Título: Empresários e especialistas da Bolívia vêem limite na oferta do insumo
Autor: Uchoa , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Brasil, p. A12

Especialistas em energia e representantes das petroleiras estrangeiras na Bolívia crêem que o aumento da produção de gás natural no país só poderá ser sentida a partir de 2009, caso o aumento de investimentos comece a ser implementado agora. Eles preferem não arriscar estimativas de crescimento da exportação do gás para o Brasil, mas alertam que o aumento da demanda interna cria uma pressão para que o governo garanta o fornecimento doméstico em detrimento das vendas externas.

Youssef Akly, porta-voz da Câmara Boliviana de Hidrocarbonetos (CBH, entidade que representa as petroleiras privadas), crê que os planos de investimentos das empresas devem começar a se refletir em aumento da produção em até dois anos, mas disse ser "complicado determinar" o quanto.

Essa estimativa de aumento de produção apenas em 2009 é compartilhada pelo próprio presidente da YPFB, Guillermo Aruquipa. Questionado sobre a situação de curto prazo, o presidente da estatal boliviana de hidrocarbonetos disse que em 2008 ainda existirão restrições. "Os resultados serão vistos em 2009, quando a produção adicional vai satisfazer a demanda."

E mesmo essa avaliação é vista com ceticismo pelos analistas, que dizem ser ela mais política do que técnica. Antonio Miranda, analista da consultoria americana G & Oil afirma que o otimismo do presidente da estatal se deve à necessidade do governo de dar conta de um problema político urgente: a pressão exercida pelo aumento da demanda interna. "Não vejo um aumento rápido de produção. Por enquanto, o aumento rápido que existe é o de retórica."

Carlos Alberto López, ex-vice-ministro de Energia da Bolívia, diz também que o governo boliviano está pressionado tanto pelo aumento constante da demanda interna quanto pela necessidade de cumprir contratos de fornecimento para o Brasil e a Argentina. "O governo continua insuflando a expectativa dos bolivianos de que vai aumentar a produção, criando a ilusão geral de que o país possui reservas quase inesgotáveis de gás."

Em mais um desdobramento dessa "guerra retórica", o presidente da Bolívia, Evo Morales, acusou na semana passada "petroleiras internacionais" de estarem conspirando contra a democracia do país e financiando a oposição. Ontem, autoridades do governo tiveram de sair a público para dizer que não têm provas da citada conspiração.

Morales não se referia à Petrobras, mas, segundo Antonio Miranda, esse é um exemplo de quão delicada politicamente é a questão para o presidente boliviano. (Com agências internacionais)