Título: País tem feito avanços pequenos no combate à pobreza
Autor: Luanda
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Especial, p. A20

Apesar da falta de pesquisas sistemáticas que forneçam dados precisos, aproximações a partir do crescimento do PIB e da melhoria do emprego feitas pelos responsáveis pela edição do Relatório Econômico de Angola, da Universidade Católica de Angola (Ucan), o mais conceituado levantamento anual feito no país, os ganhos sobre a pobreza e a má qualidade de vida decorrentes do recente "boom" econômico ainda são muito tímidos.

De acordo com o relatório, o total de angolanos vivendo com menos de US$ 2 por dia caiu de 68,1% em 2003 para 60,3% no ano passado. Considerando o aumento populacional no período, apenas pouco mais de 300 mil pessoas transpuseram a linha da pobreza no período, com o total de pobres passando de 9,77 milhões para 9,46 milhões.

A população do país cresce a uma taxa de 2,8% ao ano. Dados de várias fontes compilados pelo relatório indicam que em 2004 a esperança de vida ao nascer em Angola era de 40,7 anos, a taxa de mortalidade infantil, de 154 óbitos por 1.000 nascidos vivos e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de apenas 0,439 (161º lugar no mundo). O Estado gastava no mesmo ano 0,7% do PIB com saúde e 2,3% com educação. Dos adultos, 32,6% eram analfabetos.

O relatório admite haver sinais, como o aumento da produção de alimentos e da construção de escolas, que podem ter melhorado os indicadores de pobreza. Ainda assim, avalia que, por efeito da apreciação do kwanza, o salário médio do país, extrapolado a partir dos ganhos dos servidores públicos, caiu de US$ 123,41 em 2003 para US$ 110,78 em 2006. O documento ressalta que, em 2006, Angola manteve-se entre os países mais corruptos do mundo, ocupando o 151º lugar no Índice de Percepção da Corrupção, que ranqueia do melhor para o pior.

Com uma vida democrática ainda por construir, Angola é terreno propício para o enriquecimento dos mais próximos do poder. Nas ruas, fala-se abertamente da presença de familiares do presidente José Eduardo dos Santos (MPLA) no controle de grandes empresas. Mesmo ressaltando que "a paz foi um ganho fundamental, essencial", Noelma Viegas d'Abreu, diretora do Centro de Estudos e Investigação Científica da Ucan, órgão responsável pela publicação do relatório econômico anual, diz ser necessário "mais boa governança e menos corrupção, além de uma distribuição mais eqüitativa das riquezas e dos ganhos".

A cientista angolana avalia que há "um deslumbramento quanto ao crescimento econômico no país" e critica aqueles que vêem os direitos humanos apenas como uma questão política. "É uma questão de civilização e de respeito entre as pessoas. A pobreza é uma das maiores violações desses direitos", ataca.

Percepção semelhante têm os responsáveis em Angola pela organização não-governamental (ONG) Development Workshop (DW), uma das muitas que lutam em Angola para reduzir a pobreza. A DW possui um bem-sucedido programa de microcrédito e vem buscando formas de reconstituir o sentido comunitário no país, destruído pela guerra. "O teste da paz virá com as eleições legislativas (2008) e presidenciais (2009). As pessoas não querem guerra, mas há uma frustração de ver que após cinco anos (sem guerra), nada mudou para a maioria", resume John Taylor, um dos militantes da DW em Angola