Título: Lessa filia-se ao PSB de olho em frente de esquerda para 2008
Autor: Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2007, Política, p. A11

O economista Carlos Lessa filia-se hoje ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). É um nome forte para ser o candidato do partido na disputa pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Assim, desvincula-se definitivamente do PMDB, onde esteve por quase 40 anos e entrou ainda na época do MDB. Diz que a certeza de que fez bem em deixar o partido do amigo Ulysses Guimarães veio com o episódio Renan Calheiros.

Em conversa com o Valor, Lessa explica que sua candidatura a prefeito ainda não é certa. "Vou levar ao partido minhas idéias para o Rio de Janeiro e vamos ver o que acham. Caso não aprovem me torno um militante. Ainda está longe, mas se lançarem Ciro Gomes à Presidência da República, trabalharei por ele. O PSB é uma formação partidária que tem longa tradição de boa ética. Nunca teve um desempenho eleitoral retumbante mas tem um passado importante com, por exemplo, João Mangabeira (político com perfil de esquerda que foi ministro da Justiça de João Goulart)", diz.

Professor e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o ex-presidente do BNDES quer formar uma frente de esquerda. Pensou em atrair o senador Marcelo Crivella (PRB) mas desanimou como o fato de ele ter apoiado Renan. O PCdoB é um possível aliado mas, na terça-feira, decidiu-se que Jandira Feghali será a candidata à prefeitura carioca.

Lessa tem propostas para o Rio que valorizam o que considera o espírito do morador. "Estou absolutamente convencido que se pode estimular o que é a personalidade do carioca e fazer essa cidade mais feliz do que é atualmente", afirma.

Para ele, o carioca utiliza os espaços públicos de "forma original dando manifestações incríveis de convivência" e qualquer coisa que se faça numa praça, ao ar livre, é um sucesso". E lembra: "O réveillon coloca milhões de pessoas na praia e tem zero de violência. Isso me permite avaliar que o carioca não tem medo de espaço público cheio, tem medo de espaço vazio, uma característica fantástica que não se leva a sério. Poderia se fazer uma cidade com baile a céu aberto, com exposições, leitura de poesias, eventos para velhos, jovens e crianças, alternativa ao shopping center que é fechado".

No fim da tarde de ontem, quando conversou com o Valor o professor estava se preparando para ir às comemorações de 62 anos da Feira de São Cristóvão: "Tudo começou com nordestinos vendendo na rua carne de sol, farinha e rapadura. Foi crescendo e hoje é uma imensa área de lazer, que tem desde música funk a cordel, vende de cachorro quente a queijo de coalho. Cento e vinte mil pessoas vão lá por semana", diz.

Cita a área da parada dos trens da Leopoldina, com enorme pátio de manobra desocupada e a região portuária. "Podem ser construídos bairros e sub-bairros, conjuntos que adensam a cidade. O mesmo capital imobiliário que fez a Barra da Tijuca pode se voltar para o Centro".

Para ele, o prefeito tem que arrumar, motivar a cidade e "não pode sair prometendo gigantescos investimentos públicos" porque a concentração de arrecadação está mesmo é com o governo federal. "O discurso 'deixa comigo que eu faço tudo' é mentiroso. Vou levar minhas idéias ao partido quero discutir essas e um monte de outras", afirma.