Título: Fed faz novo corte no juro e taxa cai para 4,5%
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Fonte: Valor Econômico, 01/11/2007, Finanças, p. C2

O Federal Reserve (Fed, o BC americano) manteve a orientação do mês passado e reduziu sua taxa de juros em mais 0,25 ponto percentual, para 4,5% ao ano. O banco mais uma vez agiu para evitar que a crise imobiliária no país - agravada a partir de agosto pela crise no mercado de hipotecas de risco - ultrapasse o limite do setor financeiro e atinja a economia como um todo. Se os efeitos chegaram à economia real, no terceiro trimestre, ao menos, isso não ficou tão evidente: o Departamento do Comércio informou ontem - em caráter preliminar - que o Produto Interno Bruto (PIB) americano cresceu 3,9% entre julho e setembro (dado anualizado), acima dos 3,8% entre abril e junho.

Segundo o comunicado do Fed que acompanhou a decisão, o corte de 0,25 ponto, combinado à redução de 0,5 ponto determinada em setembro, deve "ajudar a evitar alguns dos efeitos adversos que a crise recente nos mercados financeiros" pode provocar na economia real. O comitê de política monetária do BC americano acrescentou que, depois desta ação, os riscos de aumento da inflação "a grosso modo se equilibram" com os riscos de diminuição do crescimento econômico.

A determinação de baixar novamente o juro básico, diz a nota, também visa "promover o crescimento econômico moderado" ao longo do tempo. A decisão, porém, não foi unânime. O diretor Thomas M. Hoenig votou por manter o juro inalterado. No presente momento, o Fed ainda vê desequilíbrios na equação que balanceia crescimento econômico e estabilidade de preços. Para a autoridade monetária americana, embora o crescimento econômico tenha sido sólido no terceiro trimestre e a tensão no mercado financeiro tenha se amenizado, "o ritmo da expansão deve se desacelerar no curto prazo, em parte refletindo a intensificação dos ajustes no setor imobiliário residencial " .

Ao decidir diminuir o juro para lidar com esse risco, o Fed não abandonou as preocupações com a inflação. Conforme o comunicado, as leituras dos núcleos dos índices de preços melhoraram modestamente neste ano, mas o repique das cotações de petróleo e commodities pode trazer novas pressões para a inflação. "Nesse contexto, o comitê acredita que alguns riscos para a inflação persistem e vai continuar a monitorar os desdobramentos da inflação cuidadosamente " , assegura o texto.

Assim como no mês passado, o Fed encerra seu comunicado com a garantia de que o comitê "vai continuar a analisar os efeitos destes e de outros acontecimentos nos prognósticos econômicos e agirá como necessário para encorajar a estabilidade de preços e o crescimento sustentado " .

Os números preliminares do PIB americano divulgados ontem mostram que os gastos dos consumidores contribuíram com 2,11 pontos percentuais para o resultado no terceiro trimestre, ante contribuição de 1 ponto percentual no segundo trimestre. O crescimento dos gastos com bens duráveis (com durabilidade prevista de ao menos três anos) foi de 4,4%, em comparação ao 1,7% no trimestre anterior; já os gastos com bens não-duráveis (como alimentos e vestuário) cresceram 2,7%.

Os movimentos nos índices de inflação, se não chamaram a atenção do Fed nesta reunião, podem voltar a assumir o centro das atenções na reunião programada para 11 de dezembro (a última do ano). O Departamento de Comércio informou que o núcleo do índice de inflação atrelado à leitura do PIB subiu 1,8% entre julho e setembro, ante alta de 1,4% no trimestre imediatamente anterior. O banco considera adequado uma taxa de 2%.

No mês passado, os preços ao consumidor tiveram a maior alta desde maio, subindo 0,3% - superou as previsões, que eram de alta de 0,2% (o núcleo da inflação, no entanto, subiu 0,2%, em linha com o esperado por economistas e investidores). Os preços da energia devem ganhar força: com a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, o consumo de combustível para calefação cresce de modo significativo, o que pode sinalizar maior pressão sobre os estoques de petróleo do país - os preços do produto subiram 0,9% em setembro.