Título: PSDB ironiza concessões feitas por Lula
Autor: Agostine, Cristiane; Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Politica, p. A10

A concessão de sete rodovias federais feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez com que o PT perdesse o trunfo eleitoral usado contra o PSDB na campanha de 2006: a contrariedade à privatização. Essa é a leitura feita por tucanos sobre o leilão que deu a uma companhia espanhola o direito de exploração por 25 anos de rodovias brasileiras.

Integrantes do PSDB reagiram com duras críticas à mudança de discurso petista. Para o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, o argumento do PT contra a privatização e concessão de bens públicos era apenas eleitoreiro. "A eleição já passou e eles ganharam o que tinham de ganhar. Agora fazem diferente. O futuro os condenará", afirmou o tucano, que foi ministro dos Transportes durante o governo Itamar Franco. O processo de concessão de rodovias e trechos rodoviários teve início em 1993, sob comando de Goldman, e finalizado em 1995, na administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Na análise dos tucanos, o governo Lula caiu em contradição e frustrará militantes. Segundo o secretário-geral do PSDB, Eduardo Jorge, "mais uma vez, o PT prega uma coisa e faz outra". "Eles que atacaram tanto as privatizações do governo Fernando Henrique vem agora e privatizam", ironizou. Para Eduardo Jorge , "é claro que um pedágio um pouco mais barato vai permitir a manipulação propagandística do PT", entretanto os petistas não poderão negar que foi feita uma privatização das rodovias.

O tucano fez uma ressalva à concessão realizada durante a gestão tucana e a de Lula. "Existe uma diferença básica: no governo FHC, a privatização gerou recursos para a União, que pode aplicar esses recursos para os mais pobres. Essa do Lula é diferente. Quem vai receber o benefício são os menos necessitados, que viajam de carro nas boas estradas. É distribuição de renda ao contrário", afirmou Eduardo Jorge, que foi secretário-geral do governo Fernando Henrique.

O discurso do PT anti-privatização foi um dos principais trunfos eleitorais usados no segundo turno da campanha pela reeleição do presidente Lula. "A população aceitou a idéia de que o PSDB era privatista e que isso era ruim", lembrou Antonio Prado, sócio do instituto Análise, Pesquisa e Planejamento de Mercado e antigo consultor eleitoral do PSDB. "O que o Lula vai dizer agora? Vai ter que adaptar o discurso para 'Nunca antes na história desse país um governo conseguiu um pedágio tão barato'".

Prado considera que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, saiu fortalecida do processo de concessão, ao conseguir tarifas baixas para os pedágios e ao enfrentar a relutância em entregar a administração de rodovias à iniciativa privada. Entretanto, o mesmo não vale para o PT. "Agora o discurso ficou equalizado. Para o militante petista vai ser difícil, principalmente porque além de privatizar, foi para uma empresa estrangeira. Vai pensar que tudo é farinha do mesmo saco". Agora, segundo os tucanos, o PSDB tentará tirar vantagem da situação e defenderá que o partido foi pioneiro nas concessões. "O governo Lula teve de seguir o mesmo caminho trilhado tanto no governo federal como em São Paulo. Não é possível melhorar a situação das rodovias só com recursos do Estado", acredita Prado.

Na página eletrônica do partido, os tucanos deram destaque os filiados que diziam que "o discurso estatizante do PT era mero oportunismo" e que "Lula ignorou compromissos de campanha".