Título: Seguradoras ampliam os investimentos no Brasil
Autor: Junior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2007, Finanças, p. C12

A América Latina virou a bola da vez para o setor de seguros. De olho na retomada do crescimento econômico da região, as seguradoras americanas e européias já começaram um movimento de expansão em alguns países. O Brasil, com 42,5% dos prêmios da região, é onde este movimento começa com mais força. Os especialistas também apostam na vinda de novas seguradoras, em busca de retornos maiores que nos mercados desenvolvidos. As projeções são de que o mercado tem potencial para triplicar de tamanho.

Depois de anos de estagnação e baixo crescimento, a América Latina começa finalmente a deslanchar, com as maiores taxas de expansão desde os anos 70. Este ano devem ficar em torno de 5%.

Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), destaca principalmente as economias do Brasil e do México como as de maior vigor. "O Brasil vai muito, muito bem. Melhor do que se esperava", afirmou o consultor anteontem em uma conferência em Boston, que discutiu o mercado de seguros da América Latina e reuniu vários executivos mundiais do setor.

As duas exceções apontadas por Greenspan são a Argentina e a Venezuela. Segundo ele, a inflação argentina vem sendo "maquiada" e isto pode comprometer o país no futuro. Para o Brasil, ele tranqüiliza os investidores e prevê a manutenção do crescimento econômico.

"Os mercados da América Latina estão mais atrativos do que nunca", afirma Robert Kerzner, presidente e CEO mundial da Limra International, uma entidade dedicada a pesquisas e análises dos seguros de pessoas, responsável pelo evento de Boston. "Podemos esperar um grande aumento de seguradoras na região nos próximos cinco anos", afirmou ao Valor.

Exemplos recentes de aumento de investimentos não faltam. A espanhola Mapfre anunciou na semana passada a entrada no segmento de capitalização e prepara agora a atuação no setor de saúde. A MetLife quer atuar no setor de planos odontológicos e a americana Liberty aumentou sua presença no Brasil com a compra da Indiana Seguros. A Prudential, outra seguradora americana, esta abrindo novas filiais no país e lançando novos seguros de vida.

Já a seguradora suíça Zurich resolveu ampliar seus ramos de atuação, criando uma linha de produtos financeiros e contratando vários executivos.

Os segmentos apontados como de maior potencial são os seguros agrícolas e os seguros de vida. Há ainda o microsseguro, apólices desenhadas para a população de menor renda que já despertou o interesse da espanhola Mapfre, além do Bradesco e da SulAmerica. Na Colômbia, a Mapfre vende apólices a US$ 2,40 e, em alguns casos, comercializa 12 mil delas por mês, número elevado para o modesto mercado colombiano.

O setor de seguros no Brasil vem crescendo nos últimos anos a taxas de 15%. Este ano, deve ser pelo menos de 17%, puxado principalmente por seguros para o mercado de crédito, com expansão acima dos 50%. Nos países desenvolvidos, as taxas não chegam nem perto disso. São muito menores que 10% e os retornos são modestos. Por isso, o interesse das companhias na região.

A América Latina responde por 6% da economia mundial e por 9% da população do planeta, mas fica somente com 1,9% dos prêmios mundiais dos seguros, destaca Victoria Bejano de la Torre, presidente da Mapfre na Colômbia. "Por isso, o potencial de crescimento para o setor é muito grande" afirma a executiva.

Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o setor responde por 2,4% na América Latina, em comparação aos 8,7% nos EUA e 7,3% na Europa. Ou seja, o mercado pode triplicar de tamanho. O gasto médio anual com seguros por pessoa em países como Brasil e Argentina fica na casa de US$ 127. Na Europa, as pessoas não gastam menos que US$ 1,7 mil; nos EUA, gastam ainda mais, US$ 3,8 mil.

Um exemplo de como o setor de seguros é dependente da expansão da economia pode ser visto na Argentina. Em 2001, antes da crise economia que abalou o pais, os prêmios de seguros de vida somavam US$ 12,7 bilhões. Em 2003, no auge da crise, caíram para US$ 2,6 bilhões. Com a retomada do crescimento, começaram a se recuperar, mas ainda não atingiram um nível pré-crise, destaca Eduardo Cassese, vice-presidente da Alico Seguros, empresa comprada pela americana AIG. Em 2006, os prêmios somaram US$ 3,8 bilhões.

Além do maior crescimento e estabilidade, os países da região vêm modernizando suas legislações para o setor. O Brasil e a Colômbia, por exemplo, criaram novas regras para capital e solvência, em linha com as exigidas na Europa. Destaca-se ainda a abertura do mercado de resseguros no Brasil, um dos poucos países do mundo, incluindo Cuba, que tinha o setor fechado. No Chile, o setor de previdência passa por mudanças regulatórias.