Título: Preço médio do óleo cresce ano após ano
Autor: Capela , Maurício
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Empresas, p. A8

Recorde. Esta é a palavra que melhor define o atual momento do preço do barril de petróleo no mercado internacional. Se anos atrás, a commodity sofria para ganhar alguns centavos entre uma sessão de negócios e outra, hoje é praticamente improvável que o produto não bata recordes entre um pregão e outro.

Só que a valorização do petróleo no mundo não aconteceu do dia para noite. Segundo levantamento feito pelo Valor Data, com dados de agências internacionais, o preço médio da commodity do tipo WTI negociada na Bolsa Mercantil de Nova York saiu de US$ 41,47 em 2004 para R$ 56,70, em 2005. O ritmo continuou em 2006, alcançando os US$ 66,25. Para alguns analistas, a expectativa é que alcance os US$ 69,80 neste ano.

Mas a tendência de valorização não se restringe ao produto americano. Na Bolsa Internacional do Petróleo de Londres, o preço da commodity do tipo Brent, de acordo com o mesmo levantamento, pulou de US$ 38,04 em 2004 para US$ 66,11, no ano passado. E há quem estime que este petróleo poderá alcançar os US$ 72 de valor médio neste ano.

"Este mercado apresenta a anatomia de uma bolha, provocada, entre outros fatores, pelo excesso de liquidez no mercado internacional", avalia Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. A bolha, no caso, também se apóia na escassez do produto no mundo, já que a oferta e demanda continuam muito próximas, ou seja, em 85 milhões de barris por dia. E estimativas afirmam que a demanda irá superar a oferta no curto prazo.

"Não houve investimentos para aumentar a capacidade de produção no início da década e isso contribui para a alta de hoje", afirma Silveira. E boa parte desse incremento de extração deveria ter sido feita pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que responde hoje por 26% da oferta global.

Já Lucas Brendler, analista de investimento da Geração Futuro Corretora, conta que projeta preço médio para o Brent de US$ 70 para 2008. E, apesar de significar um pequeno acréscimo frente a sua projeção de US$ 69,80 para 2007, Brendler explica que algumas variáveis no longo prazo deverão perder força sobre o mercado. "Não posso imaginar que o conflito entre turcos e curdos iraquianos possa se estender por tanto tempo", avalia. Boa parte das reservas de petróleo no Iraque, que é o terceiro maior país nesse quesito, encontra-se em área curda.

Diante deste cenário não fica difícil entender porque os contratos para dezembro deste ano do WTI foram negociados a US$ 96,70 ontem, com alta de US$ 2,72, estabelecendo um novo recorde de preços. Durante o pregão a cotação foi além dos US$ 97. Em Londres, a commodity também para dezembro foi vendida a US$ 93,26, valorização de US$ 2,77.

Mas as altas cotações de hoje e mesmo o crescimento do valor médio também encontram terreno para a especulação, porque os fundos de investimento resolveram apostar neste mercado. Muitos analistas afirmam que pelo menos 30% do preço atual do petróleo seja fruto de especulação. "Para mim, é próximo desse patamar", diz o sócio-diretor da RC.

O efeito colateral dessa forte presença dos especuladores é que qualquer movimentação pode motivar a venda ou compra de contratos e conseqüentemente inflar ou reduzir o preço. Tanto é assim que analistas calculam que uma redução dos estoques nos Estados Unidos ou um furacão no Golfo do México, onde está concentrada boa parte da capacidade de refino americana, deverá levar o barril para os US$ 100.

"A atual preocupação quanto aos estoques nos EUA e as questões geopolíticas empurram a cotação para cima", afirma John Kilduff, vice-presidente de gerenciamento de risco da MF Global. Hoje, os americanos divulgam o patamar das suas reservas de petróleo na semana passada. Nas últimas duas semanas, os estoques caíram 9,2 milhões de barris. Outro ponto que preocupa é a desvalorização do dólar. Isso, porque com preços altos, a Opep pode compensar a fraqueza atual da moeda americana. (Com agências internacionais)