Título: Biorrefinaria do Ultra vai para MG
Autor: Vieira, André ; Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2007, Empresas, p. B1

O projeto do grupo Ultra para a construção de uma biorrefinaria - que produzirá especialidades químicas a partir da cana-de-açúcar - deverá ser implantado no Triângulo Mineiro, segundo apurou o Valor com fontes ligadas ao setor sucroalcooleiro.

O município de Comendador Gomes, com 3 mil habitantes, deve receber o investimento milionário do primeiro projeto deste tipo no país, garantem as fontes. O grupo Ultra está em negociação com fornecedores locais de cana e já procura áreas para arrendar terras, segundo as mesmas fontes.

O projeto do grupo prevê uma área plantada de 50 mil hectares, suficientes para o cultivo de até 4 milhões de toneladas de cana por ano. Um investimento deste porte em uma usina sucroalcooleira é estimado entre US$ 250 milhões a US$ 300 milhões. O valor pode ser maior caso o grupo invista também na produção de álcool para a distribuição de combustíveis. O projeto já chegou ao BNDES.

Em nota, a Oxiteno, empresa química do grupo Ultra, disse que o estudo sobre a biorrefinaria encontra-se em estágio preliminar, que inclui a análise da tecnologia e da localização do projeto. "Nenhuma decisão formal de investimento foi tomada."

O projeto de produção planejado pelo grupo Ultra nos últimos anos utiliza uma rota alternativa à petroquímica, utilizando o etanol de cana-de-açúcar. A empresa tenta viabilizar uma forma competitiva de fabricar o etanol por hidrólise da celulose e da hemicelulose da cana-de-açúcar. Procura também extrair etilenoglicol e propilenoglicol, pelo método de hidrogenólise, dos açúcares da planta.

A produção de álcool para a rota química é praticamente nula no Brasil, diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). "A produção de álcool para este segmento teve seu auge na metade da década de 80", diz Rodrigues. À época, a produção de etanol para este segmento girava em torno de 500 milhões de litros. Atualmente, as usinas do país produzem cerca de 700 milhões de litros de álcool (denominado hidratado para outros fins) voltados para as indústrias químicas e farmacêuticas. O setor exportou outros 700 milhões de litros, sobretudo, para o Japão e Coréia do Sul.

Curiosamente, a criação do Proalcool, programa nacional que deu início à produção de álcool combustível, foi idealizada por um executivo da Oxiteno. "Lamartine Navarro Júnior [um dos pais do Proalcool], que ocupava a vice-presidência do grupo naquela época, sugeriu ao seu colega Cícero Junqueira Franco [tradicional usineiro] a produção de álcool em substituição do petróleo. Isso foi em 1973, auge da crise do petróleo", conta Plínio Nastari, presidente da consultoria Datagro, especializada no setor sucrolacooleiro. O programa começou oficialmente em 1975. Lamartine Navarro Júnior saiu da Oxiteno e fundou a usina Alcídia, na região do Pontal (SP). Essa usina foi recentemente adquirida pelo grupo Odebrecht, também interessado na produção de álcool para rota química.