Título: Tarifa de Angra 3 será menor que o previsto
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 07/11/2007, Brasil, p. A5

A tarifa da energia a ser produzida na usina de Angra 3 poderá ficar abaixo das primeiras estimativas do governo. A renegociação de contratos - como o das obras civis, firmado nos anos 80 com a Andrade Gutierrez - e novas cotações de equipamentos devem garantir preço inferior a R$ 138,14 por megawatt-hora (MWh), segundo o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves. Esse preço serviu de referência, desde o início de 2006, para o governo avaliar a viabilidade econômica de retomar a construção do novo reator.

"A revisão dos contratos vai permitir uma queda da tarifa", garantiu ao Valor o presidente da CNEN, sem antecipar o tamanho da redução. O Ministério de Minas e Energia contratou a empresa suíça Colenco para coordenar a reavaliação geral dos custos da usina, conforme determinação feita na reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que aprovou a conclusão de Angra 3, em junho.

O processo de licenciamento ambiental está em curso e Dias não prevê grandes complicações para a retomada das obras em 2008. Ele afirmou que, se houver uma decisão, ainda no ano que vem, do local de construção da quarta usina nuclear brasileira, será possível fazer com que ela entre em operação em 2018. "O tempo médio de construção, desde o início do planejamento, é de dez anos", disse o presidente da comissão.

O CNPE já autorizou a Eletronuclear a contratar estudos para definição de novo sítio para um quarto reator até 2020. Dias observou que ele deverá ser erguido no Nordeste, com potência de 1.000 megawatts. É provável que se localize na bacia do rio São Francisco.

O presidente da CNEN revelou ainda que a comissão está propondo ao governo a criação de uma estatal para cuidar do lixo radioativo gerado pelas usinas nucleares: a Empresa Brasileira de Rejeitos. Se a idéia for levada adiante, explicou Dias, a empresa será auto-suficiente em recursos financeiros, porque cobrará pela responsabilidade de cuidar dos rejeitos. O pagamento deverá ser feito pela Eletronuclear.

Esse sistema de financiamento da futura estatal permitirá abrir processo de concorrência com municípios dispostos a abrigar um depósito intermediário de resíduos de alta radiatividade. "Há vários Estados interessados", afirmou Dias. "Hoje é pouco atraente abrigar um depósito, porque os pagamentos são muito baixos", disse. "A idéia, no futuro, é termos um depósito localizado num lugar em que não haja concentração populacional." Por enquanto, esses rejeitos - basicamente, os restos do urânio enriquecido usado na geração de energia - são armazenados provisoriamente nas piscinas interiores de Angra 1 e 2.