Título: Armadilhas contra Maia
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 20/01/2011, Política, p. 2

Embora some quase 300 dos 513 votos para se eleger à Presidência da Câmara, o deputado ainda precisa aparar arestas no PT e entre empresários e desidratar a candidatura de Mabel

Reforçada por uma articulação que envolve até o Palácio do Planalto, a toada de Marco Maia (PT-RS) para consolidar o favoritismo na disputa pela Presidência da Câmara agrega o apoio de dez partidos, ou pelo menos 300 votos ¿ dos 513 possíveis. A conta para a eleição, no entanto, ainda tem variáveis de risco. A tarefa do deputado petista nos próximos 10 dias será exatamente desatar os últimos nós e evitar a evolução de problemas já detectados na formação da base do governo na Casa.

Marco Maia conseguiu remover nos últimos dias boa parte dos obstáculos que o separavam da principal cadeira da Câmara. Os entraves a serem contornados na reta final são a candidatura avulsa de Sandro Mabel (PR-GO), a divisão interna no próprio partido, o PT, por conta da disputa pela liderança do governo, e a insatisfação de setores localizados de parlamentares, como o cabo de guerra travado pelas bancadas empresarial e sindical em torno do salário mínimo (Leia ao lado). A relação estremecida entre PMDB e PT, embora tenha se acalmado na última semana, também é tida como ameaça.

O candidato petista à Presidência da Câmara recebe hoje o apoio formal do PCdoB. Ontem, previa conseguir manifestações formais do PDT e da bancada baiana, em jantar com parlamentares e o governador do estado, Jaques Wagner, em Salvador. PMDB, PP, PSDB, PPS, DEM, PSC, e PSB haviam declarado apoio na semana passada. O PR, que formalizou adesão em jantar no início da semana, pressiona Mabel a desistir da candidatura.

O deputado goiano tem resistido ao movimento do próprio partido porque acredita contar com o apoio de pelo menos 150 deputados e da bancada industrial. ¿São os insatisfeitos porque foram afastados da composição do governo, os que não tiveram emendas liberadas e que darão no mínimo visibilidade ao Mabel, mas não garantem qualquer chance de vitória¿, opina um parlamentar da base governista. O pré-candidato à Presidência da Câmara também tem ouvido incentivos da bancada empresarial para que insista até os últimos dias antes da eleição, em 1º de fevereiro.

O receio dos empresários é de que Maia ceda à pressão da bancada sindical em pautas como o reajuste do salário mínimo e a redução da jornada de trabalho (Veja arte). O candidato trabalha para diminuir os ruídos. ¿Não estamos do lado do trabalhador nem do empresário. Quem se coloca no lado de A ou B se coloca de forma errada se pretende ser presidente da Câmara. Precisamos de uma agenda para o país, não para setores¿, criticou Maia. O petista reforçou nos últimos dias a agenda com o setor. Na terça, reuniu-se com Jorge Gerdau e pretende articular encontros com federações do setor.

Desencontro Além do fator Mabel, dois possíveis obstáculos que Maia terá de enfrentar até a eleição dizem respeito aos maiores partidos da bancada governista: PT e PMDB. As legendas mantêm, nos bastidores, o desencontro nas nomeações para o segundo escalão. Na Câmara, os petistas ainda estão divididos por conta da sucessão na Liderança do Governo. O atual líder, Cândido Vaccarezza (PT-SP), esperava continuar no posto, como reconhecimento do Planalto por ter abandonado a disputa em favor de Maia.

O grupo ligado ao deputado gaúcho, no entanto, tenta emplacar Henrique Fontana (PT-RS) ou Arlindo Chinaglia (PT-SP) no posto.

O futuro líder do partido na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP), trabalha para contornar as fissuras. ¿A decisão sobre o líder do governo cabe à presidente Dilma Rousseff e não à bancada. Além disso, a permanência de Vaccarezza não está descartada¿, diz Teixeira. Pelo sim, pelo não, o atual líder antecipou a volta à Câmara para hoje ¿ ele estava de férias na Europa.

Com o PMDB, as relações do PT entraram em aparente harmonia. Mas a calmaria não se mantém nos bastidores. Ontem, o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, admitiu que ainda falta a nomeação de muitos cargos para os dois partidos entrarem em sintonia. ¿Acho que o relacionamento do PMDB com o PT, até agora, não tem sido fácil. Mas não acredito que a situação vá se agravar¿, avaliou. O vice-presidente, Michel Temer, permanece com a missão de contemporizar as insatisfações: ¿Se existir uma guerra, ela é de algodão¿, garantiu.

Colaborou Leandro Kleber