Título: Gerdau eleva aposta na América Latina
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2007, Empresas, p. B8

André Gerdau, presidente: "O PIB nesses países cresce entre 5% e 8% ao ano e todos precisam de muito investimento" Na consolidação mundial da siderurgia que atinge o setor desde 2004, ativos de países do norte da América do Sul, da América Central e do México parecem ter sido redescobertos de uma hora para a outra. Alguns nichos de mercado vivem uma disputa particular e competidores de peso aproveitaram a onda para demarcar território na América Latina. Dentre os grupos que se movimentam com mais agressividade em busca de oportunidades na região figuram o brasileiro Gerdau, a gigante ArcelorMittal e a argentina Techint, por meio da controlada Ternium. Sobrou espaço até para a estreante Votorantim, que aportou na Colômbia este ano com meio bilhão de dólares e apoderou-se da Acerías Paz del Rio.

A região ganha cada vez mais importância na estratégia da Gerdau, que iniciou seu processo de internacionalização pelo Uruguai em 1980. É um mercado em ascensão: do total exportado pela empresa no ano passado a partir do Brasil - 2,9 milhões de toneladas -, 44,1% destinaram-se a América do Sul e América Central.

A Gerdau foi com grande apetite às compras na região nos últimos três anos. Desde 2004, adquiriu duas empresas na Colômbia, uma no Peru, duas no México, uma na Venezuela e uma na República Dominicana. Nessas operações, incluindo assunção de dívidas, investiu mais de US$ 1 bilhão. Agora, tem bases produtivas em oito países, além de Brasil.

Para conhecedores do setor, o apetite do grupo ainda mantém-se aguçado. A avaliação é de que existem espaços a serem ocupados em outros países da região. Equador, Guatemala, El Salvador e Costa Rica são grandes importadores de aço e quase nada produzem. Mesmo no México, segundo maior mercado da América Latina, no Peru e na própria Colômbia avalia-se que ainda existem interessantes oportunidades de negócios.

André Gerdau Johannpeter, presidente da companhia gaúcha que é a 14ª do mundo e líder em aços longos nas Américas, é cauteloso ao falar dos passos futuros do grupo. Segue o estilo do pai, Jorge Gerdau, ao qual sucedeu no cargo em janeiro deste ano. "Olhamos todas as oportunidades de negócios que aparecem", disse ao Valor na semana passada entre os vários encontros que teve durante o evento anual do setor na América Latina, realizado em Cartagena.

Foi dessa forma que o empresário e principal executivo do grupo comandou nada menos que 11 aquisições neste ano, a última há duas semanas no México. Ao todo, US$ 4,9 bilhões foram investidos nessas transações, com destaque para a americana Chaparral (US$ 4,2 bilhões). Entre esses ativos, seis são unidades produtoras de aço e dentre elas quatro são latino-americanas. Assim, o portfólio de usinas da Gerdau na região subiu para 15.

"O PIB nesses países está crescendo entre 5% e 8% ao ano e todos precisam ainda de muitos investimentos, principalmente em infra-estrutura, além de habitação. Por isso, olhamos a região com otimismo", afirmou o empresário. O consistente avanço do grupo, diz ele, faz parte da estratégia de ocupar mercados, com visão de longo prazo. "Antes, por razões logísticas e proximidade, estava mais no sul da América do Sul; mais recentemente, focamos a parte norte, indo até o México".

De operações pequenas no Uruguai e Argentina e uma um pouco maior no Chile, aproveitando-se de sinergias com as usinas brasileiras, o porte do grupo na América Latina, sem incluir o Brasil, saltou para 2,3 milhões de toneladas em 2007. Com plano de investimentos de US$ 527 milhões nas empresas adquiridas até 2009, em modernização e ampliação, vai crescer 50%, para 3,1 milhões de toneladas.

"Esse dinheiro será destinado em grande parte para ampliar a capacidade da Siderperu, das usinas colombianas Diaco (aços para construção civil e indústria) e Sidelpa (aços especiais), e da AZA, usina chilena", explica André Gerdau. Um quinto do investimento ficará na Colômbia.

