Título: Crédito ficará mais caro
Autor: Caprioli, Gabriel; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 20/01/2011, Economia, p. 17

Associação Nacional dos Executivos de Finanças prevê que taxas dos financiamentos vão subir nos próximos 15 dias devido à tendência de que as altas prossigam Os consumidores que buscarem a partir de hoje novos financiamentos bancários ou crédito no comércio devem se preparar para pagar mais caro. Parte do efeito esperado pelo Banco Central, ao elevar ontem a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual para 11,25% ao ano, será sentida nos próximos 15 dias, segundo avaliação da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).

A resposta quase imediata ocorre, segundo o vice-presidente da instituição, Miguel de Oliveira, porque os bancos, normalmente, evitam repassar logo os juros aos clientes, quando entendem que o arrocho monetário será pontual (em uma única reunião) ou no caso de o BC se mostrar mais otimista em seus comunicados. ¿Para os bancos, é um risco subir os juros sem ter a certeza de que haverá novos ajustes na Selic, porque pode aumentar também a inadimplência. Entretanto, se pela nota divulgada após a reunião as instituições entenderem que haverá novos avanços, não demorarão a repassar para o consumidor¿, considerou.

As instituições bancárias sobem os juros porque, para elas, o custo de captar dinheiro para emprestar ao consumidor também fica mais alto. Com despesas maiores, os bancos também ficam mais cautelosos em conceder financiamentos. Além das pessoas físicas, as empresas ¿ incluindo o comércio varejista ¿ são obrigadas a gastar mais com juros ao tomar crédito. Atualmente, a taxa média cobrada pelas instituições dos clientes pessoa física é de 39% ao ano, enquanto para as pessoas jurídicas essa taxa é de 28%. Os juros maiores não devem frear bruscamente, mas reduzir aos poucos o estímulo dos consumidores em comprar, sobretudo utilizando parcelamentos mais longos.

Reflexo Se de um lado contribui com a suavização da inflação, o avanço da Selic traz prejuízos ao país, uma vez que afeta o crédito para o investimento e aumenta os custos do setor produtivo. Os juros mais altos geram ainda custos adicionais para os cofres do governo, já que parte da dívida pública é atrelada aos juros básicos. A atratividade para o investidor que aplica seus recursos em títulos soberanos (como também são chamados os papéis do governo) aumenta e, como parte desses aplicadores são estrangeiros, a decisão de elevar a taxa básica pressiona a taxa de câmbio, tornando o real mais forte e menos competitivo no mercado externo.

As apreensões relativas aos rumos que o Copom daria à Taxa Básica de Juros (Selic) associadas a más notícias vindas de Estados Unidos e Europa provocaram um mau humor generalizado no mercado financeiro global, derrubando bolsas de valores e o preço do dólar pelo mundo. A divisa americana caiu pelo terceiro dia consecutivo e pela oitava vez em janeiro, ao encerrar o pregão em baixa de 0,29%, cotada a R$ 1,673.

¿Não tivemos como fugir desse cenário externo desfavorável, sem dúvida. Porém, mesmo sem querer admitir, apesar das apostas em alta de 0,5 ponto da Selic, o povo morre de medo do que o Tombini (presidente do BC) pode fazer¿, ironizou um analista que não quis se identificar.

VAREJO PESA NO IGP-M A inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) desacelerou, com o atacado perdendo força, mas o movimento foi contido por uma pressão no varejo, influenciada por fatores sazonais. A alta foi de 0,63% na segunda prévia de janeiro, após avanço de 0,75% em igual período de dezembro, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) avançou 0,60% agora, contra 0,77% antes. O IPA agrícola subiu mais, 1,26% na segunda prévia deste mês, ante 1,05% na de dezembro, mas o IPA industrial desacelerou a elevação para 0,35% contra 0,67%.

PF DESCOBRE MÁFIA DOS TÍTULOS PÚBLICOS A Polícia Federal cumpriu ontem cerca de 30 mandados de busca e apreensão em seis estados e no Distrito Federal. Os agentes recolheram títulos da dívida pública falsificados, laudos periciais suspeitos, esmeraldas, armas e até animais. A operação batizada de Grammata ¿ ciência grega que estuda as letras do alfabeto ¿ investiga há quase um ano grupos suspeitos de praticar crimes contra o sistema financeiro nacional. Ninguém foi preso em flagrante. Os suspeitos adquiriam Letras do Tesouro Nacional da década de 1970 e ofertavam no mercado com a promessa de reembolso de 10 a 20 vezes maior do que o valor investido.

Fluxo positivo

A entrada de dólares diminuiu de intensidade na segunda semana de janeiro, mas continuou a superar a saída de moeda, aumentando o saldo do fluxo de câmbio no mês para US$ 5,185 bilhões. Na primeira semana, o fluxo estava positivo em US$ 4,267 bilhões. Os dados divulgados ontem pelo Banco Central revelaram também que, confirmando a expectativa de analistas, o BC reduziu a compra de dólares após anunciar a imposição de um depósito compulsório sobre as posições vendidas dos bancos no mercado à vista.

No acumulado até o dia 14, a autoridade monetária incorporou às reservas US$ 2,291 bilhões por meio de leilões ¿ menos da metade do fluxo de entrada no país. No ano passado, o BC comprou mais dólares do que o fluxo cambial. No dia 7, por exemplo, quando entraram US$ 2,998 bilhões, o BC comprou apenas US$ 270 milhões ¿ com liquidação dois dias úteis depois, no dia 11.

De acordo com o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, caso nenhum banco se disponha a recolher ao BC o novo compulsório, a posição vendida do sistema cairá cerca de US$ 7 bilhões em três meses, a US$ 10 bilhões. A declaração foi feita no anúncio da medida, em 6 de janeiro. O BC também diversificou a intervenção no mercado de câmbio, retornando às operações futuras pela primeira vez em dois anos com um leilão de swap cambial reverso na semana passada. O volume comprado foi de US$ 1 bilhão.