Título: Fabricantes de máquinas pedem fim de taxa sobre aço
Autor: Manechini , Guilherme ;
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2007, Empresas, p. B8

Os fabricantes de máquinas rodoviárias, a exemplo do que fizeram as montadoras em 2005, apresentarão ao governo federal as dificuldades que enfrentam com o real valorizado e, sobretudo, com o alto preço da chapa grossa de aço no mercado interno. A idéia dos produtores de bens de capital é que o governo sensibilize-se com a perda de competitividade do setor e reduza a alíquota de importação do produto, atualmente de 12%.

De um lado está o setor de bens de capital, que demandam o metal e, do outro a Usiminas, detentora de praticamente toda a produção brasileira deste tipo de aço. A redução de alíquota é vista pelos fabricantes mais como uma forma de frear as altas no preço do aço produzido no país, do que como pretensão de incrementar as importações. Os fabricantes apresentarão seu pleito por meio da Abimaq e Sindimaq, mas ainda não há uma data definida para que isso ocorra.

De acordo com o presidente da câmara setorial de máquinas rodoviárias da Abimaq e diretor administrativo da Komatsu, Nei Sakamoto, o pedido ocorre porque já houve redução de alíquota na importação de aços do tipo chapa fina. "Sem dúvida é uma forma de negociarmos melhores preços no mercado interno, mas abre a possibilidade de importarmos", diz.

A estimativa dos fabricantes é de que o preço da tonelada de chapa grossa de aço no país esteja custando entre 20% e 25% mais do que na China e nos Estados Unidos, por exemplo. Em 2005, quando o governo federal reduziu a zero a alíquota de 15 produtos siderúrgicos, a Abimaq também solicitou atenção ao aço chapa grossa.

Até então, o preço do aço no custo de produção dos equipamentos era compensado com ganhos obtidos com o dólar. Com a desvalorização da moeda americana, a maquiagem caiu. Segundo o presidente da Dynapac no Brasil, Paulo de Almeida Barros, o custo do aço representa até 50% do custo total de uma máquina rodoviária.

Na Caterpillar, a diretora de assuntos corporativos, Suely Agostinho, relata que há dois anos a produção de retroescavadeiras migrou para a unidade mexicana da empresa. "Reduzir os custos do aço, logística e de produção são as nossas alternativas para ganharmos competitividade". E emenda: "Dentro da Caterpillar, a concorrência interna é mais dura do que a externa. São 109 unidades no mundo que competem entre si".

Na outra ponta, Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas, diz que os fabricantes de máquinas pesadas enfrentam um problema de câmbio (real bastante valorizado frente ao dólar) e não de aumento de preços da chapa grossa. "Nosso preço está em linha com os preços internacionais", afirma, lembrando que se lá fora está US$ 700 ou US$ 800 a tonelada, ao ser internado no país o preço sobe com frete, taxas portuárias, frete interno, entre outros, e alíquota de importação. Aqui, informa o executivo, para atendê-los "just-in-time", dar assistência técnica e livrá-los de manter material estocado, que tem custo financeiro, a empresa tem um custo alto. "Isso tem um valor", declara.

Campos refuta a ameaça de pedido de redução de alíquota para as chapas grossas pela Abimaq junto ao governo. "Isso não faz nenhum sentido porque todo o mercado nacional está abastecido". E reafirma: "O problema das fabricantes é o câmbio, principalmente daquelas que produzem para exportar". Ele defende a taxa de importação, dizendo que é assim em todos os países. "Tem de haver uma proteção para a siderurgia, para que o setor possa fazer resultados, investir e abastecer o país. Isso não ocorre sem uma siderurgia forte".

A atual tentativa de pressionar a Usiminas repete o embate de 2005. Na época, o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) criticou a redução afirmando que "se o objetivo do governo é impedir a alta dos preços do aço ao consumidor final, seria mais coerente reduzir a alíquota de importação em toda a cadeia, incluindo o segmento de veículos e não só o da matéria-prima".

No entanto, na visão dos fabricantes a medida surtiu efeito. "A importação aconteceu em níveis que não abalaram a siderúrgicas e certamente conteve os preços do aço", contesta Sakamoto. Para ele, a maior prova da eficácia da redução é que o assunto saiu da pauta de reivindicações da indústria automotiva. As reclamações dos fabricantes só não são maiores por conta da demanda crescente do mercado interno. Fontes do setor informaram que nos últimos três anos diversas reuniões com o objetivo de explicar a situação à Usiminas foram realizadas. Todas em vão.

O presidente da Usiminas menciona que a empresa é a única fabricante no Brasil que tem um plano de expansão em curso na área de chapas grossas, para mais 500 mil toneladas. Deve ficar pronto por volta de 2010. "Chegamos até a importar o produto no início do ano - 120 mil toneladas - para atender a demanda interna". Hoje, a empresa tem duas linhas de produção: uma na usina de Ipatinga (MG), para 1 milhão de toneladas; e outra na Cosipa, em Cubatão (SP), de 800 mil toneladas.

Campos finaliza dizendo que a siderurgia nacional enfrenta um custo de capital bem superior ao de outros países. "O que eles reivindicam não faz sentido e eliminar a alíquota de importação será um tiro no pé", afirma. "Se o dólar tivesse valendo R$ 2,00 ou R$ 2,10 esse desequilíbrio não estaria ocorrendo com as fabricantes de máquinas", comenta o executivo.

Vale ressaltar que na última alteração feita pelo Ministério do Desenvolvimento, em 27 de setembro, saíram da Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (TEC) seis tipos de aço. Entre eles está o de espessura igual ou superior a 3 milímetros. Já os de espessura superior a 1 mm mas inferior a 3 mm; de espessura igual ou superior a 0,5 mm mas não superior a 1 mm; de espessura inferior a 0,5 mm seguem na lista. A Abimaq pedirá redução de três tipos de aços laminados a quente (NCM 5100, 5200 e 5300).