Líder no crescente mercado colombiano de aço, com vendas e produção em torno de um quinto do total de consumo projetado para 2007, a meta é duplicar a produção no país dentro de dois anos, de 530 mil toneladas atuais para 950 mil. As vendas locais, no primeiro semestre, alcançaram 300 mil, para um consumo total do país de 1,5 milhão de toneladas, apontam a Fedemetal e a Andi, entidades locais.

Na Colômbia, cuja demanda poderá atingir 3 milhões de toneladas este ano, com 50% disso importado, a Gerdau opera cinco unidades de produção e laminação de aço (quatro da Diaco e uma da Sidelpa) e sete de transformação (corte e dobra de produtos), espalhadas em vários pontos do país, com destaque para Bogotá, Cali, Medelín e Cartagena.

O investimento acima de meio bilhão de dólares não inclui aquisições nem a nova usina no México, de 700 mil toneladas. Com aporte de US$ 400 milhões, será uma parceria com o grupo local Corsa para fazer aços estruturais, um tipo de produto importado em grande quantidade pelo país.

Para o tamanho do grupo previsto até 2009, de 25,6 milhões de toneladas no mundo, o volume da América Latina, extra Brasil, significaria 12%. O próprio executivo reconhece que a dinâmica do setor, bem como a do grupo, não permite prever como estará a Gerdau até lá. Para especialistas, é certo que será bem diferente. Novas aquisições deverão ocorrer nesse tempo, prevêem.

André Gerdau ressalta que a concorrência é pesada na região. "Enfrentamos a competição local em cada país, a intra-regional e a internacional". Por isso, tem de ocupar espaços disponíveis, antes de outros, do Canadá à Patagônia. Nas Américas é líder em aços longos: produziu 15,6 milhões de toneladas em 2006. Com base em números obtidos até junho e considerando as novas aquisições, pode alcançar 18 milhões de toneladas neste ano.

A América do Norte (Estados Unidos e Canadá) já responde por metade da capacidade instalada da companhia gaúcha. Mas seu radar mira ativos também na Europa e Ásia. Na Espanha, entrou no início de 2006 e na Índia em meados deste ano.

Atualmente, incluindo o Brasil, o grupo responde por quase 15% da produção de aço total (planos, longos e especiais) da América Latina. Era 13,7% a participação em 2006: a Gerdau fez 8,6 milhões de toneladas e a região toda produziu 62,7 milhões. Se levar em conta apenas aços longos, sua participação foi de 37%. Essa fatia deve subir no próximo ano com mais 1,5 milhão de toneladas que virão da Açominas e as operações no México e na Venezuela.

De 2005 para 2006, a companhia cresceu 131% na América do Sul, sustentada por aquisições e as expansões de fábricas existentes. Com o avanço para outros pontos da América Latina, é esperado outro salto. O empresário diz não temer problemas políticos e crises econômicas na região. "Governos mudam e os países ficam e crises econômicas vêm e vão", afirma. "Nossa visão é de longo prazo".

Seu principal competidor regional no negócio de aços longos é a ArcelorMittal, com fortes posições no Brasil (antiga Belgo), México (onde fechou a compra neste ano da Sicartsa), Argentina (Acindar) e Trinidad e Tobago. A Ternium, do grupo Techint, faz esse tipo de aço na Venezuela e México, mas sua maior presença é no segmento de aços planos.

A receita da Gerdau na região, sem Brasil, foi de US$ 1,2 bilhão no ano passado, com produção de 1,2 milhão de toneladas e vendas de 1,5 milhão. Como há capacidade maior de acabamento, a empresa completa com material brasileiro. Com o Brasil, o faturamento somou US$ 7,1 bilhões. De janeiro a junho passado, a região respondeu por US$ 910 milhões, com vendas de 1,1 milhão de toneladas e produção de aço de 860 mil.

Mundialmente, o grupo está presente em 13 países, com 42 usinas siderúrgicas. Emprega 35 mil pessoas e obteve faturamento de US$ 12,6 bilhões em 2006. Neste ano, até junho, as vendas atingiram US$ 8 bilhões.