Título: BRA busca US$ 30 milhões para retomar operações
Autor: Campassi , Roberta ; Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Empresas, p. B2

A BRA, companhia aérea que detém cerca de 4,5% do mercado doméstico, suspende a partir de hoje todos os seus vôos por falta de dinheiro para financiá-los. A empresa tenta negociar um aporte de US$ 30 milhões junto aos sete fundos que já são acionistas da empresa como um dos últimos recursos para que consiga retomar as suas operações.

Embora ainda tente viabilizar um aporte de capital, a BRA já colocou seus 1,1 mil funcionários em aviso prévio. Todos deverão ser demitidos caso a companhia permaneça sem caixa para voltar à ativa. A empresa enviou, ontem, comunicado ao mercado afirmando que pediu a "suspensão temporária de todos os seus vôos domésticos e internacionais" à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

"A companhia não tem caixa imediato para abastecer os aviões", afirma Danilo Amaral, atual vice-presidente de relações institucionais da BRA. "Decidimos não queimar mais dinheiro e evitar que a empresa se endivide." As dificuldades financeiras também resultaram no atraso do pagamento dos aluguéis das seis aeronaves que a BRA utiliza.

Na noite de ontem, o ex-presidente e fundador da BRA, Humberto Folegatti, reuniu-se com o presidente da Anac, Allamander Pereira, e o diretor da agência, Marcelo Guaranis, para oficializar o pedido de paralização. A Anac não descarta a possibilidade de cancelar o contrato de concessão da companhia. Mas, caso aceite o pedido de "suspensão temporária", deverá exigir a retomada das operações em trinta dias.

A BRA tenta conseguir um aporte com os fundos que, no início deste ano, compraram uma participação minoritária na companhia aérea por R$ 180 milhões. São eles o brasileiro Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, e os estrangeiros Darby, Millenium, HBK, Development Capital, Goldman Sachs, e Bank of America.

As negociações para obtenção dos US$ 30 milhões junto aos sócios se intensificaram nas últimas três semanas e têm ocorrido "dia e noite", segundo Amaral. "Não sei dizer quais são as chances de conseguirmos, mas a administração não está medindo esforços." Tudo indica que a BRA terá dificuldades para convencer os acionistas. Desde que ele fizeram o primeiro aporte na companhia, ela não registrou nenhum crescimento significativo em participação de mercado e, operacionalmente, não alcançou o equilíbrio financeiro.

Segundo Amaral, a BRA possui uma "dívida grande, mas administrável". Ele não revela os valores. Por enquanto, a companhia descarta entrar com pedido de recuperação judicial.

Desde que teve início, a relação dos investidores estrangeiros com a família Folegatti, principal acionista da BRA, foi conflituosa. Um dos principais motivos da disputa era a concentração das decisões administrativas por Humberto Folegatti. Após meses de pressão, o fundador da BRA deixou, na semana passada, a presidência da companhia e a presidência do seu conselho. Um novo presidente ainda não foi escolhido, mas um dos nomes cotados é o de Amaral. Foi ele o responsável por coordenar a entrada dos fundos na BRA quando ainda trabalhava no escritório de advocacia Mattos Filho. Há cerca de quatro meses, assumiu a vice-presidência da companhia aérea, já com o objetivo de harmonizar as relações entre os sócios.

A Anac já contatou as principais companhias aéreas do país para que elas transportem os passageiros que compraram bilhetes da BRA. Segundo a agência, todas as rotas da empresa são atendidas por alguma outra concorrente. O problema é que a BRA não faz parte da chamada "câmara de compensação", instrumento por meio do qual as companhias aéreas fazem o acerto de créditos e débitos. Ontem, a TAM informou que não aceitará passagens da BRA. (Com agência O Globo)