Título: Forte expansão da demanda não gera pressão inflacionária, aponta estudo
Autor: Balarin , Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2007, Brasil, p. A2

A visão predominante hoje - expressa, inclusive, na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) - é a de que o alto nível de utilização da capacidade em alguns setores poderá pressionar a inflação. A equipe de macroeconomia do Credit Suisse (CS) decidiu estudar o assunto a fundo e acaba de chegar à conclusão de que não: o atual ritmo de expansão da demanda não é inflacionário. "Há vários fatores que indicam que não é possível comparar a aceleração da economia de hoje com a de 2004. Agora, o movimento é sustentável", diz Nilson Teixeira, economista-chefe do Credit Suisse.

Em sua análise, a equipe do banco dividiu o IPCA em três grupos: alimentos e bebidas, serviços e preços livres (produtos industrializados excluindo a indústria de alimentos). Juntos, esses três grupos representam 69% do IPCA. Ficaram de fora da análise os preços administrados.

Na área de alimentos e bebidas, cuja inflação acumulada em 12 meses subiu de 1,2% em dezembro de 2006 para 9,7% em setembro de 2007, a expectativa é que o resultado de outubro indique o primeiro recuo desde junho do ano passado. Em dezembro, a expectativa é que a inflação anual desse grupo caia a 8,5% em dezembro.

No segundo grupo, dos serviços, após uma breve interrupção do movimento de queda em agosto, o indicador já começou a recuar em setembro e o Credit Suisse prevê um novo patamar baixo em outubro, de 0,28%. Para 2008, a expectativa da inflação de serviços é de 4%.

Entre economistas, a grande dúvida está no terceiro grupo, o dos preços industrializados, que representam um quarto do IPCA. A análise corrente é que a forte expansão da demanda e a elevada utilização da capacidade poderiam pressionar a inflação. Mas, segundo Teixeira, há outros fatores que influenciam esses preços, como taxa de câmbio, aumento da participação das importações no consumo e crescimento dos investimentos. "Além disso, consideramos a expectativa de os empresários subirem ou não os preços nos próximos três meses, medida pela sondagem da Fundação Getúlio Vargas", explica Teixeira. Números recentes mostram que o nível de utilização da capacidade está descasado com a intenção dos empresários de aumentar preços.

Um dos fatores que devem barrar a inflação é a apreciação cambial. O Credit Suisse recentemente revisou sua expectativa para a taxa de câmbio de R$ 1,80 para R$ 1,70 por dólar no fim deste ano. Com a atividade mais forte, a transferência dessa apreciação cambial para os preços demora mais para acontecer (em um primeiro momento, o empresário a apropria como margem), mas acontece, segundo Teixeira. Além disso, diz, o câmbio incentiva as importações, elevando a participação dos produtos importados no mercado doméstico. Mesmo com um alto nível de utilização da capacidade, portanto, o consumo em alta é atendido pelo crescimento das importações. E o preço em reais dos produtos importados - inclusive insumos industriais - contribui para a manutenção da inflação baixa. O aumento das compras no exterior tem ainda outro efeito: aumenta a competição com os produtores nacionais, inibindo o aumento de preços dos produtos domésticos.

Teixeira afirma que outro fator analisado foram os investimentos, que, após quatro trimestres, transformam-se em capacidade produtiva. "Hoje, a economia está mais previsível, há crédito e investimentos. O empresário, em vez de aumentar preços, quer aumentar os investimentos para produzir mais. O país, hoje, consegue conviver com uma maior utilização da capacidade sem gerar pressão inflacionária", conclui.