Título: Consumo interno tira aço da exportação
Autor: Ribeiro , Ivo
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Empresas, p. B6

Soares, presidente da Usiminas: "Reduzimos vendas para China e mercados onde a logística se tornou desfavorável" Todos são unânimes: este será o melhor ano de consumo de aço no Brasil. A expectativa é de um crescimento entre 15% e 18% sobre o ano passado. Fabricantes, distribuidores e clientes confirmam que a demanda doméstica está bastante aquecida - bate recordes a cada mês e vem "roubando", seguidamente, fatias dos produtos que tinham como destino o mercado externo.

O desempenho das vendas internas, de janeiro a setembro, retrata bem o cenário do consumo do país. Os despachos no mercado doméstico cresceram 14,7%. Em contrapartida, as exportações baixaram 14,8%. Cerca de 1,2 milhão de toneladas de material deixou de ser embarcado no período ao exterior, realocado para atender a procura de consumidores nacionais, conforme dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).

As projeções apontam que 1,6 milhão de toneladas não chegarão aos portos no ano. Outro tanto deverá vir do aumento de produção das usinas. Com isso, o consumo brasileiro deverá alcançar de 21,5 milhões de toneladas a 22 milhões, um recorde da siderurgia do país. E o país ainda poderá exporta em torno de 10 milhões de toneladas.

O IBS vem revisando suas projeções no decorrer do ano. Em agosto, previa 21,35 milhões de toneladas, 15,2% a mais que em 2006.

A demanda no país vem de quase todos os setores que usam aço, mas principalmente da indústria automotiva, da construção civil, de bens de linha branca, de máquinas pesadas, de equipamentos industriais, de tubos e de implementos agrícolas, disse Rinaldo Campos Soares, presidente do grupo Usiminas, maior fabricante de aços planos do país, e presidente do IBS, entidade do setor. "Se o PIB for de 4,5% a 5%, vamos crescer mais 10%, pelo menos, no próximo ano".

Na Usiminas, por exemplo, a venda no mercado local passou a representar 80% do total comercializado, ante 74% em 2006. A fatia de exportação caiu de 26% para 20%, percentual que a empresa quer manter, se possível. "Reduzimos embarques para China e mercados onde a logística se tornou desfavorável, pois o frete subiu muito", disse o executivo.

Outro fator que pesa contra as exportações é o câmbio. Com o real valorizado frente ao dólar, as fabricantes preferem vender no mercado interno, obtendo melhores margens de ganho. "É uma festa essa combinação de mercado interno superaquecido e preços atrativos", comenta um tarimbado executivo do setor.

Para atender seus clientes, a Usiminas opera à plena capacidade em suas linhas de laminação. A empresa deslocou material semi-acabado (placa) da Cosipa, que era exportado, e faz o acabamento para vender aqui. Cerca de 250 mil toneladas deverão ser desviadas no ano. "Passamos a priorizar EUA, países da América Latina, como Argentina e Chile, e bons contratos para a Europa, como um de fornecimento para a fábrica da Peugeot, na Espanha", informou Soares.

O cliente doméstico tornou-se também a prioridade da CSN, que vai colocar três quartos das vendas no país. "Voltamos a vender mais para o setor automotivo e houve maior demanda da construção civil, que deverá ser mais forte ainda em 2008", afirmou Luiz Fernando Martinez, diretor comercial da siderúrgica. A exportação da CSN, informou, se resume ao envio de material para as controladas Lusosider, de Portugal, e LLC, nos Estados Unidos.

"Já estamos com toda a venda deste ano concretizada, começando as negociações com clientes para 2008", comentou o executivo. No próximo ano, a previsão é de nova alta nas vendas de aços planos no país, de 8% a 10%, com destaque em aço para construção civil (acima de 10%). O material é usado para telhas, fachadas, forros, perfis, estruturas e outras aplicações.

Os executivos do setor asseguram que não vai faltar aço no país, pois há gordura na exportação que pode ser deslocada para a demanda interna, com prioridade de mercados. "É apenas uma questão de planejamento por parte dos clientes; não pode chegar e pedir para entregar em uma semana", lembra Martinez. "De mensais, algumas exportações podem ser feitas a cada dois meses", afirma Renato Vallerini Jr., diretor de exportação do sistema Usiminas. Assim, observa ele, não se deixa de atender mercados que são interessantes ser mantidos.

André Gerdau, presidente da Gerdau, que faz aços longos, informa que o grupo reduziu exportações em favor da demanda doméstica. Nesse tipo de produto, observou-se aumento de pedidos no setor imobiliário, no industrial (estruturas metálicas, implementos agrícolas e máquinas) e no automotivo. Sem dar números, o executivo admite que os embarques podem ser bem inferiores às 2,9 milhões de toneladas de 2006. Se repetir o primeiro semestre (1,1 milhão de toneladas exportadas) de julho a dezembro, serão 700 mil a menos embarcadas neste ano.

"Vamos ter um crescimento de venda no país de 12% a 15% no ano", afirmou André, observando que as margens internas são melhores, mas não se pode abandonar clientes externos com tempo de relacionamento. Por isso, os desvios de material ocorrem em alguns mercados e em alguns segmentos de aplicações. "Em alguns casos, onde há folgas de capacidade na usina, estamos trabalhando com terceiro turno".

Em aços especiais, cujo principal cliente é a indústria automotiva, a Aços Villares deve fechar o ano com 700 mil toneladas de vendas, 100 mil a mais que no ano passado. "Reduzimos as exportações ao mínimo", informou José Joaquín Salazar, presidente da empresa. De 150 mil, os embarques vão cair para 100 mil toneladas.

Segundo Salazar, os pedidos vêm consistentes desde março e a carteira de pedidos, que era de um mês, passou a dois. As vendas para 2008 já estão acontecendo. A demanda forte vem de máquinas agrícolas, ônibus e caminhões.