Título: Seca excepcional atinge o sudeste dos EUA
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Fonte: Valor Econômico, 01/11/2007, Internacional, p. A10

Após 18 meses de céus ensolarados e calor abrasador, as plantações estão murchando, gramados estão queimados e lagos estão secando. Não se trata da queimada Califórnia ou do árido sudoeste americano, mas de seu normalmente viçoso sudeste. O "monitor de secas" do Departamento de Agricultura diz que 32% da região está afetada por "seca excepcional", sua classificação mais grave e, nessa escala, esperada apenas uma ou duas vezes por século. O problema é agravado pela inexperiência do sudeste em lidar com a falta de chuvas e pelo intenso crescimento populacional da região.

Em Atlanta, a maior região metropolitana no sudeste, 3 milhões de moradores perderão em janeiro sua principal fonte de água potável, caso o nível do lago Lanier continue secando aceleradamente. O governador da Geórgia, Sonny Perdue, que já exortou os georgianos a "diminuir seu tempo no chuveiro", deu entrada com uma ação, em 19 de outubro, visando obrigar o Corpo de Engenheiros do Exército a parar de retirar tanta água dos reservatórios da Geórgia para abastecer o Alabama e a Flórida. Um dia depois, ele decretou estado de emergência em todo o terço setentrional do Estado da Geórgia.

Já é proibido usar água para regar plantas ou lavar calçadas na parte afetada do Estado, e as prefeituras estão considerando a possibilidade de impor um racionamento. A prefeita de Atlanta, Shirley Franklin, sugeriu dessalinizar águas do Oceano Atlântico. O Stone Mountain Park, popular parque temático em Atlanta, parou de produzir neve artificial para sua Montanha de Neve Coca-Cola.

Os problemas se alastram há duas semanas. O governador da Carolina do Norte, Michael F. Easley, insistiu em que os habitantes deixem de usar água para qualquer finalidade "não essencial à saúde e segurança pública". No Tennessee, a produção hidrelétrica de energia na jurisdição da Tennessee Valley Authority (TVA), agência governamental que gera eletricidade para sete Estados do sudeste, foi reduzida à metade devido ao baixo nível das represas. Os primeiros cinco meses deste ano foram os mais secos no vale em seus 118 anos de registro estatístico, segundo a agência.

Até mesmo a verdejante Flórida, habitualmente varrida por furacões e tempestades tropicais capazes de despejar anualmente 1,3 metro de chuva, está sentindo o drama. No lago Okeechobee, segundo maior reservatório de água potável no país, já é possível ver áreas não cobertas pela água.

Economistas especializados em agricultura dizem que a seca está custando bilhões de dólares. Muitos agricultores estão em apuros financeiros, exceto aqueles que tiveram a previdência de proteger suas colheitas com a cobertura de apólices de seguro federal. Na Carolina do Norte, o fumo pendurado nos galpões não está sendo curado por causa da seca excessiva. Na Carolina do Sul, criadores de gado estão vendendo suas rebanhos devido à escassez ou inexistência de rações.

Na Geórgia, as autoridades dizem que a seca já causou prejuízos de US$ 787 milhões em produção perdida - especialmente de algodão, amendoim e milho. Os 60% de agricultores georgianos cujos campos não são irrigados perderam todas as suas culturas - uma situação "assustadora", segundo Tommy Irvin, comissário do Departamento de Agricultura da Geórgia. As autoridades ainda não sabem quantos agricultores estão em colapso financeiro, mas uma coisa é certa: os Estados não têm dinheiro sobrando para ajudá-los.

A meteorologia também não está oferecendo muito consolo, prevendo um inverno mais quente e seco do que o normal para o sudeste. Quanto ao mais longo prazo, o receio é que o aquecimento mundial tornará secas como esta mais comuns.