Título: Monteiro , Luciana
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2007, EU & Investimento, p. D1

Novembro começa com o mercado embalado após o corte de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros americana realizado ontem. Isso não quer dizer, no entanto, que tudo serão flores neste mês para os investidores. As perspectivas continuam com os mesmos ingredientes de incerteza que têm dado o tom aos mercados nos últimos meses. Em outras palavras, significa que, apesar da expectativa de novas altas para a bolsa, o investidor deve se deparar com muita volatilidade a cada número sobre a inflação e desaceleração da economia dos EUA.

Mesmo com o otimismo do mercado, ainda que de maneira moderada, o administrador de investimentos Fabio Colombo lembra que, após as altas expressivas da maioria das bolsas ao redor do mundo, rompendo pontuações máximas históricas, o investidor brasileiro deve ter muita cautela ao ingressar, agora, em ações. Em outubro, o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, fechou em alta de 8,02% e, no ano, o indicador acumula retorno de 46,87%. O desempenho só foi seguido de perto pela variação do ouro, que subiu 7,22% no mês e no ano tem alta de 9,20%.

Interessante notar que, em outubro, as carteiras compostas somente por Petrobras tiveram rentabilidade superior às da Vale do Rio Doce. No mês passado, até o dia 26, os fundos que têm ações da estatal do petróleo ganharam 16,13%, ante 0,06% das aplicações em Vale. No ano, entretanto, as carteiras formadas por papéis da mineradora ainda seguem na liderança, com rendimento de 94,37%, ante 50,70% de Petrobras. Os ganhos, no entanto, são maiores já que nesses números não estão contabilizados o ganho de 1,87% de Petrobras e de 3,29% de Vale entre os dias 29 e 31.

O país vive hoje uma onda de investimentos cada vez mais perigosa porque cresceu demais e todo mundo está surfando nela afirma Alexandre Póvoa, sócio-diretor da Modal Asset Management. Aparentemente não há sinais de que essa onda acabou, embora reajustes sejam esperados, defende. "Estamos num momento de mudanças, grandes e rápidas, de referencial", diz, referindo-se aos modelos de análise macroeconômica do passado, que, às vésperas do "investment grade", já não servem mais de parâmetro para projetar os preços dos ativos. Ele lembra ainda que a China é um fator ainda muito difícil de ser avaliado e que tem puxado o preço das commodities e, por tabela, os papéis da Vale e da Petrobras.

Apesar de o Índice Bovespa ter chegado à máxima histórica de 65.317 pontos ontem, ainda há, sim, oportunidades na bolsa para os investidores com visão de longo prazo, acredita Rogerio Betti, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. "A alta do Ibovespa foi puxada principalmente por Vale e Petrobras, mas há papéis que não subiram na mesma proporção", diz. Entre essas ações, o executivo cita Gerdau, Itaúsa, Brasil Telecom, ALL, Cesp e alguns bancos. "Mas o investidor deve esperar por volatilidade, sim, embora isso também traga momentos de compra." Ele lembra que o Brasil está cada vez mais próximo de receber a nota de grau de investimento, a classificação de risco que permite aos grandes fundos de pensão aplicarem diretamente aqui, e, por isso, ainda estima altas para o mercado acionário. "Continuo muito otimista com a bolsa para os próximos 10 ou 12 meses e acho que está será a última grande 'pernada' antes do grau de investimento", diz.

A decisão de ontem do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de baixar o juro básico é positiva para a bolsa no curto prazo, avalia Francisco Meirelles de Andrade, sócio da gestora Nest Investimentos. Apesar de o preço das commodities estar em alta há muito tempo e de o dólar mais fraco, a redução do juro resolve temporariamente o aperto de crédito apresentado nos EUA. "Mas se o dólar continuar caindo e as commodities subindo, o Fed poderá ter de aumentar o juro no ano que vem, o que seria ruim", diz. No curto prazo, no entanto, as ações mais ligadas a commodities, como Vale, Petrobras, Usiminas e CSN, devem continuar subindo, diz o executivo. "Se algo no cenário mudar, são as que tendem a cair mais", ressalva. Já no longo prazo, as maiores oportunidades estariam nos segmentos ligados ao crescimento interno como bens de capital, autopeças, varejo e setor imobiliário.

As bolsas globais devem continuar bem, com os emergentes indo melhor ainda, mas o investidor deve esperar volatilidade, avalia Paulo Pereira Miguel, economista da Quest Investimentos. "As economias globais devem continuar crescendo, apesar de os Estados Unidos estarem mais fracos", diz. Para ele, o dólar seguirá se enfraquecendo ante outras moedas no mundo.

Além dos fatores macroeconômicos, o fato de o investidor brasileiro estar migrando para ativos de maior risco, em especial para ações, contribui para uma expectativa ainda positiva para a bolsa. Hoje, as carteiras de ações representam apenas 11% do total de recursos investidos em fundos de investimento. "E se esse percentual crescer para 15%, por exemplo, já é uma expansão bastante grande e o Brasil começa a viver o início dessa mudança", lembra Póvoa, da Modal Asset.