Título: Euro, por que tê-lo?
Autor: Luciana Monteiro e Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 09/11/2007, EU & Investimento, p. D1

Com o euro cada vez mais valorizado ante o dólar, muitos se perguntam se este momento não seria interessante para aplicar, pelo menos um pouco, na moeda comum européia e tentar lucrar com uma possível continuidade dessa alta. Ontem, o euro fechou numa nova marca histórica em relação ao dólar, a US$ 1,4677, com ganhos acumulados de 23,87% desde 2006. Mas será que o investimento na divisa européia vale a pena?

O euro tem apresentado forte valorização perante o dólar porque os EUA vivem uma situação complicada economicamente. Os déficits fiscal e comercial americanos têm afastado os investidores de ativos referenciados na moeda americana. O dinheiro vem sendo transferido para outras regiões, fazendo o dólar se desvalorizar, explica Fabio Colombo, administrador de investimentos. No entanto, em relação ao real, o euro também apresenta desvalorização recentemente, caindo 8,98% neste ano.

Para quem acredita ser interessante diversificar investimentos em outras moedas, a recomendação é realmente escolher o euro, já que a moeda americana vem perdendo terreno para outras divisas há algum tempo, avalia Rogerio Betti, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. O resto do mundo tem apresentado crescimento superior ao dos EUA, diz Walter Maciel Neto, sócio da gestora independente Quest Investimentos. Isso faz com que investidores, como o governo chinês, transfiram recursos de títulos americanos para a Europa, valorizando a moeda do velho mundo ante o dólar.

Mas aplicar em qualquer moeda estrangeira atualmente pode parecer uma insanidade para os brasileiros, pois o dólar já caiu 25,03% desde o início de 2006 e o euro, apesar da valorização lá fora, também não escapou da queda. Mesmo com esse histórico, seria prudente diversificar com uma parcela de cerca de 10% em moedas estrangeiras - o euro, principalmente -, como forma de se defender contra turbulências inesperadas, diz Colombo. "Numa eventual crise externa, o câmbio vai ser o primeiro a subir, mas, no curto prazo, é mesmo difícil prever algo assim e convencer o investidor dessa estratégia."

Só que se defender de eventuais crises aplicando em câmbio, seja em qual for a moeda, pode ser muito caro, diz Renato Ramos, diretor de renda fixa do HSBC Investments. "Se a valorização do real persistir, o aplicador perderá dinheiro", diz ele. Com relação ao euro, Maciel, da Quest, diz que a Europa atualmente é um dos principais focos de preocupação da gestora, pois haveria indícios de excessos na distribuição de créditos para o setor imobiliário na região, como ocorreu no mercado americano. "A crise nos EUA já é conhecida e está no preço dos ativos, mas a Europa pode ainda surpreender", diz o executivo.

Para Aguinaldo Fonseca , diretor de fundos de renda fixa do Itaú, mesmo àqueles que planejam despesas no curto prazo em euro, poder ser mais interessante manter o dinheiro aplicado em outros ativos. "É só recomendável para quem quer fazer um curso no exterior ou comprar algo fora e não quer correr absolutamente nenhum risco cambial." A tendência é o real seguir valorizando, diz Fonseca. Maciel, da Quest, explica que a provável concessão da classificação do grau de investimento ao Brasil no próximo ano deverá trazer mais dólares no país e, portanto, mais pressão de alta para o real.

Como forma de investimento financeiro com o intuito de aumentar o patrimônio, os especialistas definitivamente não vêem tanto brilho no euro. A visão é de que as aplicações realizadas em juros no mercado brasileiro são muito mais atrativas. "O Brasil apresenta hoje muito mais prêmio do que uma aplicação em euro", diz Betti, da Beta. "Dificilmente o investidor conseguiria, por exemplo, obter um retorno de 11,25% ao ano, que é o juro brasileiro, comprando o euro."

Os números mostram que o investidor e as próprias gestoras de recursos têm deixado esse tipo de aplicação de lado. Segundo dados do site financeiro Fortuna, há apenas seis fundos cambiais atrelados ao euro voltados para a pessoa física atualmente. O patrimônio dessas carteiras juntas é de modestos R$ 50,137 milhões. No mês, até o dia 6, o ganho médio dessas aplicações é de 0,51% e, no ano, as perdas médias são de 4,86%.

Os fundos cambiais em geral - que aplicam segundo a variação do dólar - também definharam nos últimos meses. Nunca houve tão pouco dinheiro aplicado em carteiras atreladas a moedas estrangeiras, desde que elas foram criados. Segundo dados do site Fortuna, os portfólio que já chegaram a reunir R$ 8,6 bilhões, atualmente têm menos de R$ 700 milhões. O fim da emissão de títulos cambiais pelo Tesouro Nacional, com resgates líquidos de dívida referenciada em dólar, também favoreceu essa tendência.