Título: De olho no crédito
Autor: Cotias , Adriana
Fonte: Valor Econômico, 05/11/2007, EU & Investimento, p. D1

O nada sutil apelo do crédito é que dá as cartas nas recomendações para a Carteira Valor de novembro. No período sazonalmente mais forte para o consumo, os grandes bancos privados aparecem em bloco entre as dez ações mais indicadas para o mês, com Itaúsa, a holding que controla o Itaú (4), Unibanco (3) e Bradesco (1). Com as instituições dando mais ênfase não só às operações de empréstimos tradicionais como também ao financiamento imobiliário, os portfólios das 10 corretoras participantes ainda são pontuados por papéis relacionados à cadeia da construção civil. Na dianteira isolada se mantém, entretanto, a mineradora Vale do Rio Doce PNA (preferencial, sem voto), com 5 citações - sem contar Vale ON, com uma indicação.

A interrupção dos cortes da taxa básica de juros, a Selic, num momento de expansão da demanda por crédito, configura-se como um cenário dos mais promissores para os bancos brasileiros, diz o chefe de análise da Link Investimentos, Celso Boin Júnior. "O aumento do volume de operações está garantido para o próximo trimestre e com uma rentabilidade até melhor após o Banco Central (BC) ter feito uma pausa no ciclo de redução de juros", afirma. Para o especialista, o crescimento da renda suporta essa expansão sem que as instituições financeiras incorram o risco de elevar em demasia as taxas de inadimplência das suas carteiras.

No rol de bancos listados no pregão, Boin Jr. prefere os grandes conglomerados, por considerar que o vetor liquidez é fundamental num momento em que a cena externa ainda sugere cuidados - vide a crise das hipotecas americanas, que respingou em instituições financeiras nos Estados Unidos e Europa. "Se houver algum susto, são os menores que sofrem mais", diz. "As empresas, as pessoas, começam a concentrar seus recursos nos maiores bancos e essas instituições, por sua vez, não repassam o dinheiro no interbancário para os bancos de menor porte, empoçando a liquidez." No setor, o especialista prefere Itaúsa, que tem debaixo o Itaú, além do viés industrial em controladas como a Duratex, que se insere na cadeia da construção.

Na seleção feita a dedo na busca das maiores valorizações possíveis por Eduardo Kondo, chefe de análise da Concórdia, Itaúsa PN é a ação que tem o maior potencial de ganhos. Segundo calcula, o valor considerado justo para o papel é de R$ 17,00, mais de 30% superior ao fechamento de quinta-feira.

Mesmo entre as "small caps" (empresas de baixa capitalização), os bancos marcam presença. O Pine está, por exemplo, na lista da Ágora. Os bons números apresentados pela instituição nas demonstrações relativas ao terceiro trimestre e as perspectivas favoráveis para o crescimento do crédito consignado justificam a escolha, diz o chefe de análise da corretora, Marco Melo. "A empresa vem sendo negociada com um preço de 7,7 vezes o lucro, metade da média brasileira e com desconto de 60% em relação aos pares internacionais", diz. "Além disso, o Pine é um ativo estratégico num ambiente de consolidação do setor."

O crédito imobiliário, por sua vez, representa hoje menos de 2% do PIB brasileiro e as projeções dão conta de que alcançará 12% do conjunto das riquezas nacionais em 2012, diz a chefe de análise do Banif Banco de Investimentos, Catarina Pedrosa, citando pesquisa do Bradesco. Apesar de esse canal ser ainda incipiente no país, a queda dos juros empreendida até aqui e o alongamento dos prazos vêm impulsionando as empresas do setor de construção civil. Na sua seleção, Catarina incluiu Rodobens ON - Itaúsa PN também está entre as suas eleitas.

No ramo imobiliário, a Link incluiu as ações ordinárias da São Carlos, uma das principais empresas de investimentos em imóveis comerciais do país e que atua na prestação de serviços de administração, locação e venda. Além de contar com fluxos de caixa estáveis, a companhia ainda pode ganhar com a valorização dos imóveis, a medida que os juros ficam mais baixos, diz Boin Jr. Já Kondo, da Concórdia, escolheu no ramo imobiliário Gafisa ON, aparentemente atrasada em relação às duas dezenas de concorrentes negociadas na bolsa.

Gerdau PN está na lista da Ágora não só pelo apelo da construção e dos investimentos em infra-estrutura como também pela atuação no mercado internacional. "A empresa tem uma gama de encomendas do governo americano e fez operações societárias que ajudaram a reduzir os custos nas plantas dos Estados Unidos", diz Melo.