Título: Dobra o lucro líquido do Itaú
Autor: Carvalho , Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Finanças, p. C9

Silvio de Carvalho, diretor de controladoria do Itaú: ambiente econômico é favorável à expansão dos negócios, especialmente do financiamento de veículos O Banco Itaú divulgou, ontem, lucro líquido de R$ 2,428 bilhões no terceiro trimestre, acumulando R$ 6,444 bilhões em nove meses, o maior resultado já divulgado por um banco brasileiro nesse período, segundo a consultoria Economatica. O recorde anterior, de R$ 5,817 bilhões do Bradesco, durou um dia.

O lucro do Itaú mais do que dobrou em doze meses, avançando 112,74%. O diretor de controladoria do banco, Silvio de Carvalho, atribuiu o bom resultado ao ambiente favorável à expansão do crédito propiciado pelo crescimento de cerca de 5% do Produto Interno Bruto e pelo controle da inflação.

Mas também admitiu que foi muito favorecido por fatores não recorrentes, como aconteceu em menor escala com o Bradesco. Só a venda de 8,7% do capital total da Redecard causou um impacto líquido positivo de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre. Anteriormente no ano, o banco lucrou com a venda de participação na Serasa. E antecipa que o quatro trimestre será favorecido pela venda de parte de sua participação na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que resultou em um ganho bruto de R$ 239 milhões. O banco ainda ficou com 4% do capital da Bovespa, avaliado em R$ 653 milhões após a abertura de capital.

Descontados os ganhos não recorrentes, o lucro líquido do Itaú foi de R$ 1,569 bilhão no terceiro trimestre, inferior ao R$ 1,919 bilhão do segundo trimestre, acumulando R$ 5,389 bilhões em nove meses, crescendo 17,9% em doze meses em comparação com os R$ 4,568 bilhões também recorrentes registrados de janeiro a setembro de 2006.

O terceiro trimestre foi afetado por uma perda bruta de R$ 64 milhões na tesouraria, causada pela volatilidade dos mercados. Em igual período do ano anterior o banco tinha obtido um lucro de R$ 147 milhões na tesouraria. Por outro lado, o banco ganhou no mesmo trimestre R$ 253 milhões com câmbio proveniente de investimentos no exterior.

Para alguns analistas como Carlos Macedo, da corretora Unibanco, esse tipo de perda é "totalmente não recorrente" na medida em que é impossível prever o comportamento dos trimestres seguintes. Para ele, os investidores "devem esquecer as perdas com trading" porque já influíram nas cotações. "Mais importante é olhar para o futuro", ressaltou, acrescentando que a expansão do crédito superou as expectativas; a inadimplência melhorou e a receita com tarifas desapontou, mas foi compensada por uma redução nas despesas.

Ao recomendar a compra das ações do Itaú, afirmou que os resultados foram sólidos, embora não tão bons quanto os do Bradesco. As preferenciais do Itaú subiram 1,74% para R$ 47,16, ontem, dia em que o índice Bovespa teve alta de 2,45%. As preferenciais do Bradesco avançaram 2,63% para R$ 57,28, recuperando a queda de 2,32% do dia anterior.

A carteira total de crédito do Itaú, incluindo garantias, acompanhou a tendência do mercado e mostrou um crescimento de 26,93% em doze meses, chegando a R$ 114,071 bilhões em setembro. Mais expressiva foi a expansão das operações com pessoas físicas, que aumentaram 31% para R$ 49,174 bilhões, com destaque para algumas linhas como o financiamento de veículos, que saltou 62,11% sobre setembro de 2006 para R$ 25,558 bilhões em setembro passado, volume que leva o banco a informar deter uma participação de 24,6% do mercado. Carvalho explicou que esse negócio é sustentado principalmente pelo acordo que o banco tem com a Fiat, desde 2002, quando comprou as operações do Banco Fiat e ganhou exclusividade no financiamento das vendas promocionais. Agora, o banco avalia a entrada no crédito para motocicletas, disse.

Outro destaque foi o crescimento do crédito para pequenas e médias empresas que foi de 26,40% em doze meses para R$ 19,633 bilhões, carteira favorecida pela aquisição, em 2006, do BankBoston, totalmente incorporado em junho deste ano.

O Itaú também está interessado na expansão do crédito imobiliário, cuja carteira atingiu R$ 2,463 bilhões em setembro, praticamente estável porque algumas operações grandes foram amortizadas, segundo Carvalho, que prevê uma expansão de 30% no próximo ano.

O executivo também prevê que o Itaú vai fechar o ano com um aumento de 25% a 30% neste ano, acima dos 20% a 25% esperados inicialmente. Para o próximo ano, a previsão é de um crescimento de 25%, puxado pelas operações com pessoas físicas e especialmente pelos veículos, com 40%. O executivo não descarta mesmo que a carteira de pessoa física supere a de empresas. Atualmente, elas praticamente se equivalem.

Os analistas Ariadne Arnosti e Ildo de Oliveira, do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (INEPAD) destacaram que, se forem excluídas as operações de garantia, a carteira de pessoa física já representa 53% do total. Ariadne e Oliveira também ressaltaram a qualidade da carteira de crédito do Itaú, com 90% dos empréstimos concentrados numa faixa de atrasos até 60 dias, o que representa um risco baixo assumido pelos bancos.