Título: Dilma acena e sindicalistas "amansam"
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 20/01/2011, Política, p. 3

Presidência promete abrir espaço para negociações e consegue que a barganha das centrais pelo valor do mínimo saia do patamar de R$ 580 para R$ 560

Depois de arrefecer parte da gritaria do PMDB por cargos na Esplanada dos Ministérios, o governo federal atua para diminuir o tom das centrais sindicais pelo reajuste do salário mínimo. O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, foi escalado pelo Palácio do Planalto para abrir uma mesa de negociação com os sindicalistas. Responsável pelas articulações da Presidência com os movimentos sociais, ele marcou para a quarta-feira uma reunião com as seis centrais sindicais que lideram a reivindicação por um benefício superior aos R$ 545 anunciados pela equipe econômica.

O gesto de Carvalho, por ora, serviu para que os sindicalistas reavaliassem a posição em torno do mínimo. Sem negociação, as centrais mantinham a pedida em R$ 580, além da correção da tabela do imposto de renda em 6,47%. Com a abertura do canal de diálogo, os sindicalistas já admitem aceitar R$ 560 ¿ o que na prática significaria uma chance de acordo nos R$ 550 cogitados pelo governo desde o fim do ano passado. ¿Fica mais barato para o governo negociar. Senão vai em votação uma emenda de R$ 580, sem proposta intermediária. Se negociar, pode aprovar abaixo disso¿, avisa o líder do PDT, Paulo Pereira da Silva (SP). A porta aberta pelo Palácio do Planalto também facilitou o caminho para o PDT oficializar apoio à candidatura de Marco Maia (PT-RS) à Presidência da Câmara dos Deputados.

A seis centrais sindicais ¿ CUT, Força Sindical, UGT, Nova Central, CGTB e CTB ¿ protestaram na terça-feira em diversas cidades do país pelo salário mínimo de R$ 580 e a correção da tabela do Imposto de Renda. Inicialmente, o governo editou a medida provisória (MP) do mínimo com o valor de R$ 540, a ser descontado a partir de fevereiro. Como a inflação no ano passado fechou em índice maior do que o previsto, o valor foi considerado defasado pela própria equipe econômica. Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o Planalto editaria nova MP com o benefício atualizado em R$ 545.

Em meio à pressão das centrais, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a declarar que qualquer valor aprovado pelo Congresso acima desse patamar seria vetado. A carteirada, porém, acabou desconsiderada pelo colega de Esplanada Carlos Lupi, do Trabalho. O ministro pedetista afirmou que a decisão sobre o valor caberia aos parlamentos e defendeu o reajuste de R$ 560. Parlamentares do próprio PT defenderam R$ 550.

Confisco Caso as negociações não avancem, as centrais ameaçam levar adiante as ações protocoladas na Justiça com pedido de atualização da tabela do Imposto de Renda. De acordo com Paulo Pereira da Silva, que também é dirigente da Força Sindical, os trabalhadores já entraram com reclamações judiciais em 20 estados. ¿A questão do mínimo está aberta a negociação, mas não corrigir a tabela do Imposto de Renda é confisco. Aumentará a arrecadação do governo em mais R$ 5 bilhões¿, critica o deputado.