Título: Consumo freia e Fed alerta para desaceleração nos EUA
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Fonte: Valor Econômico, 09/11/2007, Internacional, p. A13

O presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Ben Bernanke, disse que a economia americana deve passar por uma desaceleração expressiva nos próximos meses, com risco de alta da inflação. Dados divulgados ontem já apontam crescimento menor. O consumo no país está crescendo menos - 7 em cada 10 varejistas relataram vendas abaixo das previsões, segundo a Retail Metrics.

"No geral, o Comitê [de Mercado Aberto do Fed, equivalente ao Copom no Brasil] espera que o crescimento da atividade econômica tenha uma desaceleração expressiva no quarto trimestre", disse Bernanke ao Congresso americano. "O crescimento deve ser lento na primeira parte do ano, e ganhar força conforme os efeitos do aperto no crédito e da correção no mercado imobiliário forem se disipando."

Além disso, a queda do dólar e a alta do petróleo são um risco para inflação nos EUA, disse Bernanke. Ele indicou assim que não deve haver novos cortes no juros no país.

As vendas no varejo americano em outubro cresceram 1,6%, o pior resultado para outubro desde o crescimento de 0,2% em 1995, disse o Conselho Internacional de Shopping Centers (ICSC, na sigla em inglês). O resultado, baseado em pesquisa com 42 redes, ficou aquém dos 2% previstos pelo ICSC e sugerem um desaquecimento de gastos nas festas de fim de ano.

As vendas na Wal-Mart, Macy´s e outras grandes varejistas ficaram aquém das estimativas de analistas depois que temperaturas altas reduziram a demanda por agasalhos e blusas de frio.

Uma queda de 4,2% no preço de moradias em setembro e a alta do preço da gasolina, que está 33% mais cara que um ano atrás, impactaram os consumidores. Teme-se que o continue enfraquecendo à medida que se aproxima a temporada de festas de fim de ano. "O Natal será bom, mas não espetacular. As pessoas não vão se atirar às compras", diz Eric Beder, analista de varejo na Brean Murray Carret.

Cerca de 30% dos lucros anuais das varejistas acontecem nos três meses até janeiro, segundo Michael Niemira, economista-chefe do CISC. O Conselho previu que em novembro e dezembro as vendas crescerão 2,5%, menor taxa em três anos. A Federação Nacional Varejista (NRF, na sigla em inglês) prevê o menor crescimento em cinco anos das vendas de final de ano.

"Os consumidores estão esfriando, mostrando mais cautela em suas compras, e as varejistas terão de fazer promoções", diz Lauri Brunner, analista do setor varejista na Thrivent Investment Management, em Minneapolis, que administra US$ 70,6 bilhões em ativos. "As promoções estão começando cada vez mais cedo."

As comparações de vendas envolvendo "mesmas lojas" são consideradas uma medida crucial do desempenho varejista, pois exclui operações recentemente abertas ou encerradas. A maioria dos varejistas anunciou resultados fracos.

O Goldman Sachs informou que seu índice de vendas - que monitora cerca de 25 varejistas - subiu 1,2% em outubro, aquém da estimativa de crescimento de 1,6%.

"Se alguém tem um orçamento limitado, não vai comprar supérfluos", diz Marshal Cohen, analista-chefe do NPD. Oferecer descontos é "a única maneira de incentivar o consumidor a gastar mais".

A confiança do consumidor caiu, no mês passado, para seu mais baixo nível em dois anos, segundo o Conference Board.

No dia 31 de outubro, o Fed reduziu sua taxa de juros em 0,25 ponto percentual, para 4,5% ao ano - depois de um corte de 0,5 ponto percentual feito em setembro. Na nota divulgada após a reunião de política monetária no mês passado, o banco informou que o crescimento econômico iria perder força no curto prazo devido ao ajuste em curso no mercado imobiliário do país.

A economia americana cresceu 3,9% (dado anualizado) no terceiro trimestre, segundo dados preliminares. O resultado foi o maior desde o primeiro trimestre do ano passado (quando a expansão foi de 4,8%). O Fed destacou o bom desempenho no período, mas não espera que ele se repita tão cedo.