Título: Lula faz ofensiva junto a empresários para conseguir apoio à prorrogação
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Politica, p. A9

Animado com os números positivos da economia e com os elogios recebidos durante a viagem pelos países nórdicos e pela Espanha, no mês passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer saber dos cem maiores empresários nacionais porque eles insistem em reclamar tanto da carga tributária, dos juros e, especialmente a Fiesp, da CPMF. A entidade paulista chegou a organizar um abaixo assinado pedindo o fim do imposto do cheque, cuja PEC segue agora para a tramitação no Senado, e o chefe do governo ficou irritado com o lobby contra o imposto que a entidade está fazendo, junto aos senadores. O presidente quer exatamente o contrário, que os empresários pressionem pela aprovação da CPMF.

"Engraçado, eles querem acabar com a CPMF mas quando surgem propostas de mexer no Sistema S, a Fiesp reclama. É fácil propor reforma na casa dos outros", criticou o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, também ontem, fez uma ameaça velada aos empresários, afirmando que se a CPMF não for aprovada, o governo pode optar pelo aumento de alíquotas de impostos, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e o Imposto sobre Exportação. Mantega explicou que algumas alíquotas de tributos podem ser elevadas sem autorização do Legislativo. Como exemplo citou aqueles dois e mencionou que há "vários outros". Ele também ponderou que não gostaria dessa alternativa porque isso seria pior do que manter a CPMF.

A lista dos empresários convidados para o encontro com o presidente, marcado para o dia 24, ainda está em elaboração no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O critério para o convite não passa apenas pelo balanço contábil das empresas, mas também pela representatividade do empresário na sociedade e no segmento que atua. Lula quer, nas palavras de um assessor do Planalto, promover uma "mobilização empresarial".

No início da noite de ontem, Lula recebeu o presidente da Votorantim Industrial, José Roberto Ermírio de Moraes. A empresa levou ao presidente um plano de investimento de R$ 25,7 bilhões entre 2008 e 2012. Diante dos números expressivos, Lula afirmou: "Invistam, acreditem no país. Quem não apostar agora, estará fora do mapa mundial dentro de dez anos".

José Roberto concorda que o momento econômico brasileiro é favorável, com a macroeconomia estabilizada. Defendeu, contudo, ações mais efetivas no campo da microeconomia, como aumento do crédito, investimentos em habitação e distribuição de renda. Diferente do presidente, ele não acredita que o empresariado esteja pessimista ou reclamando demais. "Faz parte do jogo democrático, negociações e reivindicações sempre são normais", defendeu.

Em relação à CPMF, José Roberto não vê qualquer problema na pressão feita pela indústria para que a alíquota seja reduzida - o abaixo-assinado da Fiesp propunha a extinção da CPMF. "É justo, um cidadão ou um empresário, defender a redução da carga tributária no país. Não vejo nada de errado nisso", declarou o empresário da Votorantim.

Lula convidou José Roberto Ermírio de Moraes a participar do encontro no fim do mês. Nas três intervenções que fez defendendo a necessidade do encontro - uma durante reunião do Conselho Político, outra em jantar com líderes aliados da Câmara e mais uma durante um discurso em Santa Catarina - o presidente reclamou que os empresários estrangeiros (especialmente os espanhóis) querem investir no país, e os brasileiros só ficam reclamando. "Se nós não falarmos bem de nós, ninguém vai falar", acredita Lula.

O presidente já está numa ofensiva junto aos empresários, antes mesmo da reunião do fim do mês. Ontem, Lula reuniu-se com empresários da Alcoa, da Votorantim, jantou com CEOs americanos e brasileiros, num encontro promovido pelos Ministérios de Indústria e Comércio dos dois países. (Colaborou Arnaldo Galvão)