Título: Usineiros do Brasil já têm lobista nos EUA
Autor: Balthazar , Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2007, Agronegócio, p. B11

Os usineiros brasileiros decidiram botar um pé em Washington e desenvolver uma estratégia de longo prazo para combater as barreiras que a indústria americana de etanol e seus aliados no Congresso dos Estados Unidos impõem atualmente à entrada do álcool brasileiro no cobiçado mercado americano.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), principal associação do setor, anunciou ontem a contratação de Joel Velasco, um representante para defender seus interesses nos EUA. Velasco é ex-assessor do ex-vice-presidente Al Gore e é hoje diretor-gerente da Stonebridge International, uma firma de consultoria sediada na capital americana.

Numa audiência realizada pela Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara de Representantes para discutir as relações do Brasil com os EUA, Velasco afirmou ontem que seu papel será apresentar os pontos de vista dos usineiros nos EUA e "iniciar um processo de envolvimento mais ativo" com o país.

O sucesso do programa brasileiro de biocombustíveis é visto com admiração nos EUA, mas a indústria americana de etanol está crescendo rapidamente e vê com suspeição seus concorrentes brasileiros, apesar dos esforços que os governos dos dois países têm feito para forjar uma aliança para promover o consumo de etanol em outros países.

Uma tarifa de US$ 0,54 por galão de etanol encarece o álcool brasileiro no mercado americano e protege a indústria dos EUA da competição com os usineiros do Brasil. A tarifa existe desde o fim da década de 70 e a legislação atual assegura sua permanência até o fim de 2008. O etanol americano é feito de milho e é bem menos competitivo que o produzido no Brasil.

O deputado Eliot Engel, que presidiu a audiência ontem, quis saber se o Brasil teria condições de exportar grandes volumes de etanol para os EUA sem comprometer o abastecimento do seu mercado interno se a tarifa americana fosse extinta. Velasco disse que não. Engel também manifestou preocupação com os riscos que a expansão da cana no Brasil cria para o meio ambiente. O representante da Única disse que eles não existem.

Velasco e outro participante da audiência, o diretor do departamento da Câmara de Comércio dos EUA para a América Latina, Mark Smith, disseram aos deputados americanos que o acordo assinado pelo Brasil e pelos EUA em março deste ano para promover os biocombustíveis teve poucos resultados até aqui.

"Houve um aumento significativo no diálogo entre os dois governos, mas há pouco envolvimento do setor privado", disse Velasco. Smith disse que os dois países deveriam dar passos mais agressivos para tornar viáveis comercialmente as tecnologias que permitem a produção de etanol celulósico, o combustível que pode ser extraído do bagaço da cana, de capim e madeira.