Título: Amorim acusa EUA e UE de terem feito novo acordo
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2007, Brasil, p. A2

Celso Amorim, ministro brasileiro das Relações Exteriores: "Queremos negociar, mas tem de ser um acordo justo" O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, acusou ontem os Estados Unidos e a União Européia (UE) de terem feito "de novo" um acordo entre eles para cortar menos subsídios e tarifas agrícolas, enquanto exige ambiciosos cortes industriais nos países em desenvolvimento na Rodada Doha. Amorim deixou claro que desta vez a suspeita não é só do Brasil, como ocorreu no rastro da reunião de Potsdam, e sim também dentro do G-20, o grupo coordenado pelo país e que ele reuniu por três horas ontem em Genebra.

"Há uma preocupação de que de novo os EUA e a UE encontraram algum tipo de acomodação mútua de suas sensibilidades, no qual abandonam objetivos mais ambiciosos em questões que são difíceis para eles, e concentram então todos seus esforços em áreas nas quais os países em desenvolvimento podem ficar amarrados", afirmou.

O ministro voltou ao ataque para contrapor-se à influência dos países ricos nos textos agrícola e industrial que podem, ou não, conduzir a algum acordo na rodada. "Quando eles sussurram, isso ecoa forte dentro da OMC. Quando nós gritamos, ouvem (na OMC) como se fosse um murmúrio. Isso já mudou, mas precisa mudar mais", afirmou.

A suspeita é de um acordo pelo qual os Estados Unidos limitariam seus subsídios domésticos que mais distorcem o comércio só a US$ 14,5 bilhões - quando o Brasil e o G-20 insistem no corte em volta de US$ 13 bilhões.

Segundo negociadores, a UE já deixou claro que, se o montante exigido dos americanos for menor, Bruxelas teria que cortar também ainda mais seus próprios subsídios e isso exigiria uma nova reforma da Política Agrícola Comum (PAC).

Além disso, na área de acesso ao mercado, os brasileiros suspeitam que os americanos se entenderam já com os europeus para obter as cotas agrícolas (com tarifa menor) que acomodam suas exportações. A preocupação manifestada por Washington sempre foi de que o Brasil acabasse pegando o grosso das cotas para carnes, por exemplo, diante da competitividade do país. Os volumes devem ser globais, para todos os países da OMC, mas arranjos técnicos acabam favorecendo um ou outro país.

Com esse suposto acordo entre eles, os EUA e a UE se concentram na demanda por abertura agrícola em países como Índia e China, e industrial no Brasil, África do Sul, Argentina e Índia.

Amorim insistiu que um acordo na OMC levará o Brasil a cortar em termos reais ampla parte das tarifas nas importações industriais. E confirmou que o país prepara uma oferta melhor no setor de serviços. "Queremos negociar, mas tem de ser um acordo justo", insistiu. Em entrevista à imprensa internacional, reiterou que o Mercosul precisa de mais flexibilidade para produtos industriais. Por sua vez, os EUA reclamaram: para cortar menos em 16% das tarifas, como querem Brasil e Argentina, significa na verdade proteger 20% do volume das importações industriais, e consideram isso inaceitável.