Título: Bischoff será o presidente interino do Citi
Autor: Sidel , Robin
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2007, Internacional, p. A9

Charles Prince não foi capaz de unir as peças do vasto império do Citigroup, e seu sucessor enfrentará muitos dos mesmos desafios que atrapalharam sua gestão.

Sua saída foi selada no fim da tarde de ontem, segundo pessoas familiarizadas com a decisão, depois de uma reunião do conselho que também escolheu Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro americano e atual membro do conselho do Citigroup, para presidir o conselho. Win Bischoff, presidente do conselho do Citi Europe será o diretor-presidente interino.

Dez anos depois de Sanford Weill ter erguido o Citigroup a partir de uma série de aquisições de firmas financeiras, o conglomerado que ele criou continua sendo um amontoado de operações muitas vezes desconjuntadas cujos empregados tendem a ignorar ou concorrer uns com os outros.

O Citigroup ainda é o maior bancos dos Estados Unidos em ativos. Mas, apesar de anos de tentativas, Prince não conseguiu alcançar sua meta de forjar "Um Citi", como sua campanha interna dizia, a partir das partes diversas da companhia.

Operadores de renda fixa ainda se prendem a suas raízes corporativas, às vezes atendendo os telefones identificando-se como "Salomon", embora o Citigroup tenha abandonado o nome Salomon Brothers e instruído os empregados a não usá-lo. A rede de varejo do banco não está atrelada a outras partes da companhia, de modo que os caixas nas agências não podem ver se o cliente na frente deles já teve uma aprovação prévia para um cartão de crédito. Até recentemente, as divisões de mercados de capitais e pessoa física nas operações européias do banco duplicavam funções administrativas básicas porque cada uma delas tinha suas próprias equipes jurídicas e de recursos humanos.

Os quatro anos de Prince à frente do grupo estavam para terminar ontem com o banco engolfado em problemas decorrentes de enormes baixas contábeis relacionadas à turbulência nos mercados de crédito. O Citigroup deve informar que dará baixa em cerca de US$ 8 bilhões a US$ 11 bilhões para refletir o declínio desde 30 de setembro do valor de títulos lastreados por créditos imobiliários de alto risco.

As perdas se somam a US$ 3,55 bilhões em baixas contábeis de títulos que o banco anunciou em 15 de outubro, quando informou que o lucro do terceiro trimestre havia caído 57% em relação a um ano antes.

Mas o problema central do Citi - e o grande fracasso de Prince - não são apenas as recentes perdas no mercado. É também a conspícua falta de sucessos em outras áreas que pudessem compensar as perdas.

Essa era a grande idéia estratégica por trás do "modelo de banco universal" criado por Weill dez anos atrás. O banco universal poderia gerar mais receita de clientes ao oferecer uma gama variada de serviços financeiros relacionados. Ao mesmo tempo, o agrupamento de divisões variadas deveria fornecer um colchão, no qual declínios em algumas áreas seriam compensados por melhoras em outras.

Alguns analistas de Wall Street e investidores questionam o modelo, sugerindo que o Citigroup faria melhor em cindir-se. Mas a estratégia tem tido algum sucesso em um dos principais rivais do Citi, o J.P. Morgan Chase & Co., que opera em muitas das mesmas áreas do Citigroup.

O J.P. Morgan Chase - que é liderado por James Dimon, um ex-colega de Prince no Citigroup que já chegou a ser um dos principais candidatos à presidência do Citi - também foi atingido por perdas de crédito no terceiro trimestre. Mas compensou isso em áreas como cartões de crédito, administração de fortunas e banca comercial. "Muitos dos cilindros estão funcionando bem direitinho aqui", disse Michael Cavanagh, o diretor financeiro do J.P. Morgan, numa teleconferência no mês passado.

Enquanto se mantinha fora das operações do dia-a-dia do Citi, o novo presidente do conselho, Rubin, que também já presidiu a Goldman Sachs, foi um dos maiores defensores de Prince nos bastidores. Agora, ele será forçado a assumir um papel muito maior na estabilização dos negócios do grupo, enquanto se busca um novo candidato para enfrentar muitos dos mesmos problemas que Prince foi incapaz de resolver.

Embora tenha conseguido em alguns casos eliminar culturas díspares entre as partes do Citigroup, Prince cultivou pouco para assumir o lugar dessas culturas.

Com sua esperada saída, Prince, de 57 anos, torna-se o segundo presidente executivo de Wall Street a perder seu emprego em menos de uma semana, em meio a um aperto de crédito e a um colapso na indústria de créditos imobiliários de alto risco (conhecida como "subprime") que já custou bilhões de dólares em baixas contábeis a firmas financeiras. Na semana passada, Stan O'Neal, da Merrill Lynch, foi forçado a sair depois de alertar seu conselho de que as baixas contábeis da companhia no terceiro trimestre aumentariam para US$ 8,4 bilhões, ante uma estimativa anterior de US$ 4,5 bilhões.

A grande baixa contábil do Citigroup é a mais recente de uma série de notícias ruins para o maior banco americano. Sua ação caiu quase 9% na semana passada, para o nível mais baixo dos quatro anos sob a liderança de Prince. Além de enfrentar custos crescentes que eclipsaram o crescimento da receita, o Citigroup teve bilhões de dólares em perdas com crédito nas últimas semanas. O colchão de capital do banco se deteriorou, o que levou um analista a sugerir que ele poderia ter de cortar seus dividendos ou vender ativos. Não foi possível localizar uma porta-voz do Citigroup para obter comentários. Na semana passada, uma pessoa familiarizada com a questão disse que não havia planos de corte dos dividendos.

Vários executivos de longa data deixaram o banco nos últimos anos, o que deixou o banco sem um grupo sólido de potenciais líderes em suas divisões mais importantes. Thomas Maheras, um respeitado veterano do Citi que supervisionava as operações de tesouraria e mercados de capitais, saiu no mês passado. Na semana passada, o banco demitiu Michael Raynes apenas um ano depois de o ter contratado do Deutsche Bank para injetar gás na operação de derivativos de crédito.

Até mesmo Weill, que havia ficado ao lado de Prince enquanto o Citigroup vendia alguns de seus negócios, começou a manifestar descontentamento com seu sucessor nas últimas semanas.

No fim de semana, cresceu a especulação sobre o provável sucessor de Prince. Um dos prováveis candidatos é John Thain, que é diretor-presidente da Nyse Euronext e um ex-presidente da Goldman Sachs.

Também está na lista Robert Willumstad, um ex-diretor operacional do Citigroup que disputava a presidência quando Weill a entregou a Prince. Willumstad é atualmente presidente do conselho da seguradora American International Group Inc.

Ao renunciar, Prince buscou aceitar responsabilidade pela situação do banco, inclusive a crítica generalizada em relação à capacidade do grupo de gerenciar riscos durante um momento turbulento nos mercados de crédito. (Colaboraram Carrick Mollenkamp, Monica Langley e Andrew Morse)