão, em que não há, de fato, provas materiais de depósitos para o tucano.