Título: Eurofarma constrói complexo para ir além dos genéricos
Autor: Vieira , André
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Empresas, p. B12

A Eurofarma está dando um passo além da fabricação de genéricos, a área que impulsionou seu grande crescimento nos últimos anos. A intenção não é abandonar a produção das cópias de medicamentos que perderam a proteção de patentes, mas avançar em segmentos mais complexos da indústria farmacêutica.

A meta é, em um futuro não muito distante, produzir medicamentos inovadores - sejam produtos incrementais ou até radicais. "É um sonho. Hoje, não somos, nem ninguém no Brasil é, uma indústria farmacêutica", afirma o presidente da Eurofarma, Maurízio Billi. Em outras palavras, as empresas nacionais investem muito pouco em pesquisas para descobrir novas drogas.

A Eurofarma nasceu há 35 anos fabricando medicamentos para terceiros - apenas sete anos depois é que começou a fazer remédios próprios. A terceirização continua fazendo parte do foco da empresa. No entanto, como outras companhias de capital nacional, a Eurofarma alavancou seu negócio no início desta década graças às vendas de medicamentos genéricos. A empresa agarrou a oportunidade para apostar em projetos de diversas naturezas.

Na atualidade, a Eurofarma administra 286 projetos. Para chegar na meta sonhada por Maurízio Billi, a empresa decidiu fazer algumas apostas: fechou parcerias com universidades, formou uma joint-venture com um laboratório nacional, começou investimentos em biotecnologia e faz um investimento em um novo complexo industrial.

Maurízio Billi herdou do pai Galliano, fundador da empresa, o rigor na produção fabril, segundo pessoas relacionadas à empresa. Recentemente, o Valor visitou, em companhia do empresário, o complexo industrial de Itapevi, a 40 quilômetros de São Paulo. Numa área de 80 mil metros quadrados, a empresa prevê triplicar sua capacidade de produção, reunindo quatro unidades industriais hoje espalhadas por bairros da capital paulista, além da do Rio de Janeiro.

No topo de uma encosta ao lado da rodovia Castello Branco, a megafábrica desponta: os principais prédios do complexo envidraçados para receberem luz natural já estão erguidos. A linha de produção de medicamentos líquidos, cremes e pomadas funciona desde março - o complexo deve ficar todo pronto em 2009. O investimento é de R$ 260 milhões, dos quais o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberou R$ 35 milhões.

"Poderia fazer o investimento em outro Estado com os incentivos fiscais que foram oferecidos", afirmou Billi, temendo, contudo, que o barato poderia, no futuro, sair caro. Um exemplo: a contratação de novos profissionais, que exigiriam investimentos pesados em treinamento. "No fundo, o que faz a diferença são as pessoas", diz. A expectativa da empresa é que a transferência da produção para Itapevi não provoque perda de empregados por conta da distância do complexo das demais unidades.

Da fábrica de Itapevi, a Eurofarma pretende dar rumo à sua estratégia. Seu plano é ampliar a exportação de medicamentos para a Europa, ingressando via Portugal onde já vende volumes pequenos. A empresa aguarda a certificação da fábrica por parte da autoridade sanitária européia. Isso deve aumentar substancialmente o faturamento, que deve chegar a R$ 900 milhões em 2007, R$ 100 milhões a mais do que o obtido no ano passado.

Em paralelo, a empresa vem tentando construir uma ponte com a área de pesquisas e desenvolvimento junto ao setor acadêmico. Com parcerias com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade do Vale do Itajaí (Univali), a Eurofarma tenta descobrir produtos inovadores - anticorpos monoclonais, analgésicos, antibióticos e antifúngicos. Faz investigações sobre a biodiversidade brasileira para identificar produtos fitoterapêuticos.

Além disso, a empresa constituiu com a Biolab, outro laboratório nacional, a Incrementha PD&I, uma companhia que deve lançar um novo anestésico tópico, já no ano que vem, utilizando nanotecnologia em sua composição. O projeto nasceu de uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com a empresa. Por meio de um acordo de transferência de tecnologia com a americana DevaTal, a Eurofarma entrou na biotecnologia.

Um grupo de cientistas se envolveu no projeto para produzir o filgrastima, um fármaco usado no combate de efeitos colaterais de pacientes com câncer. Essa droga atualmente é toda importada. Os primeiros lotes do medicamento biotecnológico foram obtidos neste ano. A previsão é que o produto da Eurofarma chegue ao mercado daqui a dois anos. Até agora, a empresa investiu R$ 7 milhões na área - a mais lucrativa da indústria farmacêutica mundial.

Consultor do Instituto Uniemp, que promove parcerias entre empresas e universidades, Clóvis Tofik disse que a estratégia de uma empresa de genéricos ir atrás de cérebros da academia é acertada. "Ninguém faz nada sozinho", afirmou Tofik, que é engenheiro químico e especialista na área farmacêutica e química. "A universidade tem seus grupos de competência e a empresa tem recursos financeiros para desenvolver as pesquisas", disse.