Título: Recuo da inflação deve ser passageiro
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Brasil, p. A7

A inflação deu um refresco ao bolso do consumidor em setembro e subiu 0,18%, após uma alta de 0,47% em agosto. Os economistas, no entanto, não acreditam que essa seja a tendência para os próximos meses e apostam em uma inflação ainda pressionada até o final do ano.

O recuo nos preços de alimentos, que nesse ano têm sido os vilões da inflação, foi o responsável por um resultado no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) menor do que esperado pelos analistas do mercado. O alívio veio principalmente do leite e seus derivados, que após terem ficado 5,77% mais caros em agosto, mostraram uma queda de 1,20% em setembro. As carnes, que também estavam pressionado a inflação, tiveram movimento semelhante e passaram de uma alta de 2,98% em agosto para uma variação de 0,62%.

"Não acredito que isso veio para ficar. Ainda temos uma pressão de demanda, por isso não espero que os índices de inflação virão mais baixos", argumenta Otávio Aidar, economista da Rosenberg & Associados. Aidar esperava uma alta de 0,27% no IPCA de setembro e diz que a desaceleração dos alimentos foi maior do que a esperada, por isso sua previsão ficou acima do resultado do mês. O preço dos alimentos subiu 0,44%, enquanto em agosto a alta foi de 1,39%.

Para o economista da Rosenberg os sinais de pressão de demanda, ainda que leves, aparecem - principalmente no custo dos serviços e no de alguns bens duráveis. Nos 12 meses terminados em setembro deste ano, por exemplo, o preço da geladeira acumula uma alta de 1,91%. Só nos últimos três meses - junho, julho e setembro - a elevação de preços acumulada por esse produto chega a 2,71%. Situação semelhante é verificada nos preços das máquinas de lavar. Em 12 meses até setembro acumulam alta de 0,51%, enquanto que só no terceiro trimestre do ano a variação de preços ficou em 2%. "É um alerta para o Banco Central", explica Aidar.

Mesmo assim, ele mantém sua projeção de 3,9% para o IPCA deste ano. Para o economista, o cenário de inflação ainda é benéfico, "não vai haver uma espiral inflacionária, mas é também um cenário compatível com uma parada técnica na queda de juros."

A LCA Consultores tem uma avaliação diferente. Raphael Castro, economista da consultoria, argumenta que a desaceleração dos alimentos não foi o único motivo de alívio para o IPCA. Os bens e serviços não-alimentícios subiram 0,11% em setembro, abaixo do 0,22% do mês anterior.

"Não vejo uma forte pressão da demanda. E isso fica claro quando olhamos para os preços dos serviços, que estão aumentando em ritmo cada vez menor", afirma Castro. Entre setembro deste ano e o mesmo mês do ano passado, na medição que acumula a variação de preços em 12 meses, quatro dos cinco tipos de serviços que compõe o índice serviços do IPCA apresentaram recuo. A exceção ficou por conta dos serviços médicos. Em setembro deste ano a alta acumulada foi de 5,64%, ante alta de 4,03% de setembro de 2006. Já os serviços pessoais passaram de uma elevação de 8,16% no ano passado para 6,28% em setembro de 2007.

Após o resultado de ontem apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a LCA revisou ligeiramente sua projeção para o IPCA do ano de 4% para 3,9%. "Por mais que a demanda esteja aquecida, quando um produto sobre muito de preço, as pessoas têm como substituí-lo. E os preços tendem a desacelerar", diz Castro.