Título: Indianos reforçam negócios no Brasil
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 21/09/2007, Empresas, p. B3

Sergio Zacchi / Valor Sérgio Rodrigues, presidente da TCS no Brasil: atuação ficará concentrada em novas instalações em Barueri, na Grande São Paulo, para onde equipe está sendo transferida; operações de Brasília e Campinas (SP) serão mantidas As companhias indianas de tecnologia da informação (TI) ainda não construíram no Brasil nenhum dos palácios high tech que costumam maravilhar os visitantes em cidades da Índia como Chennai, a antiga Madras, ou Hyderabad. Mas guardadas as proporções entre os negócios lá e aqui (com ampla vantagem para o mercado indiano), três das quatro gigantes do setor - TCS, Satyam e Wipro - preparam-se para uma nova e reforçada fase de investimentos no Brasil. E como se sabe, no setor de serviços de TI, tão fortemente apoiado em mão-de-obra, crescer significa uma coisa: contratar mais pessoal.

Na TCS, braço do grupo Tata - o maior conglomerado industrial da Índia -, o plano é elevar o quadro atual, de 1,7 mil pessoas, em quase 200% nos próximos dois anos. "A companhia está estruturada para chegar a 5 mil profissionais até 2009", diz Sérgio Rodrigues, presidente da TCS.

Nos últimos meses, as mudanças em torno da expansão dos negócios ganharam um sentido literal na TCS. A empresa está transferindo seu pessoal de São Paulo para um novo centro de serviços em Barueri, na Grande São Paulo, onde já tinha instalações menores. "Dos 1,7 mil funcionários atuais, entre 900 e mil ficarão no novo prédio", diz. Os demais ficarão divididos entre Brasília e Campinas (SP), onde a empresa também já opera outros centros.

De certa forma, a transferência completa a transição mais importante da companhia no Brasil, desde que ela começou a atuar no país, em 2003, numa associação com a brasileira TBA.

Há quatro meses, depois de cinco anos de parceria, as duas empresas encerraram a aliança, com a TCS indiana adquirindo os 49% que pertenciam à TBA, num acordo de US$ 33,4 milhões. Apesar de tornar-se uma subsidiária integral do grupo indiano, a TCS continuou a dividir espaço com a equipe da TBA São Paulo, em instalações da ex-sócia. A mudança coloca um fim nisso, mas já estava planejada mesmo antes de a aliança terminar, diz Rodrigues. "Já tínhamos planos para consolidar a operação, o que acabou coincidindo com a separação."

Na Satyam, quarta maior empresa de TI da Índia, também está em estudos a construção de um centro de desenvolvimento maior. A empresa, que desembarcou no Brasil em abril, quase dobrou sua equipe desde então, de 70 para 130 profissionais. Mas para tornar viável seu plano de crescimento, que prevê quintuplicar o quadro de pessoal até setembro do ano que vem, terá de encontrar um novo espaço.

"Estamos na fase final de avaliação do local onde pretendemos instalar nosso centro, que pode ser ou não no Estado de São Paulo", diz Ideval Munhoz, gerente-geral da Satyam para o Brasil e a América Latina.

A idéia é transformar o escritório atual, que fica na região da avenida Berrini - uma das mais valorizadas da cidade -, no quartel-general da companhia. A equipe de desenvolvimento, que responderá pelo grosso das contratações, será acomodada em outra região, mais barata. "Ainda neste ano vamos inaugurar as novas instalações", diz Munhoz.

A Wipro, outra gigante indiana, já definiu o lugar onde pretende fixar sua nova base: Curitiba (PR). A cidade está indiretamente ligada à história da companhia. Em 2001, foi em Curitiba que a Enabler, uma empresa de tecnologia ligada ao grupo português Sonae, decidiu instalar sua sede brasileira. Em junho do ano passado, a Enabler foi comprada pela Wipro, que herdou as operações brasileiras. "A presença da Enabler na Europa e na América Latina foi, aliás, um dos motivos que atraíram o interesse da Wipro", diz Fernando Estrázulas, diretor da empresa no Brasil.

Atualmente, está em fase de estudo o projeto de expansão da Wipro no país, afirma Estrázulas. A decisão de ampliar as instalações em Curitiba, diz o executivo, não significa a impossibilidade de estabelecer bases em outros locais. Atualmente, a companhia tem cerca de 70 profissionais no Brasil.

Em que pesem as diferenças no porte da operação brasileira e nas próprias estratégias de competição, o objetivo entre essas companhias é o mesmo: transformar-se em uma alternativa de peso à India na exportação de serviços para grandes clientes, principalmente dos Estados Unidos.

A TCS originalmente desenhou sua subsidiária brasileira para fornecer serviços regionais, mas posteriormente reposicionou a operação para atender clientes de qualquer parte do mundo. Por enquanto, 90% da receita ainda vem de multinacionais instaladas no Brasil ou companhias nacionais; a exportação de serviços responde pelos 10% restantes. A meta da TCS, porém, é mudar radicalmente esse quadro até 2009, numa proporção de 60% para os serviços no país e 40% para o exterior, diz Rodrigues.

A expectativa dos executivos brasileiros é que as vantagens locais, como o fuso horário mais adequado aos clientes americanos e a qualidade dos programadores brasileiros, supere restrições como a rigidez da legislação trabalhista e a falta de profissionais que falem inglês, convertendo o país numa alternativa viável aos serviços prestados na Índia. Pesa a favor o fato de que muitas companhias americanas não querem abrir mão dos fornecedores indianos, mas começam a exigir que os serviços sejam prestados fora da Índia, para evitar a dependência de um único local.

"(O Brasil) é, sim, uma opção de 'near shore' (prestação de serviços para países vizinhos) para o mercado americano", diz Munhoz, da Satyam. A companhia está em fase adiantada de negociações para migrar o contrato de um cliente americano, hoje atendido nos Estados Unidos, para o Brasil, afirma o executivo. "Já enviamos uma equipe aos EUA para conhecer a empresa e ser treinada nos seus sistemas."

Acertar nos primeiros contratos é essencial para as companhias indianas que atuam no Brasil: a expectativa é de que, fazendo tudo certo e a custos competitivos nos acordos iniciais, outros virão numa espécie de boca-a-boca internacional.