Título: Para pequenas, custo de energia é crucial
Autor: Rosa , João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Empresas, p. B4

As pequenas empresas brasileiras estão mais preocupadas que a de outros países com os gastos na área de energia e, particularmente, com o papel que a área de tecnologia da informação tem ocupado nessas despesas. É isso o que mostra uma pesquisa inédita feita pela IBM com 1.373 companhias de oito países, entre os dias 12 e 19 de outubro.

Segundo o levantamento, cujos resultados serão divulgados hoje, para a maioria das empresas brasileiras (69%) os gastos com energia (eletricidade, combustíveis etc) representaram o maior aumento de custo nos últimos dois anos. É um número muito superior ao da média geral da pesquisa (44%). Nos Estados Unidos, por exemplo, os custos de energia ficaram com 38% das respostas, junto com os planos de saúde e seguidos de perto pela folha de pagamento (37%).

A associação das despesas de energia com o uso da tecnologia da informação (TI) também é muito mais clara no Brasil. Por aqui, 32% das 130 empresas ouvidas disseram que mais da metade de suas despesas com energia estão relacionadas ao funcionamento dos equipamentos de TI. Na média geral, só 7% disseram o mesmo. A maior parte (33%) afirmou não saber estabelecer essa correlação, enquanto 22% apontaram uma associação mínima, entre 0% e 5% dos gastos.

Uma série de motivos pode estar relacionada à percepção dos empresários brasileiros, mais aguda que a da média geral da mostra, diz Luiz Bovi, diretor de pequenas e médias empresas da IBM. "Cada país tem um cenário econômico diferente. No Brasil, tanto o negócio das companhias de pequeno porte como o uso da tecnologia entre elas vêm aumentando. Enquanto automatizam seus negócios, é natural que os empresários sintam um impacto maior dos custos de energia."

A atenção dada pelos empresários brasileiros à área energética também pode ser decorrência do fato de que a informatização das pequenas companhias no país é um processo mais recente que em outros países integrantes da mostra, diz Bovi.

Além de exibir uma preocupação maior, as empresas brasileiras também parecem dispostas a uma ação mais efetiva para reduzir os custos com energia. De acordo com o relatório, enquanto 87% das companhias disseram ter feitos mudanças para economizar ou ter planos de fazê-lo no próximo ano, na média geral só 47% responderam a mesma coisa. A maioria (48%) disse não ter planos de fazer nada até agora.

A questão, diz Bovi, é que apesar de o empresário brasileiro ter consciência de que precisa reduzir o custo de energia a partir das ferramentas de TI, ainda não está claro para ele como fazer isso. A taxa de crescimento da divisão de pequenas empresas da IBM têm avançado a uma velocidade mais rápida que a de outros segmentos no país, mas ainda são poucos os empresários que, na mesa de negociação, pedem especificamente produtos ou sistemas que ajudem a economizar energia. "Esse ainda não é um fator predominante", afirma o executivo.

Criar produtos mais econômicos tornou-se uma vertente importante para muitos fornecedores de TI, diz Bovi, incluindo equipamentos, software e serviços. No campo dos servidores - os computadores que administram os recursos de uma rede - já estão disponíveis equipamentos com o dobro da capacidade dos modelos anteriores, mas com o mesmo consumo de energia, exemplifica o executivo.

Aos poucos, as pequenas empresas também começam a se familiarizar com outros conceitos, como o de consolidação de servidores - a substituição de vários equipamentos de pequeno capacidade por menos máquinas, porém mais potentes - e o de virtualização, que permite a criação, por meio de software, de servidores virtuais que compartilham o mesmo aparelho físico. No Brasil, 62% das empresas disseram que estão avaliando o uso e o desempenho de seus servidores (contra 22% da média total) e tem planos para comprar sistemas de TI mais econômicos (39%, contra 33% da média global).

Entre as mudanças mais visíveis, as empresas brasileiras estão tomando atitudes de impacto imediato, como desligar os equipamentos em horários inativos (59% das respostas) e adquirir tanto sistemas de iluminação como equipamentos de TI mais econômicos (42% e 38%, respectivamente). Parte delas (28%) também está trocando de fornecedor de energia ou renegociando os contratos existentes (28%).

Outras medidas, que exigem planejamento de mais longo prazo, ainda são mais raras. É o caso da adoção de veículos híbridos (13%), a mudança do escritório para um prédio "verde" (10%) ou a instalação de painéis de energia solar no edifício (7%).

Custo não é a única preocupação. Em muitos casos, o cuidado com a conservação da energia tem-se estendido a uma política de proteção ambiental mais ampla. No Brasil, 58% das companhias consultadas disseram já ter uma política ambiental. É diferente do cenário internacional, em que 56% das empresas não tem uma política desse tipo ou responderam não saber.

Três em cada quatro empresas brasileiras disseram estar preocupadas com a preservação ambiental, contra 58% da média geral. No Brasil, 89% das companhias consultadas também disseram que as preocupações com o meio afetam suas decisões de reduzir o uso de energia, muito acima do resultado obtido nos Estados Unidos (38%) e no universo total da pesquisa (47%).