Título: Nos EUA, demanda cai mais por trabalhador de qualificação média
Autor: Wessel, David
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2007, Internacional, p. A11

Você não precisa ser um PhD em Economia para notar que uma coisa grande tem acontecido no mercado de trabalho.

Os salários dos financistas de Wall Street estão aumentando, enquanto aqueles na indústria estão estagnados. As fábricas reclamam da "carência de profissionais especializados" ao mesmo tempo em que cortam funcionários da folha de pagamento. O número de empregos no sistema de saúde nos Estados Unidos subiu 45% nos últimos 15 anos, ultrapassando o aumento de 25% de outras áreas. Computadores parecem ter se infiltrado em todas as profissões, mas a demanda por imigrantes de salário baixo não diminui.

Durante décadas, empregadores nos EUA e em outros países industrializados procuraram um maior número de funcionários preparados, enquanto a tecnologia e a disponibilidade de trabalhadores de salários baixos no exterior diminuía o apetite de empregadores do mundo desenvolvido por funcionários locais de menor escolaridade. É doloroso e simples: empregadores de todos os tipos queriam mais preparo e escolaridade, e pagavam mais para obtê-los.

Não é mais uma questão simples assim.

Ainda há uma demanda forte por trabalhadores de alta capacitação - as estrelas de finanças, software, direito, esportes e entretenimento - assim como por funcionários capacitados em fábricas. A única novidade é a intensidade da demanda, que está levando o salário dessas pessoas ao topo.

Mas a demanda - e aqui vai a grande mudança- está crescendo para trabalhadores na base da pirâmide salarial: aqueles que limpam os parapeitos de hospitais, tomam conta das crianças, limpam os pratos em restaurantes e ficam de guarda no lobby de edifícios de escritórios. Em 1980, cerca de 13% dos trabalhadores sem nenhuma educação superior nos EUA trabalhavam em empregos de serviços pessoais desse tipo, segundo cálculos de David Autor, economista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. Em 2005, 20% deles estavam trabalhando com isso.

Os perdedores? "A classe média, que está afundando", diz o economista Alan Krueger, da Universidade de Princeton.

Os economistas de Lawrence Katze e Claudia Goldin, da Universidade Harvard, disseram recentemente que "os empregos nos EUA têm se polarizado em trabalhos de alto salário e de baixo salário às custas de empregos tradicionais de classe média".

Aqui está a hipótese que circula entre esses e outros acadêmicos. A tecnologia e a globalização estão elevando a demanda pelos funcionários mais escolarizados, aqueles valorizados pela habilidade abstrata ou conceitual. Gerentes de alto escalão de fundos de hedge não estão sendo substituídos por computadores; pelo contrário, eles estão usando os computadores para seu proveito.

Por outro lado, a tecnologia e a globalização estão reduzindo a demanda for trabalhadores que fazem tarefas de rotina em fábricas e escritórios, muitos deles com curso secundário e até superior completo. Sistemas de mensagens de voz substituíram as telefonistas de quadros de distribuição, softwares de contabilidade eliminam contadores, robôs tomam o lugar de funcionários de linhas de produção. Ou ainda, o trabalho é enviado para uma fábrica no exterior ou para um escritório ligado aos EUA por cabos de fibra ótica.

Mas a tecnologia e a globalização não estão reduzindo a demanda por funcionários de serviço pessoal. Suas tarefas não podem ser feitas por computadores ou enviadas para fora do país. Os serviços devem ser entregues "in loco" - e em pessoa - ou por nativos ou por imigrantes.

De fato, na medida em que os funcionários no topo ganham mais dinheiro, um maior número deles quer babás, jardineiros, "personal trainers" e "chefs" particulares. Esses trabalhadores estão se beneficiando indiretamente do fluxo de riqueza para cima. Seus salários têm subido, enquanto os daqueles que trabalham em fábricas ou escritórios, apesar de ainda serem mais altos que os de muitos trabalhadores de serviço, estão estagnados.

Alguns economistas especulam que as mesmas pressões econômicas ocorrem na Europa, mas estão escondidas por causa de regras e costumes que contêm os rendimentos do topo e também a demanda por trabalhadores de serviço pessoal da base. Isso significa menos desigualdade que nos EUA, mas também menos emprego em geral e mais pessoas com trabalhos secundários, aquelas que prestariam serviço se houvesse trabalho.

Então, o que os EUA deveriam fazer sobre isso? - se é que deveriam fazer alguma coisa. Essa é uma questão ainda mais difícil.

Os economistas previnem que proteger a classe média dando cobertura para a indústria contra a importação ou se intrometendo no mercado custaria muito para os consumidores. Alguns, certamente não todos, sugerem deixar o mercado à vontade e usar impostos para transferir o dinheiro dos vencedores aos perdedores. Outros sugerem "profissionalizar" os empregos de serviço pessoal, encorajando talvez a sindicalização, para aumentar salários. Diferentemente de empregos em fábricas, esses trabalhos parecem não poder ser transferidos para o exterior nem automatizados se os empregadores precisarem pagar mais.

A solução mais popular - pelo menos entre os economistas - é bastante familiar: educar todos os trabalhadores para que eles obtenham o conhecimento interpessoal ou abstrato (os trabalhos do futuro) em vez de saber apenas apertar botões ou digitar num teclado (os trabalhos em rápido processo de extinção).